domingo, 15 de agosto de 2010

Reviravolta - Parte 3

Monstro

A noite estava fria, e o fechamento foi regado a xícaras de chocolate com marshmallow, biscoitinhos de queijo e outras especiarias.
- Tudo por conta da casa, falou Marta.
Como de costume, ele apareceu no final dos trabalhos.
- Tudo certo então? Posso levar o CD ?
- Claro! A prova chega na segunda e damos a última batida aqui, respondeu Marta.
- Ótimo! Agora vão que vocês precisam descansar, disse olhando para mim. E quando reparei, ele  tentou desviar o olhar o mais rápido possível.
O som das inconfundíveis batidas dos saltos altos que aumentavam conforme chegavam à sala atrapalharam o entendimento do resto da conversa entre ele e Marta.
- Boa-noite!
Foi difícil controlar as minhas emoções e a minha feição diante daquela figura. O tom da voz cortante e seco, os cabelos presos em um coque, o olhar superior e o mesmo ar vulgar mesmo vestida em um tailleur... Era ela...Berenice.
Quase me senti desfalecer quando ela pegou no braço de Giovanni, e o olhou de forma lânguida, meio que se oferecesse, lá, na frente de todos.
Ao mesmo tempo, ele parecia sem jeito e evitava me olhar. Eu os encarava apreensiva, assustada, mas o meu olhar era fulminante, cheio de raiva.
Para sair correndo da situação, ele disse em ritmo rápido:
- Bem, antes de tudo muito obrigado pelo trabalho. E desejo a todos, uma ótima noite.
Ótima noite??? Só se for para ele!! . Nunca desejei a morte de alguém como naquele momento! E nunca iria imaginar que ele estava com ela.
No táxi, de volta para casa e ao lado de Marta, tentei disfarçar a voz trêmula, o choro preso na garganta, as olheiras fundas e olhar perdido que focava nos prédios, casas, comércio que eram mal iluminados pela luz fraca dos postes.
- Você está bem?, perguntou Marta com uma voz preocupada
- Sim, disse com um suspiro – Ah, tudo ficará bem... tem que ficar tudo bem...
Os dias que se passaram foram os mais tristes da minha vida. Não me conformava comigo mesma por me sentir tão atraída e apaixonada por ele. Não me conformava sentir o que estava sentindo. Sentia tonturas, talvez pelo esforço que o meu cérebro fazia para procurar as respostas que as perguntas do coração gritavam sem cessar. Tudo inútil. E assim me sentia também: inútil.
Tentei me focar no trabalho, mas como aquele mês não rendia bons frilas, sempre me pegava com o mesmo dilema: "Por quê?" E eram vários porquês...Por que me apaixonei por ele? Por que ele não foi sincero comigo? Por que depositei tanta esperança em algo que não tinha futuro?
Recebi apoio de amigos, sai várias vezes, ia para baladas, me embebedei. Mas foi uma adolescente que me mostrou a saída...

Nenhum comentário: