sábado, 2 de maio de 2020

O Mar & os Selkies- Capítulo 4 - Volume IV - Hakushaku to Yousei Light Novel

Nota de apresentação 
Olá! Como você está? Acredito (e espero) que você esteja em quarentena para barrar a proliferação da COVID-19. Procure se distrair, respire e siga em frente. Espero sinceramente que parte dessa história que chega na plataforma possa te reconfortar.  
#secuide e, se puder, #fiqueemcasa 

Lydia mal conseguia dormir e ficou acordada, esperando o dia amanhecer. Mesmo que Teresa tenha adormecido, parecia que o corpo não era capaz de voltar ao controle de Lydia até o Sol nascer.  

O céu nublado que pairava acima deles não era capaz de deixá-los sentir como se estivesse para amanhecer, porém, em meio à luz fraca do Sol, Lydia finalmente se sentiu liberada do cordão de Teresa, o que a fez se levantar da cama e rapidamente mudar de roupa. Ela teve o pensamento atordoado.  

Edgar é realmente um verdadeiro e genuíno galanteador. Ela deveria saber disso, mas, no momento em que se lembrou testemunhar como ele usava suas técnicas e charme para conquistar Teresa, ficou deprimida. Ao mesmo tempo, se sentiu furiosa. Ela nunca se casará com esse tipo de homem. Deixou isso claro para si mesma mais uma vez. Mas outra coisa que ficou evidente, foi que Edgar ainda estava se segurando e indo devagar com Lydia.
  
Se ele quisesse ter Lydia, não importa como, na realidade, isso significaria que seria fácil para realizar isso. Ele estava pensando que poderia garantir o noivado e levá-la a casar a qualquer momento que quisesse e assim se divertia enquanto brincava de flertar com Lydia. Ela não iria perder.  

Lydia levantou a cabeça e apurou os ouvidos, podia ouvir o som uivante dos fortes ventos que estavam sendo soprados pelo mar. Em compensação, dentro de casa, estava muito quieto. Embora tenha ocorrido aquele incidente na noite passada, não houve barulho dos criados fazendo comoção.  

― Talvez a polícia ainda não tenha chegado. 

― Parece que eles não podem vir.  

Quem falou foi Nico, que apareceu de fora do dormitório.  

― Nico! Você veio! 

― Vim, mas estou me escondendo porque não quero que a garota fantasma que está em você me persiga.  

Lydia se ajoelhou para se aproximar à altura dos olhos de Nico, enquanto ele se levantava para olhar no rosto de sua querida amiga e relaxou aliviado.  

― Parece que as coisas ficaram fora de controle. 

― Bem, vamos conseguir de algum jeito.  

Como faria com uma criança pequena, Nico deu um tapinha na cabeça de Lydia com uma das patas dianteiras.  

Nico tinha sido o parceiro de sua mãe, provavelmente, era muito, muito mais velho do que Lydia. A seus olhos, Lydia ainda devia parecer uma criança pequena. Ele agia apenas por capricho e era egocêntrico, desaparecendo quando aparecia o perigo e ela podia bater nele todos os dias por ser um gato feericamente tão pouco confiável, mesmo assim, ainda era seu melhor amigo e dependia dele. Ao contrário de um gato comum, ele não a deixou tocá-lo tanto, mas Lydia amava a parte peluda e macia de Nico.  

― Mas, o que você quer dizer com a polícia não vir? 

― Como as marés estão tão violentas, disseram que seria muito perigoso se as ondas subissem, mesmo que ficassem em marés baixas e o caminho estivesse aberto. Logo, é claro que eles não podem usar barcos e não podemos enviar mensageiros. 
No momento em que ela foi até a janela para olhar para mar, viu as ondas brancas nas pedras, rolando e torcendo violentamente. Entre as ondas, Lydia pensou ter visto alguma criatura negra levantar a cabeça acima da superfície e forçou os olhos.  

― Uma foca...? Poderia ser um selkie... 

― Ah, quem trabalha para o Príncipe pode ter capturado alguns selkies e os usou para agir segundo a vontade dele. Ouvi o que está acontecendo com o conde, mas, nesse caso, essas ondas podem ser porque os selkies estão agitando o oceano. Tudo isso está de bom tamanho.  

― Tempo? 

― A menos que as ondas não se acalmem, não há como alguém sair daqui. É como se estivéssemos praticamente abandonados aqui junto com o autor do feito da noite passada.  

Ele estava certo, se não pudessem entrar em contato com o continente, logo, essa situação seria perfeita para o responsável. Então, Ulisses pode ter controlado os selkies e os ordenou fazerem isso.  

― Mas, não consigo entender uma coisa, se ele tivesse feito algo tão horrível, como matar um selkie, teria enfrentado uma rebelião. Porque a força deles como um grupo é imensamente forte. Por isso, me pergunto, Ulisses está bem.  

Nico ficou de pé nas patas traseiras e cruzou os braços enquanto pensava.  

― Ele deve ter elaborado algo para que isso não acontecesse. Quem tenta usar fadas precisa saber bastante sobre elas.  

― Você está dizendo que ele sabe como escapar de uma rebelião? 

― Como se ele tivesse feito algo para ganhar a gratidão dos selkies no passado. Quando os selkies chegam ao fim de sua longa vida útil, você ouviu que eles confiam seus corações a um humano em que acreditam. É a prova de sua amizade duradoura. A maioria deles não é capaz de prejudicar um humano que tem isso.  

Selkies são fadas muito próximas aos humanos. O alimento espiritual deles é a comunicação com os seres humanos e sentem felicidade quanto mais são capazes de manter um bom relacionamento com eles. Especialmente, os sentimentos de amor de um humano que detém o coração de um selkie traz paz e prosperidade, e é por isso que os selkies protegem a segurança das pessoas cujas vidas são sustentadas pelo mar.  

Embora não fosse tão comum que os selkies confiassem seus corações, não entregaram com qualquer tipo de gratidão que sentissem. O humano que obteve o seu coração teria o poder de controlar o destino do selkie, de modo que seria restrito apenas àqueles em quem se pudesse confiar de geração em geração. 

― Mas, um humano que receberia algo assim, não tentaria usar os selkies 

― Bem, também existe o caso da pessoa em questão não ter recebido. 

― ...Você está me dizendo que ele poderia ter conseguido de outra maneira? 

Portanto, pode ser que esse alguém não era legítimo proprietário. Se no caso de quem entregasse o coração tivesse propósitos malignos, isso causaria dor às almas do clã selkie, e eles seriam envenenados pela ansiedade de não serem curados.  

Ela queria fazer alguma coisa, mas não saiba quem era Ulisses, e poderia ser quem tem o “coração”. 

― De qualquer forma, tenho que me concentrar nos seus casacos e não no coração. Provavelmente, seria difícil tentar transportar uma grande quantidade de uma vez só, logo, acredito que os casacos estariam escondidos em algum lugar nesta propriedade. Nico, você não seria considerado suspeito, não importa em que quarto esteja.  

― Você está me dizendo que tenho que procurá-los? 

― É claro que vou procurá-los também, mas tenho que fingir que sou Teresa durante o dia e não teria liberdade à noite.  

Nico chiou com a língua, mas ficou de quatro às pressas quando houve uma batida na porta. Quem entrou na sala foi Suzy, a empregada.  

― Bom dia, senhorita Carlton.  

Ela abaixou a cabeça e depois notou Nico.  

― Oh, meu Deus! Um gato! Sinto muito, alguém deve ter deixado entrar.  

― Oh, está tudo bem. Amo gatos de qualquer maneira.  

Nico agiu como um gato para que não fosse jogado fora e, propositalmente, foi até Lydia e se esfregou na perna dela.  

― Oh, sim. Hum, para dizer a verdade, ontem à noite, algo terrível aconteceu... 

― Sim, eu sei. Estava possuída por Teresa, mas ainda estava consciente.  

― Oh, Deus, miss Carlton, você também testemunhou essa visão.  

Quando ela assentiu, a criada fez o sinal de cruz no peito.  

― Mesmo assim, gostaria de pedir a você não avisar a dona da casa sobre isso. O jovem lord Oscar também se certificou de que os servos também não deixassem isso escapar.  

― Compreendo.  

De fato, isso pode ser demais à instável senhora Collins. 

― E mais uma coisa, fui confiada a isso pelo lord visconde Middleworth. Ele pediu que desse isso à miss Carlton quando acordasse.  

Suzy lhe entregou uma carta. Quando ela abriu, se tornou em uma carta de amor jocosa que começou com um doce “Para minha querida” e continuou dizendo sobre como era um encontro predestinado e um amor como aquele nunca acontecerá da mesma maneira. É claro que ele deve ter escrito para que fosse uma carta floreada para Teresa, porém devia saber de que Lydia iria lê-la.  

Parecia que a única coisa que ele queria que ela soubesse eram as últimas linhas no final da carta. [Se possível, eu gostaria que nosso namoro fosse oficialmente reconhecido pela senhora Collins o mais rápido possível. Vou fazer uma visita ao seu quarto pela manhã, quando terminar o café da manhã. Pretendo obter o reconhecimento oficial dela com nosso namoro].  

Como houve aquele tipo de incidente na noite passada, Edgar estava tentando categorizar rapidamente aqueles em que ele podia confiar e os que são suspeitos. Lydia como Teresa não pouparia tempo para escolher Edgar. E se a senhora Collins soubesse disso, seria capaz de manter os outros pretendentes afastados. Assim, ele seria capaz de manter Lydia a uma distância suficientemente próxima, onde pudesse vê-la sempre.  

Enquanto eles ficarem confinados na casa, junto com o responsável, por causa do tempo, logo isso significava que não poderiam ficar sentados parados e esperar em silêncio pela próxima jogada do inimigo. No entanto, mesmo que ela fosse capaz de adivinhar a intenção de Edgar, ainda era uma carta tão embaraçosa que não podia deixar que ninguém lesse.  

Ela escondeu-a rapidamente de Nico, que tentou espiar para ler. E o mais importante, o pensamento daquele “enorme mentiroso” girava dentro da cabeça de Lydia. “Como ele ousa falar sobre um namoro oficial? É um grande erro pensar em alguém se apaixonaria facilmente por ele”. Ela pensou, perdendo a coerência.  

Edgar estava apenas tentando garantir a segurança do lugar, seduzindo e conquistando Teresa e, além disso, tentando manter Lydia por perto o suficiente para pude ficar de olho nela. Em outras palavras, essa era uma estratégia e não um problema em se apaixonar ou não.  

Ela sabia disso, e ainda assim, duvidava dos seus nervos após que ele foi longe e seduziu Teresa na noite passada, agora estava lançando frases delicadas para Lydia esta manhã.  

― O visconde deve ser bem conhecido da senhorita Carlton.  

― Hein? Oh... Eu acho. 

Lydia, de alguma maneira, conseguiu mostrar à Suzy um sorriso contorcido.  

― Disseram-me que você era uma pessoa muito importante, então, por favor, cuide dela. Pensei que o lord era uma pessoa um pouco coercitiva e inconstante desde que ele avançava em direção à senhorita Teresa assim que chegou aqui, porém estava apenas preocupado com a senhorita Carlton. Vejo que, para salvá-la, não teve outra escolha a não ser anunciar sua candidatura como pretendente a casar com a jovem senhorita.  

Isso não era verdade. No entanto, ela pensou sobre isso, ele gostava de fazer movimentos em direção à Teresa.  

― As coisas acabaram assim, porém, ele teve a gentileza de não responsabilizar a dona da casa e disse que enfrentaria a espiritualista para levá-la para casa em segurança. Oh, ele fazer algo assim pela mulher que ama, sem considerar sua própria segurança... Ele realmente é um cavalheiro corajoso.  

Como eu disse, isso não é certo”. Era verdade que ele era coercitivo e inconstante. Lydia, sendo uma fairy doctor, era imprescindível para que ele se mantivesse como o conde de Ibrazel. E, no entanto, ele se esforçava para proteger as pessoas de que precisava. Não poupava nenhuma compensação para que aqueles que trabalhavam para ele realizassem seus trabalhos dentro do contento.  

Se fosse construir um relacionamento de confiança como aliado ou amigo, Edgar responderia sem pensar com a própria vida. A razão pela qual ele tratava Lydia como alguém especial, e tentar fazê-la como sua noiva, era garantir sua ajuda no futuro. E não é apenas para mostrar, mas algo real, por isso, era difícil lidar com isso.  

Mesmo que seus sentimentos amorosos não fossem verdadeiros, ele estava seriamente tentando fazê-la ficar ao seu lado pela vida toda. Para que isso acontecesse, ele pensava que o casamento era a melhor e mais segura maneira de garantia. Porém, esse era um sentimento difícil de Lydia entender. Era algo muito impositivo e egocêntrico.  

Edgar pode pensar que não havia mulher que se recusasse a se casar com ele, mas Lydia apenas percebeu que seus sentimentos estavam sendo ignorados. Pela razão que se ela casasse, almejava que queria alguém que ambos sentissem amor um pelo outro, assim como seu pai e sua mãe.  

― Sinto tanta inveja que você está sendo amada por um homem fabuloso como esse.  

Parecia que Suzy seriamente pensava assim. Era uma especialidade fazer as jovens nutrir bons sentimentos por ele. Lydia ficou cada vez mais furiosa com Edgar.  

Oposto a isso, a senhora Collins estava de bom humor. Como resultado da imposição de todo mundo a ficar calado sobre o incidente da noite passada, os empregados foram muito leais e mantiveram a boca fechada.  

Ela sorria como se o tempo estava fabuloso, como se não tivesse nada com que se preocupar.  

― Oh, Teresa, todos os convidados não são senhores fabulosos? 

― Sim, acredito que sim, mãe. 

Enquanto as duas tomavam café juntas, Lydia estudava como precisaria fingir que ela e Edgar estavam profundamente apaixonados um pelo outro e isso a deixou melancólica. Ela estava preparada para fazê-lo concordar em anular o noivado.  

E, no entanto, pelo contrário, ela agora precisava agir como se os dois estivessem em um relacionamento íntimo. Ela tinha sentimentos de raiva e irritação em relação a Edgar, mas, em sentido lógico, ainda estava ciente de que a ideia dele precisava ser priorizada nessa situação.  

― Ouvi dizer que no jantar da noite passada, você teve uma conversa animada com conde Ashenbert. Você pode não ser capaz de fazer essa viagem de barco, mas gostaria de sair para a costa mais tarde? 

Se ela saísse com o falso conde, se perguntou se Edgar ficaria com ciúmes. Mesmo assim, Lydia entrou em pânico consigo mesma por pensar nisso por um segundo. Ela não ficaria feliz se ele estivesse com ciúmes mais do que nunca. Sim, ela não ficaria feliz. O que mais importante agora era que eles não fizessem nenhuma abertura ou fraqueza para o inimigo. Não era hora de pensar em algo tão estúpido.  

― Hum, mãe, gostaria de começar a cortejar o visconde lord Middleworth. - disse Lydia de modo ousado.  

― Com o visconde? Ele é realmente um cavalheiro belo e garboso, mas você pode querer ter mais tempo e tomar sua decisão depois de aprender que tipo de pessoa são os outros cavalheiros, não é? 

Ela sacudiu rapidamente a cabeça. Se ela não se empolgasse e estivesse entusiasmada, seus sentimentos de desconfiança em relação a Edgar, que vinha sentindo desde a noite anterior, poderiam interferir.  

― É... É que nós nos apaixonamos à primeira vista. Tivemos uma conversa depois do jantar e o visconde disse que esse foi um encontro predestinado e eu também tive a mesma sensação. Acho que nunca terei um amor como esse.  

Ela notou que suas palavras não vinham do coração enquanto falava, porque estava repetindo o que estava escrito na carta que Edgar havia escrito naquela manhã. Se ele escreveu e enviado a carta com isso em mente, logo, certamente, era um homem impossível.  

― Oh, meu Deus... Você está tão apaixonada por ele assim? 

― Ele disse que queria conversar diretamente com você sobre isso. Falou que viria aqui depois de nossa refeição.  

Ela inspecionou a expressão da senhora Collins. Lydia ficou nervosa ao ver que a senhora não sabia o que responder.  

E se ela se opuser?” Entretanto, ficou confusa por se preocupar com isso quando eles não estavam realmente em um relacionamento. Provavelmente, Lydia não foi capaz de imaginar como os pais se sentiriam ou reagiriam nesse tipo de situação.  

― Então, ele deve vir em breve. - disse a senhora Collins, que olhou para o relógio.  

E justamente naquele momento, Suzy entrou na sala do café e perguntou se poderia trazer o visconde. Edgar apareceu depois de um tempo e, embora se vestisse claramente, sem decorar ou expor, era evidente que prestava atenção aos detalhes, para cada fio de cabelo, a fim de que pudesse aparentar uma impressão fiel e sincera.  

A senhora Collins ofereceu-lhe um lugar, mas Edgar queria que ela ouvisse sua história e, de maneira casual, sentou-se ao lado de Lydia.  

― Gostaria de pedir a sua permissão para cortejar a sua filha. Claro, com casamento em mente.  

― Bem, lord visconde, enviei os convites com a esperança de que um de vocês se casasse com a minha filha. E se você disse isso... 

Ela podia ter murmurado suas palavras, porque pode ter preferido mais o falso conde. Lydia ficou aflita, mas a senhora Collins abriu a boca para dizer algo inesperado.  

― Pode ser embaraçoso para mim dizer uma coisa dessa em um momento como este, no entanto, você realmente deseja a mão da minha filha em casamento? 

Foi a proprietária da casa que inventou esse casamento, com o objetivo de comprar um título de nobre com um dote. Mas, ela estava preocupada se sua filha seria amada mais do que qualquer outra coisa. Os olhos da senhora Collins não estavam como de costume, mirando instáveis pela sala, enquanto tentava determinar se ele pensava na filha como uma ferramenta de troca de dinheiro, que estava firmemente fixada em Edgar.  

― É verdade que minha família não é bem-sucedida. E é real que foi por isso que participei do ritual espiritual, mas, agora, a aceito de bom grado.  

Edgar agia cheio de mentiras e Lydia, que também participava do ato de se apaixonar profundamente, comportava-se falsamente. E, entretanto, por algum motivo estranho, ela estava tão nervosa e alerta com seu coração disparado. Ela talvez imaginava a senhora Collins como se fosse sua mãe e poderia supor como seria sua mãe se ainda estivesse viva.  

Se fosse a mãe de Lydia, imaginava como se sentiria com Edgar na frente dela. Perguntou-se se eram os olhos de uma mãe enquanto determinava, como a senhora Collins, se o homem realmente amava sua filha.  

― Posso confiá-la a você? 

― Se me opuser, eu a raptarei e fugiremos.  

Quando Edgar disse em tom de brincadeira, a senhora Collins relaxou os músculos das bochechas. E, depois, ela abraçou Lydia suavemente.  

― Estou tão feliz por você, parabéns.  

Naquele momento, Lydia sentiu que realmente havia sido abraçada pela sua mãe e tinha a estranha sensação de que sua mãe havia aceitado Edgar. Era como sua mãe dissesse que seria certo confiar em Edgar do qual Lydia não acreditava. 

Mesmo que sua mãe conhecesse de todas as mentiras dele que falou até agora e que era o tipo de pessoa que continuaria a ludibriar, sentiu que sua mãe lhe disse aquilo por sentir que o pedido era uma mentira? 

Poderia ser assim”, se perguntou. “Mas, não consigo perceber isso. Mesmo assim, você não quer acreditar nele? 

Quando Lydia saiu da sala com Edgar, a senhora Collins fez uma careta de satisfeita ao se sentar na cadeira.  

***** 

― Senhora, isso certamente é maravilhoso.  

― Oh, sim, Suzy. O peso saiu dos meus ombros. Se essa garota é feliz, logo, não tenho nada que me preocupar.  

Enquanto sorria, fechou os olhos como se estivesse pensando em alguma coisa. Suzy sentiu-se aliviada do fundo do coração como se sentisse libertada da dor e sofrimento que tinha pela sua filha.  

― Oh, sim, Suzy, ainda há algo mais que preciso fazer. Preciso arranjar um casamento para você. 

― Oh, eu? Ah, não. Pretendo cuidar de minha senhora daqui para frente.  

― Você é como uma filha para mim. Agradeço muito por estar ao meu lado esse tempo todo. Não quero que você se case por vergonha só porque perdeu seus pais, pois vou fazer todos os preparativos no lugar de seus pais, assim você não terá nada para se preocupar.  

As duas mãos de Suzy estavam contraídas e quentes, o que a fez lutar para não chorar. Ela era sua senhora, e se importava tanto. Por isso, mesmo que ela achasse que era um ato imperdoável de reviver sua filha Teresa, Suzy não foi capaz de detê-la.  

Mas, não fim, não adiantou e Teresa foi revivida. Mesmo que o fantasma de Teresa tenha sido transferido para Lydia, e Suzy sabia que o visconde havia tentado encantar e atrair os afetos de Teresa para protegê-la.  

Se fosse verdade, Suzy deveria ter tentado convencer a senhora Collins a não fazer algo como um ritual espiritual por causa dela.  

― Qual é o problema, Suzy? Não chore. 

― Sinto muito... Estou tão feliz com as palavras da senhora. 

Esses eram seus verdadeiros sentimentos também. Mas, por enquanto, ela não sabia o que deveria fazer e saiu rapidamente da sala.  

***** 

O amplo jardim da frente da propriedade continuava até um bosque de árvores e descia até a praia. Edgar, que convidou Lydia para passear, caminhou lentamente pela pequena trilha que cortava os ciprestes.  

O nevoeiro era espesso, mas não havia sinais de que a chuva iria cair. A brisa úmida do mar sacudia de tempos em tempos as folhas das árvores e esse barulho se misturava com o estranho som das ondas do mar, o que fazia com que parecesse um alerta antes de uma tempestade.  

― Que estranho. As mães ficam felizes quando as filhas irão casar. - disse Lydia, calmamente, enquanto ainda carregava o sentimento caloroso e confuso de sua atitude.  

― Claro que sim.  

― Mas, o meu pai parece que não quer pensar sobre isso.  

― Bem, pais, sim. Mas, não se preocupe, vou convencê-lo. Você não acha que está na hora dele saber? 

― NÃO! 

Ela já tinha dito isso a ele tantas vezes, mas Edgar apenas deixou passar com um sorriso.  

― Tudo bem, desde que mostremos a ele que estamos profundamente apaixonados um pelo outro e que não podemos ficar longe um do outro.  

― Isso foi apenas um fingimento.  

Quando ela disse isso, a culpa começou a borbulhar dentro de Lydia. 

― ... Estamos enganando a senhora Collins, não estamos? Ela só acredita que Teresa ficaria feliz se casasse com você.  

― Esse fantasma não é Teresa. É por essa razão, de qualquer maneira, o desejo da senhora não irá se tornar realidade.  

― O que você quer dizer? 

Surpresa, Lydia olhou para o rosto dele.  

― O bordado que ela fez no lenço tinha a letra M. Além disso, você acha que uma filha que faleceu aos cinco anos de idade seria capaz de fazer um bordado só porque pensou nisso? Lydia, você é boa em bordar? 

― Hum... Fui ensinada pela minha avó.  

― Provavelmente, o fantasma que foi chamado era uma garota diferente de Teresa, que era boa em bordar.  

― Nunca disse que não era boa nisso.  

― Os fantasmas não se lembram da vida antes da morte. Ouvi de alguém que era especialista nessa área, mas, na terra dos mortos, as almas são capazes de permanecer em qualquer idade que gostem, sem relação com a idade em que morreram, e, se for assim, então, o espírito que a espiritualista pode ter sido qualquer um? 

Edgar parou em um dos ciprestes mais altos para encarar Lydia. 

― Se houvesse algo que pudéssemos fazer, seria parar o esquema do Príncipe e colocar tudo de volta ao normal. A alma do problema volta à terra dos mortos e você volta para mim. Não há o que se preocupar. -  disse ao mesmo tempo em que sorria.  

Lydia deu um passo para trás porque tinha uma pequena sensação de irritação. Porque ela se lembrou do sorriso que ele mostrou à Teresa na noite passada, ao mesmo tempo em que suas emoções coléricas e irritadiças ressurgiram dentro dela.  

― Não sou sua posse.  

― Você é minha noiva.  

― Não precisa dizer isso em todas as oportunidades.  

― Vou continuar dizendo isso. Quando você se acostumar, começará a pensar que era melhor ter sido assim. 

Nunca! Não deveria confiar nele? Eu não faria isso”, enquanto continuava confusa, Lydia deu outro passo para trás.  

― Não quer um casamento o qual não tem amor.  

Como se ela soubesse como era um verdadeiro amor, pois sua fala soou como o de uma criança que ouvia em qualquer lugar. Ela estava zangada, logo, Edgar deve ter pensado que ela estava em meio ao sonho. 

― O que você acha hilário? 

― Não, não é. 

― Você riu do meu coração. 

― Você está sendo paranoica. 

― Mesmo assim, você pode viver perfeitamente bem sem amor. 

― Isso significa que não há amor ao seu lado? Está tudo bem, você poderá me amar em pouco tempo.  

Não sei de onde vem essa confiança”.  

― Não há de quer. Fiz uma boa inspeção de como você seduziu Teresa ontem à noite. Realmente, é muito fácil fazer uma garota cair em suas mãos e agir como você quer. Você pode dizer o que quiser, não quer dizer como isso não significasse nada e usar qualquer meio poderoso... 

Houve um pequeno momento em que ela hesitou.  

―Você tem consciência mesmo quando está possuída por Teresa? 

― Sim, parece que se eu me esforçar muito, sou capaz de ficar acordada. Foi o que aconteceu ontem à noite.  

― Hum... - ele respondeu, colocando a mão na testa.  

Não era como estivesse preocupado, apenas era uma pose adotada. 

― Veja, Lydia, estou fazendo isso por sua causa.  

― Eu sei. É para meu próprio bem. 

― Então, por favor, não fique chateada. 

Lydia virou a cabeça e se afastou.  

― Sinto que você está com raiva.  

― Se eu estou com raiva é porque você teve a liberdade de tocar o meu cabelo, rosto, ombro e costas!  

― Mas, você se jogou nos meus braços... 

― Pare com isso! Não fui eu! 

― Então, não foi você quem toquei. 

― Oh, entendi! Logo, você pode tratar alguém como sua amante.  

Lydia calçou seus passos mais rapidamente, conforme ficava mais furiosa.  

― Não, seria mais que isso, pensei que era você. Fiquei tão feliz que você não fugiu, olhou nos meus olhos, logo, era como se eu não quisesse deixá-la ir.  

― Eu...Se fosse eu teria batido em você! 

Ela sabia que estava ficando vermelha de vergonha, e ficou de costas para Edgar, com a cabeça baixa enquanto continuava a caminhar.  

― Eu pensei assim. Queria tentar outras coisas enquanto não seria atingido.  

Fazer o quê? 

― Estou feliz por ter me segurado. 

―... 

― Ou eu não deveria ter me contido? Ah, eu sei, se formos ao limite de nosso relacionamento isso poderá convencê-la de que tudo o que resta a você é se casar comigo.  

― Nunca ficaria convencida! 

― Mesmo assim, poderia ter sido uma chance para nos tornarmos íntimos. Se fosse Teresa, não fugiria.  Mas com você, tem a sua própria consciência. Se passarmos um tempo romântico juntos, você poderá entender os meus sentimentos não apenas com sua mente, mas também com seu corpo.  

Co-corpo? 

O sangue subiu para a cabeça de Lydia, o que a fez parar.  

― Na sua cabeça, você tem uma certa convicção sobre o que é gostar e amar. Mesmo se eu disser que falo sério sobre você, já que não exatamente como imaginou, não vai acreditar em mim, entretanto, você é realmente especial para mim. 

― Pare com isso! Não é hora de piadas! Não vou perdoá-lo se fizer o que quiser para obter algo impróprio! 

Lydia o encarou enquanto protestava com seriedade, mas ele apenas lhe deu um sorriso insolente e arrogante.  

― Então, vamos testar agora. 

― ? 

― Acredito que você será capaz de aproximar nossos sentimentos como amantes.  

O vento do mar soprava contra as costas de Lydia. Seus cabelos soltos voaram para os lados e atrapalharam a visão de Lydia que correu para segurá-los. Ela sentiu uma mão quente tocar sua bochecha. No momento em que ela olhou para cima, bem à sua frente estavam os olhos malvas de Edgar. Ele a encarou com olhos levemente dolorosos e ansiosos e a tocou com tanta suavidade como se ela pudesse facilmente quebrada, o que a fez se sentir como se fosse alguém especial, porém, quando voltou rapidamente a si mesma, conseguiu perceber que aquilo não era possível.  

Ele a encarou do mesmo modo de ontem à noite, mas não como Teresa. Ela sabia que tinha que correr, mas não conseguia se mover e, justamente, quando pensou que poderia realmente querer isso, Lydia caiu em ódio completo contra si mesma. “Oh, meu Deus! Eu era uma mulher tão sem moral? 

― Feche os olhos.  

Ela não pôde lutar contra a sua voz suave, que soou como um feitiço. 

― Eu te amo. De verdade.  

Ela quase podia levar isso a sério. Se ela acreditasse nele, algo poderia mudar. Mesmo que pensasse que, do fundo do coração, havia uma voz que se levantou em negação.  

― Por favor, acredite em mim, em meu beijo mais do que as minhas palavras.  

― ...Mas, você, mesmo agora, não pensa nos meus sentimentos.  

Ah, isso é verdade. Ele sempre faz o que quer e tenta forjar os outros para o que ele deseja. Por isso, ela tem se mantido firme.  

Lydia abriu gentilmente os olhos enquanto Edgar estreitou os seus e pareceu um pouco triste. Sua mão a soltou devagar e silenciosamente. Porém, não foi por causa do que Lydia disse, mas porque ele sentiu uma presença nas profundezas do bosque.  

Edgar inspecionou a sombra entre as árvores e disse: 

― Quem está aí? 

A sombra da pessoa rapidamente se virou e começou a correr. Ele pensou ter visto o rosto branco de Ermine, que o encarou instantaneamente. 

― Lydia, volte para casa. 

Apenas dizendo isso, Edgar seguiu a sombra correndo.  

A figura que usava um casaco preto masculino, mas que, em definitivo, apresentava curvas femininas subiu a colina. Edgar seguiu a pessoa, mesmo assim, teve a sensação de ter sido atraído. No entanto, a espiritualista tinha se trancado e saia por si mesma. Queria ter certeza se ela era realmente Ermine ou não. 

Eventualmente, com a inclinação das costas do mar, a mulher vestida como homem parou e se virou. Os olhos castanhos quase negros o encaravam como se o estivessem provocando. Seus cabelos curtos e da mesma cor foram soprados pelo vento, bem como sua silhueta foi revelada. Ela era uma mulher que Edgar conhecia bem.  

Ela possuía traços faciais elegantes e cavalheirescos que combinavam com roupas masculinas. Entretanto, ainda tinha o brilho feminino que só podia descrevê-la como uma mulher bonita. Mesmo se ela tivesse se coberto de roupas masculinas, era possível perceber de uma só vez que era uma mulher, assim Edgar caminhou em sua direção.  

― Lord Edgar.  

Dos lábios vermelhos dela, uma voz familiar foi ouvida. 

― Faz muito tempo.  

― Ermine, se você sobreviveu, por que não voltou ao meu lado? 

― Agora, sou serva de Ulisses. Não posso ir contra a vontade dele.  

― Por que você foi salva por ele? 

Por um instante, ela baixou os olhos. Ela não respondeu à pergunta de Edgar.  

― Vejo que você ainda está com a senhorita Lydia desde então. Pode ser uma coisa ridícula para dizer, mas quando descobri que ela se encontrava segura, viva e estava lhe dando a mão, fiquei aliviada.  

― Lydia também estava preocupada com você. 

― Tinha feito uma coisa tão horrível com ela também. E, no entanto, ela me perdoaria. 

― Ela até me perdoou, embora eu a estivesse enganado.  

A expressão que fez no instante em que afrouxou os cantos dos lábios foi a própria Ermine 

― Lord Edgar, desde que você trouxe de volta a senhorita Lydia, sem machucá-la, tive a sensação de que algo iria mudar. Ela era tão honesta, tinha uma devoção tão apaixonada, gentil e generosa que poderia surpreendê-lo. Se houvesse alguém que pudesse te salvar, logo, pensei que seria alguém como ela.  

A mulher na frente dele sabia coisas que apenas Ermine saberia. Ele se perguntou se ela realmente era Ermine. Ainda estava meio em dúvida, mas ao mesmo tempo, ele queria que fosse ela.  

― Ermine, não há necessidade de você servir a Ulisses. Por favor, volte para o meu lado.  

― Você está dizendo que confiaria em uma traidora? 

― Sei que seu coração não tem nenhum sentimento de traição em relação a mim.  

O Príncipe foi quem usou a fraqueza do seu coração que tinha sentimentos por Edgar e a usou para sua vantagem.  

― O que meu verdadeiro coração sustenta não é o problema agora. Recebi a ordem de matá-lo.  
Ele não sentiu nenhuma malícia nela. Era tão rápida e ágil em seus movimentos, tinha uma estrutura de corpo leve e experiente com armas, por isso, se quisesse, seria possível matar Edgar. No entanto, ele caminhou até ela ainda mais.  

― O Príncipe perdeu sua esperança por sua causa. Agora é tarde demais, você se tornou famoso demais como um conde da Inglaterra. Se você não pode servi-lo, logo, foi me dito para torturá-lo dolorosamente e depois matá-lo.  

A mão que ela levantou segurava uma pistola. Edgar não prestou atenção a isso e esticou o braço para tocar Ermine. No instante em que a mão dele alcançou sua orelha, ela se encolheu por um instante. Ele não desperdiçou esse momento e agarrou o seu braço. A mira de sua pistola disparou e a bala cortou o topo da grama.  

Como ele pensou, não sentiu nenhuma determinação dela. Ele arrancou a pistola e a empurrou para a grama. Edgar a encarou enquanto colocava a mão na sua camisa. 

― Desculpe-me por isso.  

Ela percebeu que ele iria fazer, porém, ele não lhe deu nenhuma chance para que sentasse e abriu os botões da sua blusa. A marca de uma escrava que foi dolorosamente queimada em sua pele branca não estava em lugar algum. Era algo que deveria estar em Ermine 

― Quem no mundo é você? 

Em vez de responder, ela apontou uma faca para garganta de Edgar.  

― Por que você fala como soubesse tudo sobre Ermine? 

Ela franziu as sobrancelhas enquanto colocava força nos braços. Afastando-se da faca, Edgar a soltou. Ela se levantou rapidamente e num impulso o atacou. Dessa vez, ela estava falando sério. Era um misto de malícia e tristeza. Talvez o segredo que Edgar acabasse de descobrir agora fosse algo que poderia ter a atormentado dolorosamente.  

Ela realizou um ataque um após o outro como se estivesse tentando mandá-lo para túmulo junto com ela, que não tinha nenhuma marca que fosse queimada aos olhos de Edgar. Se ela estava temorosa por ser uma impostura, então, ele se perguntou o que aquilo significava.  

Mesmo que ele quisesse revidar, até os seus movimentos de como segurava uma arma eram tão parecidos com Ermine. Para Edgar, era uma amiga e aliada que ele não queria perder mais uma vez. 

Naquele momento, surgiu uma sombra negra que cortou o espaço entre ela e Edgar. Indo contra a mulher que parecia exatamente com a sua irmã, Raven não hesitou em segurar sua faca pronta para o ataque.  

― Espere...Raven! 

Edgar tentou detê-lo, mas a mulher avançou a faca primeiro.  




Foi um ato de sacrifício de vida sair contra Raven. Se era uma mulher que sabia sobre Ermine, logo, deveria saber que não haveria ninguém que pudesse vencer Raven individualmente.  

No entanto, era tarde demais, pois uma atmosfera altamente maligna foi carregada no interior de Raven. Se era para proteger seu mestre, logo, o espírito que o transformava em um demônio brutal e de sangue frio assumia o controle sobre ele. 

Raven, que possuía um nível imensurável de habilidades de combate, partiu com intenção de matar seu inimigo. Ele não havia se esforçado para evitar a lâmina da arma dela e jogou a faca no chão, que afundou profundamente em seu ombro. A mulher recuou fracamente. Tentou criar uma distância entre eles.  

A mulher deu um passo para trás até a beira da encosta íngreme que se projetava sobre o mar, depois o pé bateu em uma das pedras e ela caiu sobre um joelho. Seu rosto se contorceu de dor enquanto tentava puxar a faca.  

Raven não mudou a sua expressão e quando se aproximou dela, lhe estendeu o braço. Era um braço esbelto de um jovem, mas, certamente, foi capaz de quebrar um pescoço humano em um instante.  

― Pare com isso! 

Edgar correu até ela para pudesse ajudá-la.  

― Basta! Você não precisa matá-la.  

No entanto, naquele momento era tarde demais, pois nem as ordens de Edgar chegaram aos ouvidos de Raven. Ele não demonstrou emoções e, ao mesmo tempo, evitou cuidadosamente Edgar e a alcançou. A partir daí, por algum motivo, o movimento de Raven parou.  

― Por favor, pare... 

Era Lydia. Ela tinha os braços em volta de Raven para tentar detê-lo. “Ah, não!”, pensou Edgar. Foi difícil para Edgar tentar impedir Raven. Lydia não tinha como fazê-lo. E houve muitos casos em que Raven, quando estava pronto para o combate, não foi capaz de fazer diferença entre seus inimigos e aliados.  

Ele tentou se mover o mais rápido possível para proteger Lydia, mas era tarde demais. Raven tremeu e arrancou o braço dela, sem delicadeza, o que a fez voar encontrando a encosta. Quem estendeu o braço para ela quando estava quase caindo da encosta foi a mulher que se parecia com a Ermine 

Ela não foi capaz de apoiá-la totalmente e as duas caíram pela encosta. No entanto, a mulher segurou Lydia como se estivesse a protegendo das rochas com as entraram em contato de vez em quando enquanto caíam em direção ao solo.  

Quando, finalmente, conseguiram parar perto do meio da encosta, a mulher ficou de pé. Edgar correu para Lydia, que ainda se encontrava deitada no chão. A mulher desceu a encosta tentando escapar deles e desapareceu em meio aos penhascos costeiros, entre as árvores.  

Lydia acabou de sofrer uma leve concussão na cabeça e acordou de sua inconsciência ao ser transportada por Edgar para a residência, mesmo assim, sentiu-se tão embaraçosa e por isso fingiu estar dormindo.  

Ela se encontrava em uma cama, e podia sentir que ele a olhava com preocupação e não parecia que não a deixaria, logo, ela abriu os olhos da forma mais natural possível.  

― Lydia, você está bem? Você pode dizer quem sou? 

― ... Sim. 

― Você não deve se mexer tão cedo. Você acertou sua cabeça.  

― Estou bem, não há nada errado comigo.  

De qualquer modo, não havia nada reconfortante ficar ao lado dele, por isso, ela se sentou devagarinho. Pareceu que ele ofereceu sua mão para ajudá-la, mas como ele percebeu que ela negaria o seu auxílio, se encolheu e, rapidamente, a recuou. O motivo foi que ela apenas se lembrou de como quase foi beijada por ele antes. Não foi por causa de sua guarda em relação a Edgar, mas porque Lydia não tinha fé em si mesma, como poderia ter realmente aceitado.  

Não havia como permitir o beijo de um homem frívolo como ele, de jeito nenhum. E se ela se sentisse assim novamente? Quando ficou preocupada, seu batimento cardíaco acelerou rapidamente, Lydia respirou fundo.  

― Sinto muito, senhorita Carlton. 

Raven ficou parado logo atrás de Edgar, e pediu desculpas de cabeça baixa. Para ele que, normalmente, não mostrava emoções, parecia estar bastante arrependido.  

― Não se preocupe com isso. Foi a minha culpa me intrometer nos assuntos de outra pessoa.  

― Cometi um erro fatal.  

― Você não precisa exagerar... 

― Tenho toda intenção de aceitar qualquer tipo de punição.  

Aparentava que Raven estava falando sério.  

― Seu dever é proteger Edgar, você não precisa se jogar na minha frente.  

― Não, não é desculpa para lhe causar ferimentos da futura esposa de milord 

Esposa?” Lydia fez um sulco entre as sobrancelhas e encarou Edgar.  

― Espere, Edgar! Você disse isso a Raven? 

― Bem, é claro, precisaria informar meu criado mais fiel sobre isso.  

― Olhe para ele! Ele levou isso completamente a sério! 

― É natural, desde que falo sério.  

Ele fará todo o possível para que esse assunto seja convincente. Por isso, Raven está ansioso e preocupado.  

― ...De qualquer forma, você diz a si mesmo que não deve se preocupar.  

― Ele não parece estar convencido. É por isso que, sim, você pode bater nele mais uma vez. Logo, acho que ele ficaria satisfeito. 

― Jamais eu bateria nele! 

― Estou sempre perto de ser atingido. 

― Isso porque você sempre faz piada de tudo! 

― Raven, você deveria tentar fazer algum tipo de piada. E assim, como você deseja, Lydia diz que iria bater em você.  

O quê? 

― Algum tipo de piada, my lord? 

― Como um beijo.  

Ela não foi capaz de descobrir como Raven, que era o tipo de pessoa que levava tudo a sério, interpretou a piada de Edgar e, quando Lydia virou a cabeça timidamente em direção a Raven, encontrou os olhos dele a encarando.  

Lydia ficou rígida de nervosismo, mas depois de algum tempo, Raven inclinou os ombros como isso estivesse fora de questão.  

― Não posso, lord Edgar. Por favor, me perdoe.  

― Tudo bem. Mas, ao invés disso, você precisa desistir de seu castigo.  

Com um suspiro, ele respondeu: 

― Sim, compreendo. 

Ela queria dizer que eles chegariam até esse ponto, independente disso, aparentava que Edgar era capaz subornar o teimoso Raven 

― E, então, Lydia, está machucada em algum lugar? Há algum lugar que dói? 

Enquanto balançava a cabeça, Lydia notou que havia algum tipo de grão cintilante de areia preso em seus cabelos. Ela se perguntou como foi parar ali. Mas, parecia finas contas de vidro de um azul-claro num tom a mais para ser chamado de areia.  

― Parece que não tenho arranhões. Provavelmente, porque Ermine tenha me protegido. Mesmo que ela tenha sido a que sofreu mais ferimentos.  

― Ela não era minha irmã. Tentou matar lord Edgar. - disse Raven em um tom definido.  

Porque foi Ermine quem se traiu por causa de seus sentimentos em relação a Edgar, o que ele dizia que ela não seria capaz de acabar com a vida de Edgar.
  
Sentando-se na beira da cama, Edgar pensou profundamente.  

― Ela mesma disse que não poderia ir contra Ulisses. Aparentemente, ela foi ordenada pelo Príncipe para torturar e depois me matar. Em vez de me matar, a mulher que se parecia com Ermine parecia ter surgido diante de mim porque recebeu ordens para fazê-lo.  

― Então, você está dizendo que ela planejava atacá-lo para fosse morta no seu lugar? 

― No caramanchão do jardim, ela disse à idosa que certamente iria morrer.  

― Ela deve ter previsto que Raven iria correr para o local. 

Se se tratasse de uma situação em que ele deixaria Ermine morrer. Logo, Edgar continuaria sem se culpar. Ela não conseguiu se rebelar contra Ulisses e recebeu a ordem de atacar Edgar e matá-lo. Mesmo que era ou não a verdadeira Ermine, ninguém iria querer testemunhar que alguém querido fosse usado como inimigo e morreria diante de seus olhos novamente.  

Se foi uma questão de atormentar aquele que carregou a dor de sobreviver através dos sacrifícios de muitos de seus amigos, realmente era um plano cruel.  

― Não importa que tipo de objetivo eles tinham em atacá-lo, ela não é minha irmã. Lord Edgar, se tiver piedade dela, é exatamente o que os inimigos estão esperando.  

― Você está certo... Não havia nenhuma marca de escravo que pudesse provar que era Ermine 

O quê?”, pensou Lydia e levantou a cabeça. Como Edgar tentava desesperadamente impedir Raven, pensara que ele estava convencido que era a verdadeira.  

― Então, por que você tentou me parar? Naquele momento, eu poderia ter dado o golpe final.  

― Quero saber o porquê.  

Justo quando ela pensou que Edgar deu uma resposta banal e desanimada como fosse o assunto de outra pessoa, ele fez uma careta séria.  

― Definitivamente, tinha certeza de que ela era Ermine. Ela sabia de coisas que só Ermine conhecia, suas expressões faciais e os hábitos quando falava, tudo o mais sobre ela, além da marca, era Ermine 

― No entanto, essa marca não é algo que não possa ser apagada tão facilmente.  

― A minha foi tirada.  

Isso é verdade. A marca de um escravo que foi gravada no corpo de Edgar foi levada pelos merrows 

E, então, ele fez uma pergunta à Lydia: 

― No meu caso, aconteceu pelas circunstâncias especiais. Pergunto-me se poderia haver a chance desse tipo de acontecer com Ermine também. E outro ponto, é apenas um estranho mistério que ela esteja viva tanto quanto o desaparecimento de sua marca? 

Ermine caiu no mar dos merrows. Seu corpo não foi encontrado, mas as ondas eram tão rápidas e violentas que não pareceu estranho que algo assim acontecesse. Enquanto Lydia pensava nisso, concentrou sua atenção nos pequenos objetos que brilhavam como pequenos tons de vidro.  

Não que ela pensasse nisso, Lydia havia sido embalada por Ermine, que estava ferida, porém não havia sinais de sangue dela. Não sangue, mas sim cristais claros que saiam de seus cabelos e de suas roupas.  “Mas, espere, talvez isso não fosse sangue. E, se ela não fosse humana? 

Logo, ela notou algo. Selkies eram personificações daqueles que morrem no mar. E, então, Ermine era... 

― Ermine pode ser uma selkie 

Deve ter soado algo completamente inesperado. Edgar e Raven se viraram um para o outro.  

― Ouvi dizer que as pessoas que morreram no mar se transformam em selkies. Não acredito que isso seja definitivamente uma regra, mas como a pessoa chamada Ulisses tem o conhecimento de um fairy doctor, pode ter passado por um problema e a ter revivido como selkie 

― Esse tipo de coisa é possível... Você pode fazer isso também? 

― Não tenho poderes para controlar selkies. Porém, se Ulisses é um poderoso fairy doctor acho que ele pode ter feito os selkies procurarem o corpo de Ermine e a transformou como uma da espécie.  

Como se estivesse tentando organizar o que Lydia havia dito em sua cabeça, Edgar pressionou sua têmpora.  

― As fadas-focas são capazes de se transformar de volta na forma em que eram humanas? Elas teriam suas memórias? 

― Creio que houve casos assim. Um pescador que morrera no mar retornou à sua casa, mas, como era um selkie, despediu-se de sua família e voltou para o mar. Os seres humanos que se tornam residentes do reino das fadas acabariam esquecendo do mundo humano, mas Ermine ainda é.  

― Desde que ela se tornou uma selkie, ainda tem suas memórias humanas. -  sussurrou com uma expressão difícil.  

― Lydia, ser é como você imagina, então, por que ela, assim como os outros selkies, têm que se submeter aos desejos de Ulisses? 

― Isso porque seus casacos foram escondidos. Os selkies tiram os casacos para se transformarem em sua forma humana. Mas, se eles não obtêm seus casacos, não podem retornar ao mar e são deixados para servir à pessoa que os escondeu e sabe onde eles estão. Desde que seus casacos são como suas almas.  

― Logo, se pudermos encontrar os casacos que ele escondeu, a situação de Ermine ser mantida sob controle terminaria.  

― Isso é... 

Lydia conteve sua resposta, porque se ela ainda tinha lembranças de quando era humana, Lydia estava preocupada se ainda poderia estar carregando os efeitos secundários de estar sob a influência do Príncipe. Com certeza, Edgar e Raven também tinham o mesmo pensamento.  

― Se ela foi forçada a voltar como uma fada, minha irmã realmente morreu. Quem está aqui é a serva de Ulisses e, mesmo que o controle sobre ela fosse retirado, ela é apenas uma existência que foi revivida como ferramenta do Príncipe.  

Com as palavras de Raven, Edgar soltou um longo suspiro.  

― Provavelmente, é exatamente como você diz. Mas, Raven, ela é sua irmã.  

Mesmo tendo dito isso, Raven apenas inclinou a cabeça como se isso fosse um mistério para ele. Da mesma forma que se ele entendesse as palavras ser de uma família, não saberia que tipo de sentimentos deveria ter. Claro, Raven cuidava de Ermine como sua irmã. Mesmo assim, depois de trair Edgar e enquanto ela existisse, poderia continuar a ser um perigo, mais do que uma irmã, era uma inimiga.  

No entanto, Edgar pensava nos sentimentos de Ermine do que em sua traição. Se ainda estava sob a maldição do Príncipe, ele queria resgatá-la dali.  

― Ela não é minha irmã.  

― Por que ela não é humana? Você nunca pensou que gostaria de encontrar aqueles que você perdeu, mesmo que fosse um sonho? Mesmo que fosse um fantasma ou qualquer outra coisa, você já desejou poder trocar palavras com essa pessoa mais uma vez? 

Muito provavelmente, não era assim para Raven. Como possuía habilidades de combate especialmente altas, cresceu como uma ferramenta de matar homens e não foi capaz de desenvolver sentimentos como um ser humano, finalmente, foi capaz de abrir seu coração apenas para Edgar.  

Mesmo que ele estivesse começando a mostrar consideração e pensar nas pessoas que estavam ao redor de Edgar, ainda era difícil para Raven entender os sentimentos em relação àqueles que faleceram e os ficaram para trás.  

E, no entanto, Edgar continuava falando como se tentasse convencê-lo. 

― Queria encontrar Ermine. Não ligo para que tipo de situação e mesmo que ela me odiasse, queria vê-la.  

Esses foram os mesmos sentimentos que a senhora Collins teve quando pediu para chamar de volta o fantasma da filha. Era o mesmo que Lydia sentia em relação à sua mãe. Se ela pudesse vê-la mais uma vez. A partir do momento em que Lydia conseguia entender aqueles sentimentos, não era capaz de odiar a senhora Collins.  

― Ermine me salvou. Não foi como se ela tivesse sido ordenada para esse ato, mesmo assim, ela me salvou por sua própria decisão. Acredito que o seu coração ainda está em uma posição é amiga e aliada.  

Raven ficou em silêncio como se ainda estivesse indeciso. Edgar também ficou calado. Quando tudo ficou silencioso, rapidamente, houve um pequeno som vindo do lado de fora da porta. Os três que estavam no cômodo imediatamente voltaram sua atenção para o ruído.  

Alguém estava escutando? Justo no momento em que pensavam nisso, Lydia sentiu um calafrio percorrer sua espinha e se abraçou.  

― Qual é o problema, Lydia? 

― Eu me sinto um pouco mal... 

Ela começou a ter dificuldade em respirar e um suor frio escorria seu corpo. Enquanto observava Raven se aproximar da porta sem emitir um som, Lydia pensou que isso era como a noite passada. Teresa se contorcia em agonia dolorosa. Essa era única pista que ela conseguia desvendar.  

― Não... Ajude-me... 

Edgar pegou e segurou a mão de Lydia com a qual ela largou.  

― Está tudo bem, estou aqui com você. 

― É Teresa... Ela está se lembrando do momento da sua morte... 

Raven abriu a porta com força. Porém, permaneceu em pé naquele local.  

Nota da tradutora 
Ah! Esse eterno jogo de “amorde e assopra” entre Lydia e Edgar. Hahahaha A-do-ro! Por essas e outras, acredito que meu ship preferido no mundo de ficção seja os dois. Apesar de que, confesso, o número dois é Tamaki e Haruhi (Ouran Host High School).  
Apareceu a Ermine! E, aí? O que você acha que ocorreu com ela? Virou um selkie ou é uma mera sósia? Faça suas apostas! 
Para mim, a parte em que Raven começa a lidar com os seus sentimentos é a mais integrante e surpreendente.  
Pois bem, logo sai o capítulo 5 e nos veremos logo! Quem sabe até lá as coisas estarão mais suaves. Que assim seja! 
Beijos! Compartilhe e prestigie!