terça-feira, 30 de agosto de 2022

A angústia de um adúlturo - Capítulo 1 - Volume VI - Hakushaku to Yousei Light Novel



A princesa trocada - Livro VI


 

Nota de apresentação 

Olha aí aqui eu de novo! Demorou, mas chegou. Acredito que sua ansiedade esteja grande e nem vou me alongar.  

Enjoy! 


Esta é a grande Londres, uma cidade onde todos os itens do mundo se encontram. Da mercadoria de alta qualidade ao lixo inútil, do real à imitação e falsificações feitas com mão de obra magistral para serem mais requintadas do que o original e, ainda, misteriosamente, as pessoas nesta cidade agem como se apenas obras reais e genuínas existissem.  


As pessoas neste lugar são separadas por classes de nascimento e educação e não importa quanta riqueza ou fama ganhem ao longo da trajetória, eles não podem subir a escada tão facilmente. Isso é diferente no Mundo Novo, como quando os ricos podem falir e os sem dinheiro encontram uma veia de ouro em uma noite. É um império astuto que, de modo teimoso, nestes dias atuais, com mudanças rodopiantes, como locomotivas funcionando e lampiões a gás iluminando as ruas à noite.  


Era a primeira vez que Lota vinha a um país assim.  


Por causa do pôr do Sol e da pequena garoa que caía do céu, a cor das ruas parecia nebulosa e borrada. Pode-se dizer que tinha uma longa história ou que o lugar não estava tentando exibir sua riqueza glamourosa, mas para Lota, só achava que o local parecesse antigo e rústico.  


Ela estava em Londres há uma semana, onde a temperatura estava baixa e fazia um outono inesperadamente frio, e o casaco que ela comprou de imediato em uma loja de roupas usadas apresentava remendos costurados por toda parte, poderia tê-la parecer com uma mendiga.  


Seu cabelo preso em um rabo de cavalo no alto da cabeça estava começando a desmoronar, mas ela não colocava sua aparência em primeiro lugar. 


Lota estava encostada na parede na esquina de uma rua esperando com um cigarro de papel enrolado entre os dentes, mantendo sua atenção focada em uma carruagem que estacionou em frente ao prédio diagonalmente à sua frente. Ela casualmente perguntou ao condutor sobre seu destino e se apressou para chegar a este local antes de sua vinda.  


A figura que saiu daquela carruagem era um jovem em roupas profundamente refinadas. Ele usava uma camisa branca de gola alta e gravata branca, com um fraque preto e desceu arrojado para o chão. Da cartola à bengala que ele segurava na mão, pode-se dizer à primeira vista que suas roupas eram de alta classe, qualidade suprema.  


Lota afastou a fumaça que saía de seu cigarro na frente de seus olhos e os apertou para confirmar o rosto do jovem. Ele tinha uma beleza elegante e polida como a de um nobre e o cabelo que caía sobre sua testa era dourado. Não havia dúvidas, era ele.  


Um garoto que ela conheceu em uma certa cidade no extremo sudeste da América, era o líder de uma gangue formada por crianças de rua da parte pobre da cidade. Ela ouviu que ele foi capturado e enforcado. Até Lota chegar em Londres, acreditava que era verdade.  


No entanto, ela o testemunhou nesta cidade. E partir desse ponto, investigou.  


Conde de Ibrazel, Edgar Ashenbert. Quando ela descobriu seu nome, pensou que ele era uma pessoa completamente diferente. Desde o início, havia rumores de que o garoto nascera como um aristocrata da Inglaterra, porém, ela acreditava que esse tipo de pessoa não estaria em um lugar como nas ruas mais baixas da América. No entanto, neste exato momento, ela estava convencida de que era ele.  


― Aquele bastardo, ele roubou mesmo um título de nobreza? 


No momento em que descobriu que ele era o conde que ela estava procurando, teve que ponderar qual deveria ser seu próximo passo.  


― Lota, é esse o homem que sequestrou Betty? 


A figura que falou era um homem alto, musculoso e barbudo que se encontrava bem ao seu lado.  


― Bom, não há dúvida de que ele é o Conde Ashenbert. 


― Então, devemos capturá-lo e fazê-lo confessar onde Betty está.  


― Bem, espere só um momento. Precisamos investigar seus arredores um pouco mais.  


Ainda havia alguém na carruagem da qual o jovem louro acabara de descer. Ele ofereceu a mão e deixou seus olhos seguirem uma mulher que saiu lenta e cuidadosamente da carruagem. Sim, quem o acompanhava era uma mulher bem vestida.  


Assim que a mulher desceu, ela amavelmente passou os braços em volta do pescoço do jovem e o beijou sem parar para verificar quem estava assistindo. Depois de um beijo apaixonado, Lota viu os dois desaparecerem no prédio e soltou um suspiro sobre como ele não havia mudado nada.  


― ...Eu não posso acreditar! Aquele mulherengo! 


Mas, quem levantou a voz não foi Lota. Quando girou o pescoço, percebeu que era uma jovem que acabara de sair de uma livraria próxima e estava parada na frente da vitrine. Sua idade era em torno de dezessete ou dezoito anos. Seu cabelo castanho-avermelhado estava intacto, solto, mas não se apresentava descuidado ou despenteado, pois tinha brilho e não possuía frizz ou emaranhados. Era uma garota comum, que vestia roupas bem conservadas; no entanto, ela não aparentava ser de uma família aristocrática de prestígio.  


Sua reação foi a de alguém que presenciou seu amante tendo um caso. “Aquele bastardo, ele até colocou as mãos em uma garota decente como esta! 


Mesmo assim, ela é do tipo que ele gostava, durona e fofa.  


A garota deve ter notado que estava sendo observada e os olhos da garota encontraram os de Lota quando ela se virou. Ela deve ter lembrado que soltou uma voz alta, arregalando os olhos verde-dourados de surpresa e rapidamente se afastou embaraçada. Um gato grisalho saiu correndo atrás dela.  


― Que pena. Ela provavelmente vai chorar por causa dele.  


― Assim como Betty? 


― Bem, Betty não era o tipo de garota que choraria por algo assim.

  

― Mas, na verdade, ela era uma chorona, chorava o tempo todo. - argumentou 


― Aquilo era só fingimento. - respondeu Lota.  


Lota largou o cigarro no chão, o esmigalhou com o pé e cruzou os braços para pensar. 


Então, ele é o conde Ashenbert? E Betty supostamente está com aquele homem? 


Na verdade, essa era a parte que Lota não conseguia acreditar. Não havia dúvidas de que Betty tinha ficado completamente louca por ele, mesmo assim, depois que descobriu seus maus hábitos com as mulheres, Lota se lembrou de que Betty disse que desejava que aquele bastardo morresse.  


Como ele flertou com ela fácil e bem pensado, mas ele não deveria ter tido tanta ligação emocional com Betty. Ou talvez ele pudesse ter encontrado outro uso com Betty. Se fosse assim, Lota iria se sentir bastante responsável.  

 

***** 

 

Lord Edgar, a senhorita Carlton chegou.  


― Já é essa hora do dia? 


Edgar voltou para casa ao raiar da manhã, tinha acabado de acordar e tomar banho. As essências que ele bebeu desde a meia-noite, finalmente, saíram dele e sua mente começou a clarear. Ele tentou se lembrar de quais eram seus planos para hoje.  


Raven, como está o humor de Lydia? 


― Normal, senhor. - respondeu Raven, enquanto amarrava a gravata de Edgar.  


Este jovem de pele escura era o valete de Ashenbert e um servo leal de Edgar desde que estavam na América, e embora lhe perguntassem todos os dias sobre o temperamento de Lydia, quando ela vinha trabalhar pela manhã, ele não fez uma expressão irritada.  


Em primeiro lugar, ele nunca mostrou uma cara de desagrado para Edgar, pois ele era do tipo que obedece silenciosamente a qualquer tipo de comando absurdo que lhe fosse dado.  


― Apenas perguntou se você chegou tarde em casa ontem à noite.  


― Por que essa conversa surgiu? 


― Porque ela tinha acabado de passar por mim quando eu carregava sua muda de roupa.  


Edgar franziu levemente as sobrancelhas. Se ele acordou tarde, isso pode significar que ele voltou para casa tarde. Era quase como se ela suspeitasse que ele tinha saído para jogar à noite.  


― Acho que isso pode significar que ela queria me ver o mais rápido possível.  


Ele disse isso para negar o sentimento ruim que crescia nele.  


― Tenho a sensação de que não significa isso. - observou Raven sem má vontade.  


Edgar sabia que Raven não era capaz de entender as delicadas obras do coração humano que tinham a característica de fugir do mal e doloroso, mas independente de ser infantil, Edgar se sentiu um pouco ofendido e respondeu com retaliação.  


― É sim. Ultimamente, tem sido maravilhoso com Lydia. Quando a convido para sair, não demonstra mais antipatia, e mesmo quando seguro sua mão, ela não fica brava. Até parece que está se divertindo quando está comigo, logo, acho que estamos nos tornando amantes.  


― Isso é bem diferente de suas amantes anteriores.  


Raven apontou essa parte bruscamente, no entanto, Edgar deixou seu comentário passar.  


― No domingo passado, nós dois fomos à igreja juntos. Fui a uma igreja. Ouvi pacientemente o serviço e passei a hora do chá na sua casa depois. Estou indo bem com o pai dela e, bem, ainda não toquei no assunto de nosso noivado, mas acredito que consegui mostrar minha sinceridade. Não é um namoro puro e adequado? Se as coisas continuarem assim, tenho certeza de que Lydia aceitará nosso casamento.  


― Uh-hum.  


Raven deu uma resposta sem entusiasmo, pois parecia que não achava que seria tão fácil.  Mas, então, Edgar de repente percebeu que Raven responderia qualquer coisa perto da verdade que Lydia pudesse perguntar a ele.  


Edgar acreditou que uma explicação seria uma boa ideia e virou-se para seu criado.  


Raven, acontece que ontem à noite eu estava jogando sete bridges no clube do Slade até o amanhecer... 


― Você não acha que não seria para Raven para quem você deve pedir desculpas? 


Quem surgiu foi Ermine. Ela era a meia-irmã mais velha de Raven, uma empregada vestida com roupas masculinas, e o interrompeu em um tom nítido e claro enquanto se aproximava de Edgar.  


― Havia este lenço feminino no bolso do seu casaco. O que devo fazer com isso? 


― ...Jogue fora. - ele retrucou descuidadosamente enquanto se sentava no sofá.  


Lord Edgar, já que pediu a mão da senhorita Carlton em casamento, você não deveria cortar seus laços com outras mulheres? Para ganhar a sua confiança, ouvi dizer que você deve dar um jeito em sua situação.  


― Eu os cortei. Acabou de eu ter uma conversa agradável e animada com a dona desse lenço, não fiz nada de preocupante.  


― Seu mau hábito voltou à tona.  


Ermine o encarou para sua expressão infantil que parecia estar repreendido por travessuras.  


― É um mau hábito seu dar desculpas e fazer escolhas tão irresponsáveis e descuidadas. Você se dá bem quando se relaciona com várias mulheres, mas quando começa a se relacionar apenas com uma, por que fica tão cego e imprudente? 


Muito provavelmente, o que ela disse era exatamente verdade, logo, Edgar ficou irritado.  


―  Não está pensando que, se ela percebesse, você ficaria bem se ela passasse a odiá-lo, não é? 


― Você é minha governanta? 


Ele disse isso para calar a boca de Ermine. Teve efeito imediato. Edgar se levantou, sentindo-se desanimado e miserável.  


― Como você vai passar o dia de hoje? 


Raven fez uma pergunta rotineira quando ele estava prestes a sair da sala. Isso mesmo, ele estava apenas tentando lembrar qual seria sua agenda para hoje. E depois que se lembrou, Edgar sentiu vontade de suspirar. Ele planejava convidar Lydia para passar o dia juntos. Para Edgar, que sentia que os dois começavam a se dar bem, não deveria haver motivos para mudar os planos. 


Porém, por outro lado, continuou a se questionar se estava tudo bem que as coisas se mantivessem assim. Se continuasse a trabalhar juntos, com certeza, ele envolveria Lydia em sua luta amarga. E, no entanto, quando imaginou que poderia evitar de persegui-la, simplesmente, sentiu que não seria capaz.  


Mesmo que Lydia não pudesse amá-lo, queria que ela ficasse ao seu lado, não importando quais medidas que tivesse que tomar. Ainda que ele racionalizasse sobre qual era o melhor para Lydia, no final, Edgar a acorrentou a ele usando um compromisso de seu ego e a forçou a ficar.  


Enquanto isso, também fazia coisas que seriam ruins se chegassem aos ouvidos de Lydia. Ele não tinha o direito de agir como um bom homem e hesitar.  


―  Nós vamos manter o plano. Ermine, leve a governanta ao quarto de Lydia.  

 

Fadas odeiam a intrusão de humanos. E, mesmo assim, desejavam interagir com eles. Ansiavam por comida humana e quando você pensa que eles roubaram o gado de alguém, induziam um viajante a se perder.  


Por outro lado, trariam boa sorte para os humanos às vezes. Era uma maravilha por que as fadas iriam querer uma conexão com humanos assim. Inclusive os fairy doctors, especialistas em fadas, chegaram a aceitar que isso era normal. Que era natural.  


É por essa razão que o trabalho de um fairy doctor era resolver os problemas criados quando humanos e fadas entravam em contato próximo e não eliminar a conexão entre eles.  


Entretanto, talvez os humanos não se importassem menos se as fadas desaparecessem. Atualmente, no período de século 19, a maioria das pessoas na sociedade considerava fadas como seres de livros de história. No entanto, enquanto as fadas desejarem ficar com os humanos, os fairy doctors continuarão sendo a ponte entre as duas espécies. Mesmo se sentindo magoados com os truques das fadas que periodicamente terminavam de forma amarga e eram de partir o coração.  


― Um changeling, hein? - resmungou Lydia, em seu escritório de trabalho na mansão Ashenbert, enquanto lia as cartas escritas por pessoas incomodadas por fadas.  


Lydia era a fairy doctor particular do Conde de Ibrazel (Reino das fadas), Edgar Ashenbert. Assim como seu nome, a família Ashenbert governava as terras do Reino das fadas e porque elas se familiarizaram com a família como o Conde Cavaleiro Azul, havia muitas fadas que ainda viviam no reino humano. É por essa razão que havia todos os tipos de perguntas inundadas para Lydia que pediam seus conselhos.  


Normalmente, o conde usaria seus poderes mágicos para lidar com essas fadas, mas como Edgar não conseguia nem perceber fadas, Lydia teve que tomar seu lugar. De todas as propriedades da família Ashenbert localizadas em toda a Inglaterra, Lydia recebeu todos os tipos de cartas que pediam ajuda, mas os changelings eram um problema muito sério do que tinha lidado até agora.  


― É um changeling de verdade? 


Lydia apenas notou que um gato de pelos grisalhos estava sentado na beirada de sua mesa falando com ela enquanto se inclinava para ler a carta.  


― De acordo com o conteúdo desta cartam parece real.  


― U-hu. -murmurou o gato grisalho Nico ao mesmo tempo em que balançava o rabo de um lado para o outro e mantinha os braços cruzados.  


― Um changeling apareceu em uma das propriedades do Conde Cavaleiro Azul. Esse tipo de coisa não foi advertido por um dos ex-condes no passado? Não havia nenhum gênero de carta sobre essa espécie até agora.  


― Sim. Mas, se isso for verdade, preciso me apressar e recuperar o bebê deles.  


Um changeling é quando uma fada rouba um bebê humano e, em troca, deixam para trás um tronco, uma pedra, uma fada idosa ou, às vezes, uma fada criança. Havia inúmeras razões pelas quais as fadas queriam um bebê humano, o acham fofo e desejam criá-los ou forçados por um demônio para usá-lo como sacrifício.  


De qualquer forma, desde os tempos antigos era comum colocar encantos no berço do bebê para afastar as forças das trevas para que ele não fosse roubado pelas fadas. Mas, atualmente, esses costumes tradicionais foram esquecidos.  


Primeiro, Lydia precisava aprender sobre essa terra o máximo que pudesse. No entanto, tratava-se de uma terra que era propriedade de Edgar. Ela teria que perguntar a ele quais eram suas considerações sobre isso, mas esse fato fez com que Lydia ficasse drasticamente deprimida.  


― ... Por que diabos fico de mau humor quando penso nele? 


Ela se lembrou do incidente que ocorreu ontem. Sobre a mulher de aparência sedutora que carregava um ar triste, mas adorável. E o beijo deles. Se esse era o tipo de beijo que os amantes compartilhavam, logo, quando Lydia roçou os lábios levemente nos dele seria mais um beijo para se dar em um bebê.  


― Calma, Lydia. Você não deve se surpreender com isso que acontece agora. Na verdade, estou mais surpreso que não tínhamos testemunhado uma cena tão óbvia como essa até agora.  


Ele está certo. Não há nada entre Edgar e eu. Mesmo que visse aquela cena, não há nada para me preocupar”, repetiu Lydia para si mesma.  


― Óbvia em quê? 


Com aquela voz, Lydia rapidamente se endireitou e colocou as mãos em cima das coxas antes de dar tempo a alguém para pegá-la desprevenida.  


― Bom dia, Lydia, você está tão linda hoje. Sou homem abençoado por poder vê-la todos os dias assim.  


Edgar entrou na sala com um sorriso agradável no rosto e caminhou até Lydia.  


― Seu cabelo ainda está úmido. - apontou Lydia.  


Ela disse isso insinuando o quão tarde ele chegou em casa ontem à noite.  


― Eu mal podia esperar até estivesse completamente pronto e, então, vim vê-la o mais rápido possível. 


― Você não precisa se preocupar, apenas descanse um pouco se estiver cansado.  


― Não estou nem um pouco cansado. Ontem à noite estava apenas me divertindo um pouco com um jogo no clube de Slade 


Ele trouxe o nome do clube da alta classe exclusivo para homens, possivelmente alegando que ele não teve nenhum contato feminino na noite passada. 


― Ouvi dizer que há esposas zangadas, chateadas com seus maridos, que ficam fora dia e noite nesses lugares e não voltam para casa. Mas, se você está preocupada com isso acontecer, então, eu prometo. Depois que nos casarmos, não quero que você se sinta sozinha.  


― Não estou preocupada e não vamos nos casar. Você é livre para ir a qualquer clube ou à casa de qualquer mulher como quiser.  


― Você não está enganada? Eu só tenho olhos para você e decidi que só vou me empolgar com você.  


― Eu disse que você não precisa! 


Ela não pôde deixar de ficar de mau humor, bateu as mãos em cima da mesa e se inclinou para frente, para depois ser beijada na testa.  


Se eu perder a paciência, ele só faz o que bem quer”. Lydia repetiu isso para si mesma em sua mente, respirou e se acalmou. Recentemente, Lydia finalmente começou a entender que Edgar os interpretaria como casal de amantes felizes provocando um ao outro, mesmo quando eles tinham interações que deixavam Lydia obviamente desconfortável.  


É por essa razão que quando ela foi abordada por ele também pessoalmente e demonstrou uma forte reação, isso só o deixou mais feliz.  


― O mai-mais importante, há um assunto de grande importância acontecendo em uma de suas propriedades.  


Lydia trouxe à tona um assunto de negócios tranquilamente.  


― Esse assunto é muito mais importante. Ouça com atenção, Lydia, preciso que você se apresse e vá para Windsor comigo. Você virá comigo, não é? 


Desde que ele fez uma cara tão séria, ele não pôde deixar de perguntar: 


― O que aconteceu? 


― Precisamos nos apressar, por isso, vou explicar no trem. Harriet irá ajudá-la a se arrumar.  


No momento em que Lydia voltou sua atenção para a porta, Harriet, a governanta, estava segurando um vestido e bloqueando a saída com seu corpo redondo.  


Sempre que Edgar vestia Lydia, suas intenções subjacentes eram levá-la a lugares para reuniões com o objetivo de exibi-la. Não era nada importante.  


― Não vou! Estou ocupada com isso... 


Lydia deu um passo para trás enquanto lutava para pensar em uma maneira de escapar, mas quando esbarrou em alguém com as costas, ela se virou para olhar e deu de cara com Ermine que a encarava.  


― Sinto muito, senhorita Carlton. Por favor, siga o pedido de lord Edgar.  


Mesmo que ela falasse educadamente, Ermine não mostrou nenhum sinal de permitir que Lydia escapasse enquanto apertava os seus ombros.  


― Lydia, não se esqueça disso também.  


Justo no momento em que Lydia o sentiu levantar a mão, ele colocou um anel de pedra da Lua no seu dedo anelar. Era o anel de noivado que possuía a magia das fadas. Provavelmente, porque o poder da pedra da Lua despertaria, uma vez que fosse colocado, apenas Edgar, que era reconhecido como seu parceiro de “noivado” por este anel, poderia tirá-lo.  No entanto, isso deveria ter sido deixado aos cuidados de Lydia e ela o guardou em sua casa.  


Coblynau! Você fez isso! - gritou Lydia, que avistou a pequena fada mineira em cima de sua mesa, enfiando a mão sob o chapéu triangular para coçar a cabeça.  


― Sim, senhorita, my lord me disse para trazer o anel para ele.  


Essa fada cuidou de manter essa misteriosa pedra da Lua e não entendeu que o noivado entre Lydia e Edgar era falso. Ele esperava que o casamento deles fosse verdadeiro por causa da joia da pedra da Lua que estava encarregado de cuidar.  


― Bom, tudo deve ficar bem. Pelo menos você deve usá-lo quando vocês dois saírem juntos. - disse a fada.  


― Agora, Lydia, se você me acompanhar, iremos logo embora.  


― ... Canalha! 


Os braços de Lydia também estavam presos com força por Harriet, logo, era como um peixe em uma tábua de cortar.  


My lord, por favor, saia da sala.  


Justamente quando a governanta estava prestes a tirar as roupas simples de Lydia, Harriet notou que Edgar ainda estava no cômodo.  


― Ah, então, eu não posso ficar, posso? 


― Claro que não pode, seu pervertido! - berrou Lydia cuja a raiva que borbulhava finalmente explodiu.  

 

***** 

 

Depois de subirem as margens do Tâmisa de Londres, chegaram a uma paisagem tranquila cercada por florestas e águas. Esta cidade calma e sossegada foi o lar de um castelo da Família Real dos velhos tempos e o cenário de árvores com as cores do outono refletindo na superfície da água era uma visão maravilhosa que poderia deixar qualquer um encantado.  


O tempo também estava lindo, Lydia usava um vestido azul da mesma cor do céu azul irlandês, e quando deslizaram sobre a água em um pequeno barco para chegar ao castelo do nobre localizado perto do rio, sua irritação também se abrandou. Edgar explicou que um amigo estava dando uma festa para anunciar seu noivado.  


Lydia decidiu esconder sua irritação no fundo de sua mente porque não conseguia manter uma carranca em seu rosto em uma ocasião tão feliz. Ela deu uma olhada furtiva para Edgar. Ela não sabia quanto tempo ele estava olhando para ela, mas quando seus olhos se encontraram, ele deu um sorriso alegre.  


Lydia não conseguia parar de sorrir e ela pensou que era por causa do raio de Sol pacífico e calmante. Uma luz cintilante dançando ao longo da superfície do rio fazia tudo parecer um sonho.  

Seu pequeno barco deslizou ao longo do cais, que estava localizado em um canto do jardim da propriedade, onde várias pessoas desfrutavam de uma festa no local, e os vestidos das visitantes femininas pareciam flores desabrochando no alto do gramado espaçoso.  

Enquanto Lydia tinha os olhos distraídos pelos convidados vestidos em várias cores ao seu redor, caiu em si e, finalmente, percebeu que estava andando com a mão pousada no braço de Edgar.  

 

Tenho que largar”, pensou ela, mas era muito mais fácil para deixar a mão apoiada nele para andar com um vestido que se arrastava pelo topo da grama, logo, decidiu “tudo bem”. Quanto mais baixava a guarda pouco a pouco, começava a sentir que era natural estar com ele. Ela se perguntou se isso significava que estava caindo em sua armadilha.  


Ultimamente, nem o pai de Lydia estava fazendo nenhuma crítica a Edgar. Mas, novamente, isso pode ser porque ninguém tocou no assunto sobre casamento na frente dele.  


― Esse tipo de festa no jardim é bem divertido. O céu e o vento estão parabenizando os dois. O que você quer fazer na nossa? 


Enquanto ela olhava para seus brilhantes cabelos dourados e olhos cor de malva, Lydia realmente pensou por que ele estava olhando para ela com um rosto tão feliz. Era como se ele estivesse tanta felicidade por estar com ela do fundo do seu coração. De certa forma, como se estivesse realmente olhando para sua amada amante.  


― Temos que ter certeza de que suas amigas fadas poderão comparecer. E prepare doces de ervas e muito leite fresco.  


― ... Sim.  


― Sério? 


Huh? Oh, não! Estava apenas pensando em algo agora.  


― Que pena! Meu coração estava batendo tão forte.  


Muito provavelmente, Lydia era a pessoa cuja o coração batia mais rápido. Ela tinha a estranha sensação de que eles iriam ficar noivos naquele ritmo e que iriam dar uma festa.  


Ultimamente, em certos momentos, por algum motivo, esse tipo de sentimento emergia. Ela não tinha ideia do que fazer com a sensação de formigamento que surgia nas profundezas do seu coração.  


― Esses dois são a estrela desse evento. - explicou Edgar.  


No momento em que Lydia soube disso, conseguiu esconder seu nervosismo e caminhou ao lado de Edgar até um homem e uma mulher bem vestidos.  


― Parabéns pelo noivado. - disse Edgar.  


― Obrigado, Edgar. Fico feliz que tenha comparecido.  


Surpreendentemente, o amigo dele acabou por ser o homem.  


― Esta é minha noiva, Jane. - informou o homem.  


No momento em que o homem apresentou a mulher ao seu lado, Edgar a cumprimentou de maneira formal e lhe fez suas homenagens, e como ele não demonstrou nem um pingo de flerte com ela, Lydia sentiu uma sensação de estranheza. Quando ela pensou sobre isso, seria ultrajante e rude se ele flertasse com a noiva de seu amigo, mas porque sua saudação foi tão breve e simples, em contraste, fez com ela desconfiasse.  


― Então, Edgar, me apresente a sua noiva.  


Espere um momento”. Lydia entrou em pânico. Parecia definitivo que ela já era sua noiva. No entanto, ela estava usando um anel de noivado para que ela não pudesse negar, logo, Lydia tentou esboçar um sorriso de alguma forma e cumprimentou o casal.  


― Ouvi dizer que você ainda não anunciou seu noivado oficial, certo? Quando planeja? - perguntou o amigo.  


― Ainda não decidimos. Para falar a verdade, ainda não obtive a aprovação do pai dela. - respondeu Edgar. 


 ― Oh, que coisa! Você está se opondo? - questionou a noiva.  


― Estou apenas esperando cuidadosamente o momento certo. Parece que não se pode confiar em um aristocrata tão facilmente.  


Não é qualquer aristocrata, mas ‘você’ não é confiável”.  


― Você pode estar certo; é fácil ser mal interpretado se você tem um longo histórico de relacionamentos com várias mulheres.  


Os dele são bem longos”. 


― Mas, estou pensando que se eu sentar e ter uma boa conversa com ele, meus sentimentos se sobressairão. Lydia prometeu convencê-lo, então, por favor, acredite em mim.  Vamos esquecer as obstruções antes de nosso amor, hoje, e ter uma parte de sua felicidade e aproveitar o resto do dia.  


A obstrução ao meu amor é você! 


― Ah, sim, por favor, divirtam-se. Oh, senhorita Carlton, eu também sou da classe média. O casamento de diferenças de classe social deixaria qualquer uma nervosa, mas tenho certeza de poderemos nos ajudar a dar conselhos um a outra a partir de agora. Você gostaria de ser minha amiga? 


― Hein? Ah, sim... 


A mulher segurou a mão de Lydia, logo, ela não pôde recusar e assentiu.  


― Graças a Deus! De repente, fui trazida para a classe alta, fiquei assustada com a ideia de não ser capaz de me encaixar.  


Lydia sentiu uma pontada de culpa e ficou exausta ao perceber que isso também fazia parte do plano de Edgar. Parecia que arrastar a Lydia bem vestida não era seu objetivo principal. Ele certamente estava estreitando o leque de escolhas que restavam para Lydia. De modo que só tivesse um futuro sem problemas se casasse com Edgar.  


Até parecia que ele estava preparando amigos para ela da classe alta para que não se sentisse perdida.  


― Oh, senhorita Carlton, adoraria se pudesse apresentá-la a alguns dos meus amigos.  


Parecia que, por enquanto, Lydia ia se afastar do calculista Edgar e decidiu seguir o exemplo da mulher. Enquanto continuavam andando, não demorou muito para que saíssem do terreno da festa e entrasse em um bosque de árvores.  


Justamente quando ela estava se perguntando por que os amigos da mulher estariam em um lugar como este, viu dois jovens segurando taças de vinho em suas mãos. Os dois aparentavam estar bastante bêbados.  


― Ei, vocês dois, estão bebendo demais! 


A mulher falou com os dois homens. “O quê? Seus amigos não são mulheres? 


― Ei, Jane, parece que você trouxe uma amiga fofa.  


― Ei, senhorita, junte-se a nós para uma bebida.  


Um deles veio andando até Lydia e agarrou seu braço. Ela estava sobrecarregada de medo e desgosto com o cheiro dos espíritos.  


― Não, obrigada. Com licença, mas vou me retirar.  


Ela tentou voltar, porém, ele não a soltou. Ela se virou para olhar para Jane em busca de ajuda, mesmo assim, virou as costas para ela de repente e começou a se afastar. Lydia entrou em pânico.  


― Senhorita, diga alguma coisa para esses dois. Eles não são seus amigos? 


― Por que recusar? Você deve se juntar a eles. Parece que eles querem desfrutar da companhia de uma mulher.  


O-o que você está dizendo?... Por que disse algo tão absurda? 


― Eu não sei, há algo de detestável em você.  


Hein? 


Depois que a mulher desapareceu atrás das árvores, o temperamento de Lydia atingiu o ponto de ebulição, ela se virou para encarar os homens.  


― Eu disse para me soltar! 


― Você tem muita energia. Embora, não odeie uma garota assim.  


O homem passou o braço em volta do seu ombro, fazendo-a ficar ainda mais assustada e, em reação, a mão dela o atacou.  


― Ai! O que você pensa que está fazendo? 


O homem que ela bateu com a mão ficou furioso e a empurrou para longe. Lydia acabou batendo contra uma árvore próxima, o que garantiu uma batida desagradável na testa que a fez cair no chão.  


― Por que vocês dois não param aí? - interrompeu uma voz profunda.  


Quando ela levantou a cabeça, viu que havia cavalheiro idoso em pé na frente dela. Ele ficou com a coluna ereta e ergueu o rosto enrugado profundamente irritado e liberou uma presença corporal que faria qualquer jovem recuar.  


― Usando violência contra uma mulher, você perdeu sua honra de cavalheiro britânico.  


Ele olhou para os dois homens com olhos ferozes, e eles devem ter decidido que era imprudente causar uma comoção e, então, saíram correndo em outra direção. O cavalheiro mais velho virou-se para Lydia e se referiu em tom completamente diferente e gentil.  


― Você está bem, mocinha? Você está ferida em algum lugar? Ah, é melhor você ficar quieta um pouco. Vou chamar sua escolta. Qual é o nome de seu acompanhante? 


Ela sentiu um pouco de resistência em chamar Edgar. No entanto, Lydia não tinha outros conhecidos ali. Ela não poderia causar mais problemas a este senhor mais velho que acabou de conhecer.  


― ... Sinto muito pelo problema. Eu vim com o Conde Ashenbert... 


Quando ela disse isso, notou que ele fez uma leve carranca com as sobrancelhas. 


― Conde Ashenbert? Perdoe-me, mas qual seria o seu nome? 


― Meu nome é Lydia Carlton.  


― Lydia! O que aconteceu? Você está bem? - gritou uma voz familiar. 


Lydia viu Edgar vindo correndo em direção deles, logo, ela não percebeu que o cavalheiro mais velho tinha um pensamento difícil.  


― Sim, acabei de ter um pequeno problema, mas esse cavalheiro me ajudou.  


Enquanto Edgar agradecia ao cavalheiro, ele gentilmente passou a mão na testa de Lydia com um olhar preocupado.  


― Parece que há um arranhão. Eu vim dar uma olhada porque Jane voltou para festa sozinha. O que diabos aconteceu? 


― Posso ver que você passou esta jovem para seus amigos de sexo masculino. - disse o cavalheiro mais velho.  


Lydia pensou que a única razão para isso acontecer era por causa desse namorador na frente dela.  


― Edgar, você já flertou com ela antes, não foi? - ela perguntou.  


― O quê? Por quê? 


― Então, você fez algo para machucá-la, não? É por isso que ela fez essa coisa horrível comigo... 


― Eu não fiz nada. Não vendi minha honra para flertar com a namorada de um amigo. - declarou Edgar.  


― Então, por que algo assim aconteceria? - gritou Lydia.  


O cavalheiro idoso, que ouvia a conversa, abriu a boca para interrompê-los novamente.  


― “Eu sonhava em me casar com um nobre, mas quando tive a certeza de que peguei um, ele acabou sendo o filho mais novo. Não sabia que eles já haviam decidido partir e trabalhar no Egito. Agora é tarde demais”, era o que as jovens estavam discutindo há pouco.  


Sentindo-se enojada, Lydia soltou um suspiro profundo.  


Mesmo que fosse filho de uma família nobre, qualquer filho, além do mais velho, precisava de um emprego para ganhar a vida. Portanto, havia uma grande diferença entre o filho mais novo e o mais velho que herdaria o título da família, as terras e a fortuna.  


A mulher devia acreditar que Lydia, que era da mesma classe média, tinha o futuro garantindo ao se tornar uma condessa e, por isso, ela sentiu aversão a ela. Edgar ajudou Lydia a ficar de pé e ela não conseguiu não desmaiar, mas assim como seu vestido manchado de vinho, o modo de Lydia estava em um estado deplorável.  


Eu tive que passar por uma experiência horrível como essa por causa de um motivo ridículo como esse?” É por essa razão que ela não gostava de ir a reuniões com muitas pessoas.  


Quando Lydia era mais jovem, as reuniões eram um lugar no qual as pessoas sussurravam sobre ela pelas costas, no entanto, depois que veio para Londres e teve mais oportunidades de conhecer novas pessoas, sua guarda deve ter baixado pois quando Edgar a acompanhava, não havia qualquer um que dissesse coisas desagradáveis que ela pudesse ouvir.  


Lord Ashenbert, sinto muito que isso tenha acontecido logo após o mal-entendido ter sido resolvido entre você e sua noiva, mas tenho uma pergunta que gostaria de fazer a você.  





Com uma expressão duvidosa, Edgar olhou para o cavalheiro mais velho.  


― O que aconteceu com o casamento entre você e minha neta? - questionou o senhor.  


O sangue ferveu na cabeça de Lydia novamente.  


― Edgar! Vo-você é de tudo mundo... 


― Espere um minuto! Não sei do que está falando.  


― Exatamente, a quantas você propôs? - resmungou Lydia.  


― Você está enganado. Além disso, posso perguntar quem você é exatamente? - perguntou Edgar depois que se virou para o homem.  


Quando o cavalheiro mais velho se apresentou, Edgar se endireitou como se estivesse um pouco surpreso.  


― Sua Excelência, o Grão-Duque de Cremona? Você não estava exilado na Holanda? 


O Principado de Cremona era um nome de um país que até Lydia tinha ouvido falar quando estudava História, mas ela só conseguia se lembrar que era um pequeno país no sul da Europa. Se ele estava no exílio, isso significava que poderia ter havido uma revolução em seu país ou algo assim. Ou talvez, eles poderiam ter perdido em uma guerra. Recentemente, ocorreram alguns movimentos políticos notáveis nos países europeus, e ela ouviu dizer que há um grande número de nobres que fugiram para a Inglaterra.  


― Você está bem informado. Ouviu isso do meu neto? 


― Não conheço seu neto. Quando você está na sociedade, seu nome acabará por aparecer.  


― Jovem conde, eu não acredito que a sociedade londrina ainda estaria falando sobre Cremona que desapareceu há dezessete anos. Tenho vivido tranquilamente na Holanda até agora. O que fez com Charlotte? Depois que você me enviou aquela carta ridícula alegando que você iria se casar com ela, não ouvi nada de você. E depois que vim até aqui para a Inglaterra, você está escoltando uma dama diferente como sua noiva.  


A voz do ancião estava calma, mas seu tom de sua fala não escondia sua raiva em relação a Edgar.  


― Carta? Você está dizendo que foi uma carta minha? 


― Quando conseguimos fugir apenas com as nossas vidas, Charlotte tinha apenas três anos. Ela deveria ter ido para a América com a minha filha e seu marido, mas o navio deles naufragou e pensei que todos tivessem morrido. No entanto, dizia na carta que apenas Charlotte havia sobrevivido e você a levaria de volta como sua noiva para seu país.  


Edgar, de repente, fez uma cara imensamente severa. “Ele tinha algo que lhe veio à mente? 


―Em outras palavras, você não sabia que ela estava viva até ler aquela carta...? 


― Eu não teria como saber. 


Edgar pensou por um momento e depois falou novamente.  


― Então, por que você acreditou apenas lendo uma carta que sua neta estaria viva? 


― Havia um carimbo com um anel de cristal que só o meu neto deveria ter. Qual era o significado de enviar uma boneca de madeira que estava usando um vestido de noiva? 


― É um changeling. - sussurrou Lydia. 


Changeling? 


O Grão-Duque olhou para Lydia.  


― Hum, é um conto de fadas bem conhecido na Grã-Bretanha. Uma fada roubaria um bebê humano, em troca, deixa uma boneca de madeira. Mesmo nos casos em que elas levam adultos, há momentos em que deixa para trás substitutos semelhantes, logo, acredito que é o mesmo caso com sua neta... 


Isso porque no momento em que elas deixavam um substituto no reino humano, as fadas mantinham seu humano no reino das fadas. De repente, ter fadas surgindo na conversa só fez que o Grão-Duque fizesse uma cara de perplexidade.  


― O trabalho de uma fada, você diz. Esta deve ser uma de suas piadas como Conde Cavaleiro Azul. Logo, você sequestrou minha neta e fez parecer que ela foi levada para o mundo das fadas. Quando investiguei isso, realmente, havia uma jovem chamada nos Estados Unidos e evidências de que ela foi sequestrada por alguém. Lord Ashenbert, sua família aparentemente é descrita pela sociedade londrina como tendo laços com fadas. Levei tempo para descobrir que o nome do Conde Cavaleiro Azul era um nobre Lord Ashenbert na Inglaterra, mas é rude de sua parte para não utilizar o seu verdadeiro nome, não é mesmo? 


Edgar parecia desatento e não ficou claro se ele estava ouvindo a dura afirmação do Grão-Duque. “Ele poderia realmente saber de que o homem está falando”, suspeitou Lydia. Porque o homem alegou que sua neta estava na América.  


Embora a América fosse um país grande e espaçoso, ela não podia pensar que Edgar estivesse surpreso ao ouvir o nome do Grão-Duque apenas por causa de seu status social. 


Mesmo sendo um Grão-Duque, ele perdeu sua posição, logo, era de se admirar por que Edgar, que era um filho perdido de uma família duquesa, se tornaria mais respeitoso com o homem. Além disso, antes de herdar o título de conde, Edgar chamava a si mesmo pelo nome de Ashenbert para Lydia. Ele utilizou esse nome enquanto estava na América, então, poderia haver a possibilidade de que ele o usasse para ganhar o favor das mulheres. 

 

Se ele soubesse que a garota sequestrada era a neta do Grão-Duque, poderia ter encontrado um uso dela, pois desejava poder. No entanto, Edgar negou – pura e claramente.  


― De qualquer forma, não tenho nada a ver com o seu caso. É uma pena que não posso ajudá-lo.  


Ele tentou sair daquele lugar com Lydia. No entanto, o homem mais velho colocou seu bastão no chão na frente de seus pés para bloquear o caminho.  


― Se você não tinha intenção de se casar com ela, então, o que fez com a minha neta?... É melhor você não ter feito isso, logo, eu nunca vou vê-la... 


― Se você se atrever a fazer mais alegações falsas, vou aceitar isso como um insulto.  


Quando dois nobres que se preocupavam com a honra começasse uma discussão entre si, isso não poderia terminar com uma simples troca de insultos sujos. Lydia não conseguia entender isso como uma plebeia, o quanto ele pudesse brigar e pulasse para usar os punhos ou mesmo matar um ao outro, mas tinha ideia que esta era uma situação delicada que poderia se tornar explosiva a qualquer momento.  


Em pânico, Lydia empurrou as costas de Edgar.  


― Hum, por favor, nos desculpe por agora. Vou agradecer em outra ocasião.  


Ao dizer isso e conseguir separar Edgar do Grão-Duque tirando-o daquele lugar, sentiu-se exausta assim pararam para respirar à beira do rio.  


―  Por que você teve que falar assim com ele? Se foi um mal-entendido, você simplesmente poderia explicar e deixar tudo claro. Dessa forma, poderia haver algo que você pudesse fazer para ajudá-lo.  


Edgar se virou insatisfeito.  


― Ninguém gostaria de se envolver com os negócios de outra pessoa.  


― Você diz isso, mas seu nome foi usado.  


― Se foi há dois anos, então, aconteceu antes de me tornar conde.  


Lydia inclinou a cabeça.  


― Há dois anos? O Grão-Duque de Cremona não disse quando a carta chegou a ele. 


―  ... Ele disse isso. Você não o ouviu? 


Edgar rapidamente virou o rosto, e isso deixou Lydia cada vez mais desconfiada. Se não fosse seu equívoco, havia algo que Edgar sabia que o Grão-Duque não mencionou. Dizer que foi há dois anos era muito preciso.  


Ele está se escondendo porque tem a consciência pesada? Ele fez uma promessa de se casar com ela? Isso era para usá-la? Ela ainda está viva? 


Ela não foi capaz de perguntar a ele, logo, baixou a cabeça e ficou em silêncio. Edgar foi até o rio e molhou o lenço na água.  


― Lydia, eu cuidarei dele. Já temos inimigos do jeito que está.  


Ele colocou o lenço frio contra sua testa. O corte que ela teve quando foi jogada contra o tronco da árvore formigou e doeu. Seu cabelo castanho-avermelhado se desfez e caiu sobre seu rosto. Edgar penteou as mechas com seus dedos, alisando-as sobre as orelhas como se estivesse penteando seu cabelo. Seus dedos a tocaram, o que a fez sentir arrepios.  


Do nada, a cena que ela viu ontem passou pela sua cabeça. Ela deveria estar acostumada a ser tocada, mas Lydia não conseguia parar, mas puxava seu corpo para trás.  


― Não consigo entender bem as pessoas. A razão pela qual eu tive que experimentar isso foi idiota e você está mantendo todos os tipos de segredo de mim.  


― Segredos? 


― ... Você realmente sabe o que aconteceu, não é? Sobre a princesa do Grão-Duque de Cremona.  


― Você está mesmo suspeitando de mim? 


― Houve algumas mulheres de quem você se aproveitou para falar sobre casamento? 


― Você é a primeira a quem eu propus.  


― Mentiroso. Até hoje, você estava mentindo desde esta manhã.  


― Que parte era uma mentira? 


Como se estivesse ofendido, Edgar franziu as sobrancelhas.  


― Era mentira que você estava jogando no clube.  


― É verdade. Você pode ter certeza com Slade 


― É fácil ter alguém acompanhar sua história.  


― Então, o que tenho que fazer para que você acredite em mim!? 


― Eu não vou acreditar em você. Porque eu vi. Você estava beijando uma linda mulher e entrou em casa com ela.  


Houve um período de silêncio. No entanto, a expressão de Edgar não mudou, então, ela não conseguiu decifrar o que ele estava pensando.  


― Isso..., foi provavelmente, um beijo quando você cumprimenta.  


― Não importa o quão infantil eu seja, até poderia dizer que não era algo assim. 


― Isso aconteceu no calor do momento, nada mais do que isso. Saí da casa dela depois imediatamente e não fiz mais nada.  


E-eu não estava perguntando isso. Porque eu não sou sua noiva de verdade! 


― Mas, você está com raiva.  


Isso é verdade. Ela não deveria se importar e ainda mais era um mistério por que estava com raiva disso. Mesmo em relação a ontem, isso a deixou de mau humor por um momento, mas uma vez que a cabeça esfriou, ela chegou à conclusão de que não tinha nada a ver com ela. E pretendia esquecê-lo, mas quando de repente se lembrou, não foi capaz de conter sua irritação. 


― É estranho eu ficar com raiva? É rude e impróprio de sua parte fazer isso enquanto está tentando flertar comigo. ... No final, isso significa que você está zombando de mim também. 


― Estou falando sério com você. Mas, no momento, são apenas meus sentimentos unilaterais. Há momentos em que até me sinto solitário.  


― Então, você está dizendo que qualquer um trabalharia para você? 


― Era apenas algo para ela passar o tempo. Ela, com certeza, já esqueceu meu nome.  


Quanto mais ele falava em defesa de si mesmo, mais ela não conseguia entender e ficava mais frustrada 


― ...Eu entendo. Você é apenas alguém que não pode levar ninguém a sério! 


Deixando isso sair, Lydia empurrou o lenço e começou a se afastar.  


― Por que você está sendo tão teimosa? Eu mostro a você meus sentimentos sérios e, no entanto, como devo mostrar minha seriedade ainda mais do que agora? 


― O que você quer dizer com teimosia? Não consigo ver sua sinceridade porque você não tem nenhuma em primeiro lugar! 


― Lydia! 


Seu braço foi puxado com força, e ela sentiu alguma dor, mas mais do que isso, notou que Edgar estava chateado com ela, de repente, Lydia ficou nervosa.  


Eu disse algo horrível ao afirmar que ele não era capaz de levar ninguém a sério? 


Porém, Edgar era muito irresponsável e desonesto. Ele estava fazendo coisas que a faziam não acreditar nele. Mesmo que ela tentasse se livrar de seu aperto, ele não mostrava nenhum sinal de soltá-la. Seus olhos cor de malva-acinzentados a olharam desafiadoramente. Lydia sentiu que perderia se desviasse o olhar, então, o encarou. Ele inclinou o rosto para ela, ao qual ela mal conseguia falar com uma voz trêmula.  


―...Pare. Você faz algo assim enquanto está irritado comigo? 


Como se estivesse desistindo, mas sem esconder sua irritação, Edgar soltou Lydia de modo desajeitado.  


― Eu... estou indo para casa. - ela murmurou, enquanto tentava controlar seu nervosismo. Seu vestido estava uma bagunça, e não teve coragem de voltar à área de festa.  


― Tudo bem. Vamos para casa.  


― Quero ir para casa sozinha.  


― Não posso deixar você voltar sozinha para Windsor.  


― Então, vou voltar com Ermine 


Para falar a verdade, Lydia ficou nervosa mesmo nisso, pois parecia que ela estava sendo monitorada por Edgar, mas para que ele tirasse o anel de selenita, não queria continuar brigando.  


Nota da tradutora 

E aí? O que podemos esperar desse novo livro? Pois bem, estamos sendo apresentados à Lota, uma das personagens mais interessantes da light novel e que se tornará a amiga mais importante (aliás, a primeira amiga humana) da Lydia.  

E o Edgar continua cafa, né? Oh, homem (lindo) que não presta!  

Fique de olho no Grão-Duque de Cremona, ele será uma das peças-chave desse livro.  

Então, é isso! Logo mais chego com o segundo capítulo! 

Beijos e até lá!