quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Reviravolta - Parte 6

Intemperança

Essa voz... essa voz tão conhecida, e que me trouxe tanta insegurança. Virei lentamente e lá estava ele, parado ao pé da porta da sala onde eu ficava quando que tinha que bater as últimas emendas....
- E te digo mais, você ficado cada vez mais bonita , completou.
- Obrigada, Giovanni ! Tudo bem com você ?, perguntei ríspida.
- Sim, um pouco cansado – disse pensativo com olhar perdido em um quadro que estava atrás de mim. De forma bem imprevisível, ele me encarou e foi direto ao assunto:
- Você está namorando? Percebi que você mudou o seu status.
Não sabia o que falar. Primeiro pensei em responder: "O que você tem a ver com isso? Quando te quis, você correu atrás daquela... daquela vaca! Agora que estou bem, com que direito você tem em tirar a minha paz?". Mas tudo que respondi foi:
- Sim. Sim, estou. E como você tem andando com a Berenice? – tentando disfarçar a raiva na voz.
- Estamos bem. Ela é muito boa.
Fique pensando: "Eu imagino em que...".
- Bem, não quero mais atrapalhar você. Aliás, parte do seu serviço fará que nós possamos sair mais cedo, não?
Quando ele disse, a minha primeira reação era xingá-lo. Mas que adiantava? É lógico que ele queria me provocar. E se eu respondesse, primeiro, com certeza perderia um dos meus frilas. Segundo, quem foi o estúpido da história foi ele e terceiro...bem, deixa pra lá.
A única coisa que respondi foi:
- É verdade. Vou continuar ...
- Bem, até logo.
- Mande lembranças à Berenice, disse em tom irônico.
- Mandarei.
E assim ele fechou a porta. Ainda tremia de raiva por dentro. Afinal, o conteúdo daquela conversa deixou-me tão irritada que tive que buscar um chá. Voltei, respirei fundo e retornei ao meu trabalho.
Soube na mesma semana, que Giovanni tinha ido visitar a irmã na Dinamarca. Mas não sei se tinha levado Berenice junto. Provavelmente, sim. Mas no fundo, no fundo... o que me importava?
Na semana seguinte, Eduardo veio me buscar no mesmo horário como de costume. Fomos em um restaurante italiano, no Bexiga, e conversamos por horas, tudo acompanhado por um bom vinho.
De repente:
- Posso te perguntar uma coisa?
- Lógico.
- Tenho uma reportagem para realizar e gostaria que você fosse comigo. Você topa?
Antes que perguntasse alguma coisa, ele completou:
- É bem longe...
- Longe ? Como assim?, perguntei.
- Hum...é em outro país.
- Caramba! Qual?
- Adivinha, desafiou sorrindo.
- Sei lá. Argentina?
Ele só balançou a cabeça negando.
- É mais longe?
- É, respondeu dando aquele sorriso como tivesse aprontando algo.
- Estados Unidos?
- Hum...passou longe.
- Poxa. Algum país da Europa?
- Ih, tá morno ainda...
- Fala logo, Du!
Ele riu e disse:
- Sabe que é? Fui escolhido para fazer uma reportagem sobre as indústrias automobilísticas japonesas que estão tendo lucros absurdos. E lógico, se são indústrias japonesas...
- Então é no Japão?, falei rapidamente nem deixando que ele completasse o resto da frase.
- Muito bem, garota, acertou!, respondeu sorrindo enquanto levava a taça de vinho à boca.
- Topo! Quando?
- Olha acho que daqui a um mês no máximo, é que preciso acertar os detalhes dos passaportes, os contatos. Bem, eles adoram marcar tudo com muito antecedência.
- Oba, Japão!!!, gritei feliz.
Na segunda, conversei com a Patrícia, a editora-chefe da revista de cultura, que trabalhava como freelancer fixa.
- Caramba, Cathe! Será que dá para fazer alguma matéria lá? Mas você não vai demorar, né?
- Não. Acho que no máximo será uns 15 dias a um mês. Nossa, Patrícia, se ficar complicado...
- Hum..- pensativa, ela continuou- dá para esperar.
- Por que, Patrícia?
- Gostaria que você assumisse o cargo de editora assistente. Assim a prepararia por uns 2 meses, aí eu tiraria as minhas férias merecidas.
Pronto, vou sofrer um enfarte, pensei. Não sabia se pulava, gritava ou a abraçava.
- Patrícia, que maravilhoso!!! Você está falando sério?
- Então faremos o seguinte, sabe aquela matéria de cosplayers que tanto você queria fazer? Pois então, você começa a realizar aqui em São Paulo e faz um comparativo como o pessoal de Tóquio. E assim que você terminar a reportagem, aí você assume o seu novo cargo. Topa?
- Claro!! Poxa, obrigada, Patrícia, disse superfeliz e no fim me vi a abrançando e ela soltou uma boa risada.
Mas, aí me lembrei que se quando eu voltasse, estaria em um cargo de editora assistente, isso incluía pedir afastamento do meu outro frila, a da editora das revistas de farmácia e medicina. Incluía também ficar longe dos fechamentos e o bom trabalho com a Marta.  Mas tinha um lado muito bom, ficar definitivamente longe de Giovanni. E assim o fiz. Expliquei os motivos e Marta entendeu. Apesar disso, mais tarde iríamos ter um contato além do profissional, tornaríamos amigas.
Depois de um mês, malas prontas, passaporte em dia. Lá estávamos no voo, rumo a Tóquio, Japão.

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