domingo, 5 de setembro de 2010

Reviravolta - Parte 7

Prova

O voo durou um bocado de horas, mas o cansaço não me impediu de desfrutar de pisar pela primeira vez em solo japonês. Confesso que mesmo sabendo dominar a língua, estar no local é prova de fogo. Para não passar feio, algumas vezes, tivemos que recorrer ao inglês. Mas o encanto e a graça de cada pedaço de Tóquio não me escaparam aos meus olhos. As pessoas vestiam-se do modo tradicional até o mais exótico. E tudo com muita naturalidade.
A arquitetura mostrava que o antigo pode muito bem conviver com o moderno, com o tecnológico. Também, vale ressaltar as inúmeras luzes neon dos letreiros. Dentro do táxi, enquanto íamos a caminho do hotel, senti um misto de medo, alegria e curiosidade.
Chegamos ao hotel morrendo de fome. Fomos até o quarto para deixar as malas e já começamos a (tentar) praticar os costumes daquele país: tirar os sapatos quando se entra no quarto, utilizar um chinelo para quarto, outro para banheiro, fazer uma pequena reverência como cumprimento e por aí vai.
O jantar japonês (pelo menos do hotel) tinha uma riqueza de detalhes e sabores que ia além de qualquer experiência gastronômica que tivéssemos conhecido. Além dos pratos virem bonitos, como eram perfumados e deliciosos e o atendimento possuía uma delicadeza que pouquíssimas vezes pude presenciar.
- Estamos se saindo até que bem, hein?, disse Du enquanto levava mais um copo de saquê à boca.
- Chega, chega!!. Amanhã você precisa levantar-se cedo. Se esqueceu?, reclamei.
- Tá bom, pode deixar!
Subimos para o quarto. Enquanto ele preparava o futton, eu escovava os dentes. Mesmo cansada, não queria dormir. Tinha tanta novidade, tanta coisa a ser descoberta, mas algo me dizia: "acalme-se, Cathe, as suas experiências não podem criar 'pernas' e saírem andando". Simplesmente, elas esperam que as conheça cada uma, sem pressa.
Mais tarde, aconcheguei-me ao seu lado. E quando começava a deixar o corpo relaxado, senti que ele me beijava levemente no rosto e descia para o pescoço....

Minutos mais tarde, quando estávamos mais calmos, as luzes que ultrapassam os vidros da janela, ainda insistiam chamar a minha atenção. Mas com insucesso, porque naquele momento, mais nada me importava. Estava à vontade, com a cabeça no seu peito e o pijama (assim como o dele) jogado no chão e longe do futton.
- Obrigado por ter vindo. Essa viagem seria sem graça sem você, disse ele sussurrando.
Esbocei um sorriso de satisfação e o cansaço gostoso me fez adormecer mais rápido. Porém, no meio da noite acordei sobressaltada. Não lembro com que tinha sonhado, mas me deixava aflita e com medo incompreensível. Inclinei o corpo em direção a ele, mas Edu estava dormindo tão tranquilo que dava para ouvir o ressoar da sua respiração. Afastei com força qualquer pensamento ou sensação que me deixava naquele estado, abalada. E com uma certa dificuldade, voltei a dormir.

Foram 30 dias surpreendentes, onde aprendemos um pouco de tudo: os costumes, novos pratos e cultura. Além disso, a viagem serviu de termômetro como estava nossa fluência que agora posso dizer: regular. Foi triste reconhecer que ainda havia muito a aprender.

Chegando ao Brasil, hora de desfazer a mala, redigir a reportagem e retomar a rotina.
Logo que cheguei, entreguei o texto e com o briefing das fotos. Consegui tirar muitas fotos e principalmente de garotas que saiam às ruas vestidas como fossem seus personagens preferidos. E isso é mais comum do que se imagina. Quando mostrei essas fotos para Patrícia, ela falou:
- Poxa, Cathe, a riqueza de detalhes! Que coisa maravilhosa! Pensando bem, acho que ainda vou dar um pulo lá. Olha essa menina vestida de bonequinha!
- Patrícia, essa é uma cosplayer que está representando a Shinku, personagem do anime Rozen Maiden.
- Quem diria, você é realmente uma viciada, disse rindo. - Preciso aprender ainda muito desse assunto. E se a Cecília ver isso, vai logo querer fazer algo parecido. É, mãe padece, completou como fosse um suspiro.
Quando ela disse essa última frase, deu-me um embrulho de estômago, um enjoo que não sabia explicar.
Voltei para a minha mesa meio febril, e preparei o briefing para orientar a arte na diagramação da matéria. O enjoo veio mais forte dessa vez, que tive que sair correndo para o banheiro.
Esse sintoma persistia pela manhã e passava no decorrer da tarde. Quando me dei conta, a minha menstruação estava atrasada. Não cheguei a falar nada para Eduardo. Até porque pensei que talvez só impressão. Ledo engano meu...

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