domingo, 28 de fevereiro de 2021

O conde é a raiz do infortúnio - Capítulo 1 - Volume V - Hakushaku to Yousei Light Novel



Ao diamante amaldiçoado, com amor - Livro V


Nota de apresentação 


Feliz Ano-novo! Eu sei, um pouco atrasado, mas retomando as nossas atividades.  

Sem demora, vamos ao capítulo =) 


Ela não possuía um nome. E é por isso que Edgar deu nome a ela. Ela disse uma coisa atrevida como se quisesse ser chamada pelo nome de uma mulher que ele não conseguia esquecer. Ele a chamava de Jean e ela aparentava tão emocionada. Eles tinham escapado do homem que escravizou tanto meninos e meninas inocentes. Ela era um membro da equipe de Edgar que lutava contra o Príncipe.  


― Nosso pequeno diamante negro. - sussurrou Edgar enquanto olhava para o caixão malfeito.  


A badalada do sino à meia-noite soou no cemitério atrás da igreja localizada em uma esquina em Londres.  


― O lendário diamante negro está realmente em um caixão como este? 


Edgar reuniu esta noite os seus subordinados de maior confiança, Raven e Ermine, e os membros da organização secreta “Scarlett Moon”. O homem denominado Príncipe, que manteve Edgar como seu escravo, fez a reivindicação na sociedade do submundo na América.  


Os membros da “Scarlett Moon” tinham um ódio amargo do Príncipe. É por isso que Edgar decidiu se unir a eles.  


Quem acabara de falar foi um dos principais membros, Slade. Com ele na liderança, os membros da “Scarlett Moon” se voltaram ao seu novo líder Edgar enquanto estava perto do caixão com a aparência de não saber o que no mundo este homem possuía em sua mente. 

 

― O diamante negro que o Príncipe finalmente obteve depois de tanto trabalho difícil e árduo... Lord conde, ouvi dizer que você foi capaz de recuperar quando escapou de seu controle.  


Quem contou isso foi Paul, outro membro da “Scarlett Moon” e pintor que Edgar conhecia há um bom tempo. Foi exatamente como ele disse. Mas, roubá-lo criou uma extrema irritação no Príncipe. No final, todos os aliados de Edgar, exceto Raven e Ermine, foram mortos.  


Ou talvez, a razão por isso ter acontecido foi por causa da maldição do diamante negro? Porque o diamante, que desapareceu das mãos de seu dono original, foi transmitido para outra pessoa e lhe trouxe tristeza e miséria, assim como todos os que o possuíam.  


― Mas, você tinha o diamante armazenado em um caixão? Todos franziram a testa quando soubemos que você tinha feito um pedido para que um cadáver fosse lhe enviado da América.  


― Eu encomendei um cadáver.  


― O quê? 


Tirando a cartola, Edgar inclinou a cabeça para o caixão. Seu cabelo louro dourado tinha um brilho tão forte quanto a Lua e se destacava no cemitério noturno.  


Jean disse que gostava do cabelo louro de Edgar. Durante esse tempo, quando eles se escondiam na periferia da cidade, ela observou enquanto Ermine cortava o seu cabelo e alegou que seria capaz de cortá-lo com mais graça do que ela.  


― Jean disse que se mataria se fosse preciso para que o diamante não fosse levado pelo Príncipe. E ela escondeu de tal maneira que era a única a saber onde ele estava.  


Raven puxou cuidadosamente os ferrolhos que foram colocados na tampa do caixão.  


― Quando nosso esconderijo foi descoberto pelo Príncipe, ela foi a única que vigiou nossa fuga e morreu depois de esconder o diamante. Eu encontrei o corpo dela, levei-o para a igreja e pedi apenas que fosse enterrada.  


Claro, ele não mencionou que ela se suicidou, logo o pastor teve pena da morte da garota e prometeu a ele que a colocaria em um túmulo no canto do cemitério. E depois que Edgar se acostumou a morar na Inglaterra, ele estava cuidando dos planos de algum tempo atrás para reivindicar os restos mortais de Jean.  


― Lord Edgar, há marcas de que a tampa foi aberta. 


― O que significa, conde, o Príncipe não poderia ter conseguido o diamante? 


Na época, o Príncipe foi à procura do diamante negro, vasculhando todos os lugares onde Edgar poderia tê-lo escondido, incluindo os túmulos dos seus companheiros.  


Mas, ele sabia que o diamante negro de Jean não tinha sido levado. Ele estava certo disso.  

Finalmente, a tampa foi levantada.  


― Belas joias corrompem a vida das pessoas. Você conhece sobre o diamante Regent? Há muito tempo, os escravos de uma mina de ferro roubaram e fugiram com grandes diamantes que encontraram. Eles cortaram a panturrilha de suas pernas para esconder as pedras. Eu já tinha contado essa história para Jean antes, logo fui capaz de achar imediatamente quando encontrei o seu corpo.  


Logo, Edgar teve a ideia de que a maneira mais segura de esconder o diamante seria enterrá-la assim.  


― Achei. - disse Raven em um tom casual. 


O corpo esquelético não servia mais ao seu propósito de esconde o diamante. Parecia que Príncipe seria muito rápido em descobrir seu túmulo. Edgar abaixou-se e olhou para a garota dentro do caixão.  


― Obrigado, Jean. E boa noite. Não vou perturbar seu sono mais.  


Ele colocou o lírio que tinha em sua mão e se levantou.  


― Slade, você consegue restaurar este diamante de volta ao colar de seu desenho original? De acordo com seus registros era um colar elaborado que tinha pequenos diamantes decorativos ao redor. Depois de ter passado pelas mãos de muito, acabou se revelando apenas um diamante negro.  


― Se for o artesão da “Scarlett Moon”, então é possível... Contudo... 


Slade olhou para o caixão e se derramou como se não pudesse mais conter seus pensamentos.

 

― Ela é apenas uma criança.  


Jean mal tinha completado dez anos.  


― Conde, se for contra o Príncipe, você está pensando que é certo sacrificar crianças? 


Durante esse tempo, Raven e Ermine e até mesmo Edgar eram apenas crianças. Mesmo assim, dez anos seria muito jovem para perder a vida.  


― Você sabe que não é como se ele quisesse sacrificá-los se pudesse, não é? - disse Paul no lugar do Edgar.  


― Você diz isso, mas o conde dá uma impressão muito forte como líder. Ele tem uma aparência e um modo de falar que chamam a atenção de todos. Para uma criança pura, ele pode facilmente se tornar um herói ideal. Se fosse por você, logo, eles poderiam fazer qualquer coisa, até chegariam a pensar que era seu dever. Com essa garota pode ter sido assim, e mesmo agora, há alguns na “Scarlett Moon”, um menino que se tornou completamente dedicado a você... 


Agora, ele se lembrava. Edgar recordou de que havia um garoto que costuma fazer uma visita à casa do conde.  


― Mesmo em nossa organização, nossos jovens membros são estimulados e prontos para seguir suas ordens. Porém, quando ouvimos que todos os seus ex-companheiros lutaram e morreram, nós, membros mais velhos, ficamos preocupados se você faria algo particularmente imprudente. Na verdade, sonhávamos e esperávamos que o Conde Cavaleiro Azul retornasse à Inglaterra para que pudesse nos guiar, mas para você que herdou apenas o nome, não sabemos até onde devemos segui-lo.  


― Não me importo se você não acreditar em mim, entretanto se você não seguir o que digo, não terá chance em vencer o Príncipe.  


Ele observou a tampa do caixão ser fechada e, depois, Edgar colocou a cartola novamente.  


― Mas, se todos vocês não planejam morrer por mim, tudo bem também. Eu também não quero seguir com esse estilo de luta.  


Slade pode ter sentido a dor de Edgar apenas um pouco, portanto, permaneceu em silêncio. A terra foi jogada e amontoada no topo do caixão.  

Muitos de seus amigos morreram e apenas Edgar sobreviveu. Quando ele se perguntava o motivo – assim como Slade disse -, ele sentia uma espécie de sorte do destino em torno de si mesmo.  


Como ele nasceu nobre, cresceu sabendo que estava em uma posição que se destacava desde muito jovem. Mas, mais do que isso, parece que as pessoas que se reuniam em volta dele o viam como um “líder” natural. Talvez por causa de sua aparência, ou talvez pela sua personalidade, ou porque subconscientemente ele usou métodos que o Príncipe implantou nele que o capacitou a manipular a mente dos outros.  


No entanto, a partir do momento em que Edgar tomou a decisão de fugir do Príncipe, seus amigos precisaram de um líder que os fizessem sentir vontade de segui-lo, logo, ele pensou ser o ideal para eles.  


Porém, o vínculo feito de fé e lealdade a Edgar fez seus companheiros escolherem a morte em vez de fugir da batalha. Mesmo que não houvesse esse tipo de valor nele. Contudo, Edgar ainda lutava contra o Príncipe. Mesmo que ele pensasse que era para curar a dor dos sacrificados, se elevasse ainda mais o número de mártires, logo, suas ações poderiam ser contraditórias. Se ele acreditasse no que deveria fazer, ainda como se fosse seu destino, acabou o fazendo a seguir em frente.  


Porque ele sentiu que não poderia desperdiçar o diamante confiado a ele depois que foi protegido por Jean em troca de sua vida.  

 

*** 

 

A festa de chá não tinha nenhuma formalidade em comparação às reuniões dentro classe alta da nobreza, logo, foi muito fácil Lydia se acostumar. Mesmo que Lydia achasse que não era fácil para uma garota de classe média como ela – que veio do interior da Escócia - entrar no círculo de conversa que ocorria entre aquele grupo de nobres.  


Para começar, Lydia era da espécie que não era boa em estar perto de pessoas. Era ótima para ficar perto das fadas, porém as maneiras e etiqueta delas e a classe alta eram completamente diferentes.  


Mesmo que você explicasse o que significa às fadas, elas não importariam nem um pouco, porém, para se dar bem com as pessoas, mentir era justificável. Para começar, a sociedade estava cheia de pessoas que pensavam que as fadas eram apenas personagens de livros infantis e, por causa disso, Lydia era considerada uma excêntrica obstinada.  


Apesar disso, Lydia compareceu a este chá com a presença de apenas  mulheres 


― Não tenho visto você-sabe-quem. 


― Ouvi dizer que ela fugiu.  


Lydia estava sentada em uma mesa reunida com garotas da mesma idade, mas não fazia ideia de quem elas estavam falando. Ela não conseguia acompanhar a conversa.  


― Mas, você sabia que, quando ela foi para casa de seu pretendente, a esposa dele já estava lá antes dela! 


A anfitriã do chá era a duquesa Lady Macefield. De todos os nobres da classe alta que Edgar apresentou Lydia, ela era senhora idosa que mais a tratava bem.  


A duquesa acreditava na existência das fadas e sempre ficava animada para falar delas e dos contos relacionados com Lydia. Ela até reconheceu a capacidade de Lydia de ver fadas que pessoas comuns não podiam ver, serem aptas de se comunicar e se tornarem amigas delas.  


Lydia tinha a mesma idade que uma neta se a duquesa tivesse, e se sentia digna e estimada por ser chamada de amiga por ela.  


É por essa razão que ela recebeu o convite, e mesmo sendo apenas uma reunião das mulheres mais próximas à duquesa, por volta de trinta, era natural que Lydia não pudesse conversar apenas com a duquesa.  


Estavam na residência dela, em um terraço que se encontrava ao ar livre e dava para um amplo jardim, e sem prestar muita atenção na conversa das mulheres sobre o boato, Lydia colocou uma grande porção de creme em seu pãozinho.  


― Mas, então, soube que ela saiu correndo e voltou para a casa de sua família.  


― Sendo enganada por tal homem, uma mulher caída será vista como uma arruinada.  


― Oh, ela provavelmente não será capaz de mostrar seu rosto diante da nobreza.  


Há algum tempo, havia uma pequena fada perto de um vaso de alfazema que as vigiava com olhos ardentes. Lydia silenciosamente colocou seu pãozinho na grama a seus pés.  


― Senhorita Carlton, o que acha? 


― ? Sobre o quê? 


De repente, no meio da conversa, Lydia endireitou a sua postura. As pequenas fadas vieram se reunir em torno do pãozinho e começaram a carregá-lo de debaixo da cadeira. Aos olhos de uma pessoa comum, era um bolinho com creme que balançava pela grama, porém as jovens não repararam.  


― Com relação a como uma dama deve cortejar um homem. É natural que se tenha casamento em mente, mas não poderia haver casos em que uma lady pudesse ser enganada com a promessa feita de palavras.  


― ... Sim.  


― Então, acredito que seja melhor cortejar um solteiro que é aprovado pelos pais da mulher. - disse uma jovem.  


― Oh, mas, o chefe da casa da senhorita Carlton é um professor universitário. Logo, é um pai rígido, não? Não te disseram para tomar cuidado com homens da alta classe? 


Era verdade que o pai de Lydia era um professor universitário, mas ele era completamente diferente da imagem normal de como uma pessoa de sua área supostamente é e a deixava viver livremente. Mesmo assim, essas jovens, provavelmente, não se importavam com essa parte; deviam querer saber como uma jovem de classe média pensaria em cortejar um nobre. 

 

Era comum ouvir falar de um homem de berço nobre colocar as mãos em uma jovem ingênua e depois jogá-la fora, como não fosse capaz de cometer o mesmo ato impróprio contra uma filha de uma próspera família, se seu pretendente fosse um plebeu, logo, era uma história bem ouvida.  


Nesse círculo de moças, não havia ninguém que desprezasse Lydia, que foi apresentada pela duquesa como ‘sua amiga muito querida’. Mas, ainda assim, essa pergunta deve ter sido feita porque pensavam que ela simplesmente não pertencia a mesma casta.  


― Você está realmente sendo cortejada pelo conde? 


― Eu... Não sei o que você quer dizer com isso. - respondeu Lydia. 


― O conde Ashenbert. - ela apontou.  


Lydia era a fairy doctor do conde, Edgar Ashenbert, contratada de forma privada. Ele era um jovem conde extremamente bonito e, além disso, era um homem que carregava o raro título de conde de Ibrazel (País das Fadas), famoso na alta classe de Londres.  


Atualmente, nos meados do século 19, um título era apenas um título, mas não era como todo mundo realmente acreditasse que ele era o senhor do País das Fadas, porém, para as fadas que viviam na Inglaterra, o homem que tinha esse título era visto com admiração e respeito como o descendente humano que governava a Terra das Fadas, que se localizava em algum lugar no fim do mundo e era o local de nascimento de todas as fadas.  


Para falar a verdade, Edgar não possui nenhum sangue da família Ashenbert correndo em suas veias e não sabia nada sobre fadas. E assim, Lydia acabou sendo contratada por ele, mas como os dois passavam muito tempo juntos, as pessoas entenderam que poderiam ter um relacionamento íntimo.  


Anteriormente, ela foi descrita nos jornais de fofoca como o verdadeiro amor do conde. É por essa razão que as senhoras queriam verificar a veracidade do boato que chegou aos seus ouvidos.  


― I-isso é impossível. Ele é apenas meu chefe.  


A atmosfera ao redor delas mudou para alívio. Ao mesmo tempo, Lydia percebeu uma pista na atmosfera como se estivessem pensando: é claro. Não era como se todas mulheres aqui tivessem sentimentos românticos por Edgar, mas elas compartilhavam do mesmo pensamento de que não podiam aceitar Lydia – que estava sentada bem na frente de seus olhos – como namorada de Edgar.  


Ela tinha cabelos castanho-avermelhados – que foi descrito como uma cor de ferrugem – penteados de forma simples, porém seu penteado não estava benfeito como as jovens, que eram lindas o suficiente para ir a um baile e ela teve a experiência de outros que a perturbavam por seus olhos verde-dourados, alegando que se pareciam como os de uma bruxa.  


Mesmo Lydia também não estava convencida disso. No entanto, não tinha como levar a sério a proposta de Edgar.  


― Entretanto, lord conde é tão gentil, um adorável conversador e tão charmoso, que é difícil encontrar uma falha nele. Mesmo assim, você não concorda que aparenta ser um homem em quem não se pode confiar facilmente? - perguntou uma das jovens do círculo de Lydia.  


Sim, sim, isso mesmo. Não se pode confiar naquele homem acima de tudo”. 


― Parece que ele é igualmente bom para todos. E quando você fala com ele, começa a sentir que  pode estar interessado em você.  


― Ele parece ser bastante libertino.  


― Isso mesmo. Eu ouvi um boato de que ele possui um harém.  


― ? Um harém? 


Lydia não pôde evitar de se inclinar para frente para não perder uma palavra do que a jovem havia dito.  


― Ouvi dizer que em Londres existem empresas que prestam esse tipo de serviço. E que é um lugar onde os homens podem ter uma amante após a outra e agir como fosse um rei pagão.  

Lydia tinha ouvido tantos rumores ruins sobre Edgar que suas orelhas poderiam apodrecer por causa deles. Alguns deles eram bastante ridículos, mas cada um deles era ligado às mulheres, logo, ela começou a cogitar que poderia haver a possibilidade de Edgar possuir um harém.  


― Não sei ao certo, mas uma princesa estrangeira que se apaixonou pelo conde desistiu da família e do noivo para vir a Londres. Como ela era pagã, o casamento entre o conde e ela era impossível, mas ele não tinha a opção de mandá-la de volta, logo, o rumor é que ele esteja a escondendo em um harém.  


― Por que ele não pôde mandá-la de volta? 


― Bem, isso seria impossível, porque ele a tocou. Em um país pagão, dizem que uma filha que perdesse a virgindade antes do casamento seria morta pelo pai.  


Eu me pergunto se isso é verdade”. O cristianismo não era tão rígido assim, porém não havia nenhuma diferença sobre como isso se tornaria uma mancha em uma mulher pelo resto de sua vida.  


Entretanto, se isso fosse verdade, então, Edgar era um homem extremamente horrível. Tocar em uma mulher quando ela não era alguém com quem se pudesse enganar... Como Lydia pensava nesse assunto, ela também pensava que precisava ser mais cuidadosa, mas ficou com vergonha de até imaginar esse tipo de pensamento enquanto o sangue corria para o rosto.  


― Mesmo se ela fosse uma princesa, não havia como o conde levar a sério um pagão estrangeiro.  


― Que comportamento impensado dessa mulher. Ela deveria saber melhor e se lembrar do seu lugar. Você não acha, senhorita Carlton? 


Já que as classes dele e suas são diferentes, você seria apenas seduzida, mas depois ter sido aproveitada. Se você se deixar se levar por receber muita atenção do conde, passará por um sofrimento – poderia ter sido o que as jovens realmente queriam dizer, porém Lydia estava muito distraída com o tópico estimulante sobre um harém, de modo que a mensagem escapou completamente dela.  


― Senhorita Carlton, por que não se ajunta a mim? Seria maravilhoso se você pudesse gastar um pouco de seu tempo conosco, mulheres idosas. - perguntou a duquesa.  


A duquesa pode ter chamado Lydia porque ela parecia não estar se encaixando completamente com a conversa na mesa. A elegante nobre anciã, de fala mansa, era extremamente aberta, amigável e adorável quando jovem. Quando ela falava com alguém, se sentia relaxado e esquecia que ela era um membro da alta classe.  


Assim que foi solicitada, Lydia se levantou de sua cadeira. Houve outras conversas acaloradas em outras mesas, mas a Duquesa conduziu Lydia para longe do terraço.   


No momento em que ela foi conduzida para outra sala, havia uma figura parada perto da janela que virou para encará-la. Era um jovem esguio que possuía impressionantes cabelos louros-dourados, olhava para ela com seus olhos malva-acinzentados e sorriu feliz. Era apenas a pessoa de quem as moças comentavam.  


Junto com uma casaca de noite verde-escuro, ele usava uma gravata violeta. Ele havia se vestido com roupas finas e de alta qualidade como sempre fazia, mas vestir-se para a noite era aparentemente algo costumeiro aos nobres.  


Não havia nada de negativo que alguém pudesse dizer não apenas sobre a sua aparência, assim como também sobre suas roupas, mas quando ela o encontrou inesperadamente por coincidência como uma estranha, Lydia perderia a sensação que estava sorrindo para ele, e virou ao redor para ver para quem ele poderia estar sorrindo atrás dela.  


― Minha Lydia, senti sua falta.  


A parte ‘minha’ é desnecessária”. Ainda arrastando o boato sobre a princesa estrangeira pagã no fundo de sua mente, Lydia via Edgar como um homem frívolo muito mais perigoso do que o normal. Ela sabia que os rumores tendem a ser falsos, mas ainda se sentia perturbada.  


Deixando de lado a expressão desagradável de Lydia, Edgar pegou sua mão e a tratou como uma lady respeitável, como sempre. Antes que seu beijo de saudação pudesse tocar a ponta dos dedos, ela correu para puxar a mão. Ele não parecia nem um pouco incomodado com a atitude aberta de desprazer de Lydia.  


― Edgar, por que diabos você está aqui? Esta é uma reunião para as mulheres tomarem chá juntas.  


― Eu vim buscá-la. Além disso, queria encontrar a Duquesa e obter sua resposta a respeito do que tinha pedido ajuda. Se ela concordar em nos auxiliar, você precisa se certificar e agradecer também.  


Lydia teve um mau pressentimento.  


― Agradecer em quê? 


― Se ela concordar em nos ajudar para que possamos ficar oficialmente noivos.  


Edgar sempre tentava primeiro construir um muro ao redor de Lydia para que ela não tivesse saída e depois obrigá-la a fazer o que ele queria. Lydia não tinha intenção em seguir com seu plano de “noivado”, no qual ele a enganou, e mesmo que soubesse disso, seguia com o plano.  


― Espere, Edgar, pare de brincar! 


Calma, calma, senhorita Carlton. Vamos nos sentar enquanto discutimos isso. - sugeriu a duquesa.  


Quando a duquesa dizia, Lydia não podia se permitir ficar emocionada. Todos se sentaram ao redor de uma mesa e, em pouco tempo, uma criada entrou com o chá. Como se eles estivessem seguindo com a festa, a duquesa sorriu agradavelmente, enquanto olhava para Edgar e Lydia, e abriu a boca em um tom ligeiramente engraçado.  




― Você realmente não tem uma aliança em seu dedo. Você ainda deve uma resposta à proposta do conde? - perguntou. 


― Hum... Isso é, mas... - murmurou Lydia.  


― Eu ouvi do conde que ele não está conseguindo obter uma boa resposta de você neste momento, e embora tenha lhe dado um anel de noivado, você não tem nenhum sinal de usá-lo.  


Lydia sabia que esse mulherengo não estava falando sério com ela. Para que ele permanecesse conde, precisava da habilidade de Lydia como uma fairy doctor. Portanto, seu motivo oculto era se casar com ela para que pudesse mantê-la ao seu lado pelo resto de suas vidas.  


Ele certamente não ficaria satisfeito com apenas uma mulher e, por isso, não havia a possibilidade de que escolhesse uma parceira de casamento baseado apenas em sentimentos amorosos. Como Lydia acreditava nisso, resistia a Edgar, que sempre tentava usa qualquer oportunidade para tratá-la como sua noiva e sentia raiva e medo de que ele poderia ter contado à duquesa. Ela o encarava, ao mesmo tempo em que ele se sentava frio e seguro.  


Ah, não. Ele pode ter bolado algo para que eu não pudesse recusar a me casar com ele... 


― Eu sei que os sentimentos são os fatores mais importantes. Então, por favor, me perdoe por me colocar entre vocês dois. Mas, ele esteve pensando seriamente em você e veio me pedir ajuda. Ele diz que esteve falando sério quando lhe propôs e não tem a intenção de desonrá-la. Logo, me perguntou se eu poderia ser uma testemunha disso.  


Com uma explicação tão inesperada, Lydia levantou a cabeça.  


―... Uma testemunha? 


― Já que você trabalha na casa do conde, não seria estranho se você estivesse em uma situação que estaria sozinha com ele. Além disso, se o conde tem sentimentos por você, logo, haveria pessoas que teriam ideias indelicadas. Porém, ele se declarou sob juramento que não a destrataria de forma alguma. Mesmo se você se recusar a proposta dele, garanto que seu futuro não será arruinado. 


A sociedade rotularia uma jovem solteira como caída, uma vez que ela estava sozinha com um homem. E como Lydia não era um par, sua posição era mais fraca. Era aí que Edgar estava tentando obter o apoio da duquesa, fazendo que ela se tornasse patrona de Lydia.  


A duquesa inicialmente teve uma boa impressão em relação a Edgar, e o considerou com bom partido. E seu marido, o duque Masefield tinha um relacionamento próximo com o pai de Lydia, o que poderia significar que ela era uma pessoa certa para ser a patrona entre os dois. 

 

E com isso, através dos olhos da sociedade, pareceria que Edgar havia passado pela duquesa e proposto à Lydia e, ao fazer isso, ela seria considerada uma lady que ele estava cortejando seriamente com casamento em mente. Logo, se ela fosse tocada antes de fazer os preparativos de um noivado, isso só traria desonra à duquesa.  


Na verdade, quem estivesse ao lado, pareceria que ele estava pensando em Lydia. 

 

― E, então, o que resta é se você concorda em se casar com ele. Eu posso preparar o matrimônio. Não há nada para você se preocupar.  


―Hum. 


― Seu pai, o Professor Carlton é um estudioso renomado do qual a Inglaterra se orgulha, e você também é uma filha admirável. Acho que não há problema em recomendá-la como noiva para a família Ashenbert. Mais do que isso, se você tem medo de se tornar uma lady, eu serei sua patrona. Mesmo socializar com a nobreza não é nada, uma vez que você se acostuma.  


Parecia que ele até pediu à duquesa para educá-la sobre o que é necessário para se tornar uma dama adequada. Ela sabia que, no caso desse homem, nunca era puramente apenas por sua causa.  


― Eu não, o casamento não é... 


― De qualquer modo, só desejo que um dos obstáculos que está hesitando em você se casar comigo desapareça. - explicou Edgar.  


Independentemente do que ele dissesse, estava apenas agindo para que Lydia não pudesse escapar. 


Pelo menos fazendo isso – o fato de Edgar ter proposto Lydia em casamento e dela estar em posse do anel de noivado - não terminaria como “apenas entre nós dois”. 


― Mas, se isso fosse em circunstâncias normais, o método adequado seria ele primeiro perguntar ao Professor se ele poderia ter sua mão em casamento.  


― E-eu disse não ouse fazer isso! Eu não vou te perdoar se você for falar com papai.  


Ela gritou com ele como sempre fazia, mas então percebeu onde estava. Eles estavam na presença de uma duquesa.  


― Está tudo bem. Posso entender que você não gostaria de preocupar seu pai enquanto seus sentimentos ainda não estão certos.  


A duquesa estava sorrindo gentilmente e de modo amigável, mesmo assim Lydia se preocupava se a duquesa pensasse que ela não era graciosa. Como se ela não fosse qualificada para ser uma esposa de um nobre... 


Oh, não! Não é com isso que devo me preocupar. Não tenho a intenção de me tornar esposa de ninguém! Oh, meu Deus! É culpa de Edgar que tenha mais preocupações e ansiedades que só têm crescido”.  


― Foi por isso que pedi ajuda à duquesa. E tudo vai depender de como você se sente. Não quero que o professor pense que fiz você responder isso usando truques sujos.  


Você tem usado muitos truques sujos até agora”. 


Lydia de alguma forma conseguiu engolir aquela réplica que estava no topo de sua língua.  


***** 


― Agora posso seduzi-la sem me preocupar com nada. - disse Edgar na carruagem e tomou a liberdade de se aproximar de Lydia.  


No final, ela teve a opção de ser escoltada para casa por Edgar, porém Lydia soltou um suspiro pensando que talvez fosse melhor se tivesse recusado. Ele sorriu vitoriosamente, estendeu a mão para o cabelo dela e desamarrou a fita de seu cabelo sem permissão.  


E, então, ele tirou seus grampos, desfazendo seus cabelos – que estavam presos em um coque – e cair sobre seus ombros. 


― Espere! O que você está fazendo? 


― Esse foi um jeito sem-graça de prender os cabelos. Gosto mais quando você os deixa soltos.  


― Sua preferência não importa para mim.  


Ela arrancou a fita de sua mão, e depois usou os dedos para ajeitar os cabelos despenteados enquanto se afastava dele.  


― Não faria mal ouvir a opinião do seu noivo. 


― Como eu disse, você não é meu noivo. 


Parecia que ele não entendia isso, e não importava quantas vezes ela dissesse isso.  


― Já que estamos fora, que tal parar em algum lugar? 


― Quero ir para casa.  


― Ouvi dizer que há um show de voo de balão de ar que irá ocorrer no Hyde Park.  


E a carruagem iria passar pelo Hyde Park.  


― Uma caminhada perto do pôr do Sol é uma coisa muito boa. Isso ajudaria a fazer você se sentir um pouco mais interessada em nosso relacionamento romântico.  


Lydia tentou se afastar dele na carruagem onde ela não tinha para onde correr, deslizando-se até o final de assento, mesmo assim, ele a seguiu para ficar ao lado dela.  


― Você jurou à duquesa que não encostaria um dedo em mim.  


―Isso foi dito apenas por uma questão de princípio.  


― Ãhn? 


― O que quer que aconteça não será um problema depois que nos casamos.  


― Eu disse que me recuso... 


A carruagem de repente balançou para o lado. Ela foi jogada contra Edgar e não pensou em não se agarrar nele. Por pouco ela mordeu a língua, tentando se apoiar em si mesma. A carruagem parou, pois ainda estava ligeiramente inclinada para o lado.  


―... O que aconteceu? 


― Senhor, você está bem? 


O cocheiro abriu a porta com pressa. 


― De alguma forma sim. Lydia, você está bem? 


― ...Sim.


Ela percebeu que Edgar a protegeu para que não batesse a cabeça, mas como ela estava sendo abraçada com força por ele, saltou para longe o mais rápido que pôde.  


― Eu sinto muito. Um gato preto saiu pulando e uma das rodas ficou presa na vala.  


― Bem, isso não é nada bom. 


Edgar desceu da carruagem, verificou a situação e encolheu os ombros para Lydia.  


― A roda está quase saindo. Parece que vai demorar para consertar, então, vamos para casa.  

Ele disse ao cocheiro – que mencionou que iria pedir uma outra carruagem – para não se preocupar com isso, e estendeu a mão para Lydia ajudando-a a descer da carruagem.  


Ele apanhou a cartola e a bengala que haviam caído no chão da carruagem e começou a andar pela rua. Lydia só pôde segui-lo e acabou dando um passeio com ele pelo parque que começava a escurecer. Ela se perguntou o que era mais perigoso, uma jovem voltando para casa sozinha ou com aquele namorador. E, enquanto ela refletia sobre isso, Edgar foi para mais fundo do parque.  


― Há menos pessoas por aqui. - ela apontou.  


― É um atalho.  


Ele se virou e sorriu para ele. Era um sorriso suspeito.  


― Não se preocupe, não vou te atacar. 


― É nisso que não posso confiar em você.  


Por um lado, quanto mais eles caminhavam, mais iam para uma área onde havia casais que se escondiam atrás dos arbustos afastados do caminho de pedras nas profundezas das árvores e pinheiros. Mas, ele não faria algo assim, e então ela se tranquilizou.  


Edgar disse algumas coisas que estavam fora dos limites adequados, porém, ultimamente, Lydia começava a sentir que ele não faria algo que a pressionasse ou saísse de seus limites. Porque, ele estava começando a parar de pressioná-la por um beijo.  


Ele podia ter se cansado, pois Lydia não tinha mudado sua atitude firme. Entretanto, depois da aprovação da duquesa e ter alguém que pudesse provar que aquele não era apenas um jogo, Lydia ficou preocupada que ele pudesse estar pensando que poderia fazer o que quisesse a partir de agora. 

 

Ele até disse que era uma questão de princípio que não tocaria nela. Lydia tentou desesperadamente apagar aquela ilusão maluca de sua cabeça. Quando ela começou a andar o mais rápido que podia, para sair daquela área escura, seu braço foi repentinamente agarrado por Edgar. Ele a puxou para a sombra escura de uma árvore onde quase não havia luz chegando até eles dos postes ao ar livre.  


― O-o que você... 


― Silêncio. Eles vão nos encontrar.  


Como? 


Na direção que Edgar olhava havia duas pessoas. Ela estava familiarizada com uma delas. Ulisses... 


O jovem de cabelos loiros era quem mirava em Edgar para matá-lo. Ele possuía a mesma habilidade do que a dela – comunicar-se com as fadas.  


Ele era o espião enviado da América por um homem chamado Príncipe, um homem que matou a família de Edgar e o tornou seu escravo, e a missão de Ulisses era punir Edgar por escapar do Príncipe.  


Edgar aprofundava seu confronto com Ulisses e devia estar investigando seus movimentos. Mesmo que fosse uma coincidência que a carruagem deles tivesse quebrado, ela adivinhou que a razão pela qual ele a convidou para o Hyde Park foi porque ele sabia que Ulisses iria aparecer por ali.  


 ― Aproxime-se de mim. Se fingirmos sermos namorados, eles não irão suspeitar de nós. 


“É tão fácil você dizer algo assim” 


Ele não esperou e puxou uma Lydia hesitante contra ele.  


― Qual o significado disso? - a pergunta veio de um homem desconhecido.  


A voz que fez essa pergunta era de outro homem falando com Ulisses. Ele não era tão jovem, aproximava-se da meia-idade. Ele parecia um cavalheiro, visto que vestia um terno bom e bonito.  


A voz do homem ressoou inesperadamente ao redor deles, e Ulisses lançou um olhar preocupado em torno deles. Lydia correu para abaixar a cabeça, o que a fez enterrá-la contra o peito de Edgar. Ele a olhou com ternura, como se ela fosse a sua amada amante e a abraçou pelos ombros. 

 

― É verdade que demorei para entrar em contato com você, mas é porque Sua Alteza tem algo em mente. Prefiro que você não se meta apenas nos meus negócios. - disse Ulisses.  

Sua Alteza era um título usado para chamar um príncipe. Ela se perguntou se eles estavam falando sobre o Príncipe. O que significava que aquele homem também pode estar trabalhando para ele.  


Lydia estava nervosa, mas, por enquanto, ela e Edgar estavam a uma distância suficiente para ouvir os homens, mas não o suficiente para serem notados. Os amantes que estavam naquela área se encontravam tão absortos em seus pequenos mundos que os homens devem ter decidido que ninguém ouviria o que eles conversavam.  


― Mas, não é rude de sua parte mandar-me entregar a pedra preciosa? Quando Sua Alteza vier para a Inglaterra, o plano era que eu seria o único a entregá-la pessoalmente. 


― Suas instruções foram que eu deveria cuidar disso.  


Lydia manteve a respiração a mais silenciosa possível enquanto ouvia a conversa dos dois, mesmo assim, sentiu o dedo de Edgar brincar com uma mecha de seu cabelo como não quisesse nada.  


― Pare com isso. - sussurrou de modo que abaixasse a voz e o desafiasse.  


― Mas, precisamos fingir que somos amantes.  


―Eles não estão olhando em nossa direção agora! 


Quando ela quase levantou a voz, um dedo foi pressionado contra seus lábios.  


― É por uma questão de segurança. Você está ciente de que o Conde Cavaleiro Azul surgiu na Inglaterra, não é? - falou Ulisses novamente.  


Esse era o outro nome para o Conde de Ibrazel, ou seja, Edgar.  


―Conde Cavaleiro Azul... Mas, é aquele jovem que apareceu na nobreza é realmente o Conde Cavaleiro Azul? Ouvi dizer que a linhagem da família Ashenbert e que um novo herdeiro jamais apareceria na Inglaterra novamente.  


Aparentavam que estavam travando uma discussão acalorada e, ainda assim, Edgar demonstrava que não estava ouvindo, ao mesmo tempo em que encarava para Lydia com olhos ardentes.  


Ele ainda apoiava o dedo entre os lábios dela e, suavemente, deixou-o percorrer pelo contorno da boca, o que deixou Lydia mais temerosa do que nervosa. “Eu ainda estou em pé?” Ela se questionou porque aparentava que o solo sob seus pés se movia e dava uma sensação de instabilidade. Seu corpo aparentava estar tão fraco como se ele estivesse embalado em seus braços, ao mesmo tempo em que ela permanecia encostada.  


― Não. Pare com isso... 


Ela só conseguiu soltar a voz em um suspiro.  


― Você pode não ter notado, mas quando diz para parar, me encara com olhos tão desejosos. E isso faz você parecer tão atraente para mim... 


― A-agora não é hora para isso... 


“Não era para ouvi-los o motivo pelo qual viemos aqui?” 


No momento seguinte, o arbusto próximo a eles farfalhou. O que veio correndo entre os pés deles era um animal de cor preta.  


Outro gato preto?” Justamente quando ela pensou nisso, Lydia foi agarrada por trás pelo ombro.  


― Ei, ela disse para parar! 


Quem falou foi o mesmo que puxou Lydia com força, como quisesse separá-la de Edgar. 


― Ke-Kelpie! 


O jovem de cabelos negros e aparência incrivelmente bonita e que de repente os interrompeu era um kelpie, um cavalo aquático em sua forma humana. Ela se deu conta isso e reparou que ele estava morando no Serpentine Lake, que se localizava no parque.  


Ele era uma fada que normalmente vivia nas terras altas da Escócia e era um cavalo-marinho selvagem que comia gente, mas como ele tinha gostado de Lydia, acabou ficando em Londres. Ele deve ter sentido o cheiro da presença de Lydia e subido à superfície.  


― Você está atrapalhando, Kelpie. Ela é minha noiva. Não vou aceitar ordens suas. 


― Se você fosse noivo dela, se ela diz que não gosta, então, pare. 


― Ei, fiquem quietos!  


Por mais que ela dissesse isso, já era tarde demais. Ulisses tinha voltado seu foco na direção do ponto em que Lydia e os dois se encontravam. 


― Vamos fugir.  


Edgar puxou o braço dela.  


― Ei, você é o único que precisa desaparecer, Conde Cavaleiro Azul! 


E pelo fato de Kelpie gritar isso em uma voz tão alta que a expressão de Ulisses mudou dramaticamente. Ela viu que ele estava prestes a sacar uma pistola e, logo depois, começou um tiroteio.  


― O que foi isso? - perguntou Kelpie 


― Kelpie, isso é por sua culpa! - gritou Lydia, enquanto corria pelos arbustos escuros tentando escapar das possíveis balas.  


Mesmo assim, eles ouviram gritos em todas as direções. Ela pensou que era por conta do tiroteio, mas era algo diferente. 


― O balão de ar... 


― ? 


Enquanto era iluminado pela Lua que começava a nascer, o balão de ar branco também começou a flutuar no céu. Era um balão de ar que estava sendo usado para shows em áreas abertas do parque. 

 

Lydia teve a sensação de que o balão de ar ficava cada vez maior, como estivesse vindo em direção a eles. Os casais de homens e mulheres que estavam escondidos ao redor fugiram de seus esconderijos.  


― Lydia, por aqui! 


Lydia e Edgar correram o mais rápido que puderam. Feliz ou infelizmente, agora não era o momento de prestar atenção em Ulisses, e ele também parecia não estar prestando atenção neles, pois o tiroteio terminou.  


Lydia pôde ver, ao se virar querendo saber a origem do medo, o balão de ar estava pegando fogo. Em questão de segundos, uma enorme chama de fogo subiu tão alto que cobriu o céu.  

Foi a premonição do gato preto sobre isso?” Pega em outro acidente desta noite, Lydia observou Kelpie, que se transformou em sua forma de cavalo e galopou até o céu para bloquear a sua visão do fogo que estava chegando atrás deles. 


**** 


Lydia voltou à mansão Ashenbert em Mayfair com Edgar porque houve um acidente após o outro, o que a deixou tão perplexa e exausta que não teve vontade de voltar para a casa de sua família depois disso.   


A mansão Ashenbert ficava muito mais perto de Hyde Park e ela tinha acabado de pensar que poderia tomar um gole de chá para se acalmar, entretanto, houve uma comoção que irrompeu dentro de casa, assim que eles chegaram. 


― Tompkins, aconteceu alguma coisa? - indagou Edgar.  


― Não é nada sério com que você se deve se preocupar, my lord 


O mordomo da mansão Ashenbert moveu seu corpo atarracado de modo vivaz para apanhar a cartola e a bengala.  


― Ocorreram muitos aparecimentos de gatos pretos recentemente, logo, posso pedir que você use o quarto no lado norte da casa.  


O vaso do corredor estava virado, assim como a escultura da escada e a pintura que decorava a parede do corredor estavam no chão. As coisas não pareciam nem um pouco normais, mas Tompkins não se mostrava preocupado com nada e a reação de Edgar foi de encolher os ombros. 

 

― O lado norte está intacto? 


― Parece que sim. 


― Então, traga um pouco de chá para a biblioteca. 


― Gatos pretos, isso é exatamente como o acidente anterior... Isso é muito estranho. O que diabos está acontecendo? - perguntou Lydia.  


― Não é como se o gato preto fosse o mau. - murmurou uma pequena voz.  


No corrimão da escada, um gato grisalho, não preto, estava sentado em seu traseiro. Este gato que falava e usava gravata – era o gato-fada, companheiro de Lydia, Nico.  


― Ei, conde, você trouxe algum tipo de coisa estranha, não trouxe? Por causa dessa coisa sinistra, há tantas coisas ruins acontecendo. Os gatos pretos são apenas premonições.  


Nico pulou do parapeito, pousou nas patas traseiras e caminhou até eles em pé. Ele até cruzou os braços atrás da cabeça e estufou-se para parecer orgulhoso e presunçoso.  


― Ah, é isso. - respondeu Edgar.  


― Apresse-se e faça algo sobre isso.  


― Não posso simplesmente fazer isso agora. Você precisa aguentar isso um pouco mais.  


― Edgar, o que você trouxe consigo? - perguntou Lydia.  


― Um diamante amaldiçoado.  


Ele respondeu como se nada estivesse errado e disse à Lydia para ir na frente dele.  


Um diamante amaldiçoado, o que ele quis dizer com isso? Ele está tramando algo de novo?” Enquanto Lydia refletia sobre isso, ela abriu a porta da biblioteca.  


Um lado da parede da sala da biblioteca estava cheio de livros, o que fazia com que a sala se misturasse com um cheiro particular de papel e tinta; e estava realmente ilesa.  

Alguém estava sentado em uma cadeira no canto da sala e olhou para Lydia, era seu conhecido artista das fadas, Paul.  


― Oh, Lydia, olá! - ele a cumprimentou.  


― Paul, você veio nos visitar? 


― Sim, hum, terminei a composição do meu quadro. Então, pensei que poderia pedir ao conde para dar uma olhada. Mas, a entrada foi inundada com água e tropecei, logo, meus papéis ficaram todos úmidos e se estragaram. 

 

O jovem de bom coração fez uma careta deprimida pelo golpe de má sorte enquanto tentava sorrir para Lydia. Ao lado de Paul, estava um menino de cerca de dez anos.

  

― Oh, sim, é a primeira vez que Lydia te vê. Jimmy é o membro mais jovem da “Scarlett Moon”. 


O garoto magrelo que estava com a boca cheia de doces, apenas deu uma rápida olhada na direção de Lydia como se não estivesse particularmente interessado.  


― Ao que parece ele está animado em aprender a pintar. Ainda não estou em posição de ensinar alguém, mas pensei que não faria mal se ele pudesse assistir.  


― Ei, Paul, quando o conde vem? 


― Acredito que ele virá em breve. - respondeu Paul.  


― Ele está vindo imediatamente. Ele chegou comigo. - mencionou Lydia.  


No momento em que ela disse isso, o garoto olhou para ela com olhos duvidosos.  


― O conde não saiu para se encontrar com sua amante? 


― É ela. - esclareceu Paul. 


Lydia ficou horrorizada por Edgar ter contado a Paul algo desse tipo. Porém, o menino não escondeu sua decepção.  


― O quê? Ela não pode ser a única. A amante do conde era aquela mulher muito bonita que vimos antes, certo? 


― Hummm, acho que a mulher bonita que você quer dizer, vestida com roupas masculinas é a serva do conde. 


Parecia que o menino estava se referindo à Ermine. Ela era a serva de Edgar, mas por ser uma mulher tão sedutora e bela, o comentário do garoto não foi tão surpreendente.  


― Você está mentindo. - ofegou o garoto.  


O que você quer dizer com mentir?” Lydia se sentiu um pouco ofendida. “Bem, sim, se você me comparou com a Ermine, não importa quem nos viu, Ermine era muito mais bonita”. 


― Mas, Paul, você disse que a amante do conde era linda. 


― EhUhm, isso é... 


― Oh, entendi. Você estava apenas querendo ser legal.  


― -não foi isso... Hum, Lydia, não foi isso que eu quis dizer. - exclamou Paul.  


Paul ficou completamente perturbado e, por mais que tentasse acalmar a raiva dela, deixou-a apenas irritada, pois parecia que ele estava sendo bacana com ela.  


― Agora, olhe aqui, garotinho, você está sendo um pirralho.  


― Oh, ela ficou com raiva. Uma mulher nobre normalmente não ficaria furiosa, certo? 

O que há com esse fedelho? 


― Acontece que fiquei zangada quando me dizem algo rude. Não pense que seria tão fácil.  


― Você, com certeza, é uma senhora assustadora. Seus olhos verde-dourados fazem você parecer uma bruxa. Ou você é um changeling? 


Ele é apenas uma criança. Colocar a mão nele não seria justo e, portanto, ela lutou para se conter. No entanto, para Lydia, que cresceu ouvindo o mesmo nome pelas costas desde que era criança, foi o que mais a machucou.  


― Lydia, sinto muitíssimo. Ele é um menino de língua afiada.  


― Eu definitivamente acredito que a outra senhora é uma escolha muito melhor. Ei, senhora, você está tentando enganar o conde? 


Mais do que raiva, Lydia apenas se sentia cansada.  


― Por que eu deveria? Para que você acredita que eu iria enganá-lo? 


― As bruxas se aproximam dos homens usando abordagens sexuais e, em seguida, levavam veneno para eles, certo? Oh, mas você não poderia ter nenhum encanto sexual... 


O menino parou de falar porque Edgar havia coberto a boca dele.  


― Jimmy, não vou te perdoar por insultar a minha pessoa mais querida.  


Entretanto, o pirralho não foi prejudicado por algo assim. 


― Mas, conde, o que você vai fazer se aquele sujeito chamado Ulisses enviar um espião? Você sabe? Acredito que essa senhora é suspeita... 


Desta vez, quem cobriu a boca do menino foi Paul.  


― Perdoe-o, my lord, se dermos licença... 


― Você não tinha assuntos para tratar comigo? 


― Está arruinado agora de qualquer maneira, logo. Voltarei outro dia.  


Paul saiu arrastando o garoto, o que deixou Lydia sinceramente aliviada. Seus sentimentos destruídos não seriam restaurados tão cedo, mas ela tentou disfarçar com um suspiro.  

Parece que sou a mais amaldiçoada pelo diamante esta noite”. 


― Lydia, você está ferida? 


― Está tudo bem, não há nenhum problema. É apenas uma discussão sobre como não estou qualificada para você.  


― É apenas uma criança falando besteira.  


― O mais importante, Edgar, em relação ao maldito diamante.  


Lydia mudou rapidamente de assunto porque não queria falar sobre sua aparência. Foi na hora certa em que Raven entrou na biblioteca. Esse jovem criado de Edgar trouxe o chá e tinha uma aparência exótica. Normalmente, ele trabalhava como servo da casa Ashenbert, e cuidava das necessidades diárias de seu mestre, mas, na verdade, tinha habilidades de combate extremamente altas como um lutador de um país estrangeiro.  


― Se você aceitar coisas assim tão facilmente, coisas ruins vão acontecer com você, com risco de vida sem reparo. Você poderia ter se ferido gravemente, mesmo naquele acidente do balão de ar há pouco. - exclamou Lydia.  


― Mas, na verdade, estou ileso.  


Isso porque Kelpie os protegeu. O poder de uma fada da água tinha a capacidade de protegê-los da explosão de fogo. Claro, ele fez isso apenas para proteger Lydia, logo, não deve ter feito parte de seu plano proteger Edgar também.  


― Você poderia me mostrar o diamante amaldiçoado? Já que pode ser que uma fada esteja envolvida. - disse Lydia.  


― É, verdade. - murmurou Edgar, enquanto se sentava ao lado de Lydia e acenava para Raven com a mão. 


― Raven, traga o diamante de que estamos falando.  


― Sim. - respondeu Raven e foi até o canto da biblioteca e pegou uma caixa preta que se encontrava em cima da lareira.  


― Então, era lá que estava. - falou Edgar.  


― Porque o senhor Tompkins percebeu que ele se acalmava quando ficava perto da Espada Merrow. - explicou Raven 


― Entendo. Talvez eu devesse ter percebido isso antes. - acrescentou Edgar.  


Havia o poder da magia Merrow na espada que estava cuidadosamente armazenada na pequena sala dos fundos da casa Ashenbert. Isso deve ter segurado o poder da maldição no diamante.  


― Este é o diamante? 


O item que estava na caixa que Raven abriu era um diamante, que era muito maior do que Lydia já tinha visto antes.  


― É um diamante negro de cem quilates. Atende pelo nome de Pesadelo.  


Ao contrário dos que geralmente tinham um brilho incolor e transparente, este não era exatamente negro, estava mais próximo de um cinza-escuro, como se tivesse uma luz semiescura e fraca presa em seu núcleo. E ainda, era uma pedra preciosa estranha que liberou uma luz semelhante a um arco-íris.  


É-é real? - perguntou Lydia.  


― É real.  


― O que você vai fazer com isso? 


― Hum... Eu apenas senti que queria. 


Você não precisa ir e querer algo que vem com um boato sinistro”. 


Lydia pensou que essa era a parte dele que tinha mau gosto, enquanto tirava o diamante da caixa com as mãos.  


No momento em que ela olhou para o grande diamante que estava pendurado em uma corrente dourada, a luz do lustre brilhou e refletiu nele, o que fez com a superfície polida parecesse uma flor em chamas de pedais múltiplos em plena floração. Ela sentiu uma sensação encantadora e uma energia tão poderosa que poderia sugar sua alma. Pode ter sido a obra-prima de sua beleza polida ou a ilusão feita a partir do preço inimaginável dele, ou ela não poderia dizer se era apenas o poder natural dessa pedra mineral que estava adormecida há muito tempo nas profundezas da terra.  


Lydia só era capaz de dizer se havia algum vestígio de uma fada nele ou não. Fadas e pedras preciosas estavam ligadas de modo íntimo. Se a lenda era verdadeira sobre como as raças das fadas eram originalmente descendentes dos deuses e da deusa que vieram do país no centro da Terra, isso significava que as fadas e as pedras preciosas eram parentes de sangue.  

 

Ela tinha ouvido essa história de sua falecida mãe que era um fairy doctor. As fadas eram criaturas misteriosas e enigmáticas. Os fairy doctors são humanos e só são capazes de ver fadas, mas não são aptos de tocar existências como as fadas e as criaturas místicas do outro lado do mundo.  


― Não parece que seja obra de uma fada. - concluiu Lydia. 


― Para começar, um nome como Pesadelo soa tão ameaçador. Para piorar, não foi tratado com zelo, logo, coisas ruins devem ter se acumulado no centro da joia. - disse Nico, se intrometendo na conversa.  


Quem sabe há quanto tempo ele estava deitado de lado, ocupando todo o espaço sobre a poltrona de veludo e apoiando a cabeça na pata e no cotovelo.  


― Se fosse uma joia assim, o poder de maldição que recairia sobre seu dono seria inacreditavelmente terrível. - falou Nico.  


― Então, eu deveria apenas cuidar bem dele? O que precisa ser feito para eliminar o poder da maldição? - perguntou Edgar.  


― Isso é algo incontrolável para um humano. - apontou Nico.  


Lydia concordou.  


― Edgar, acho melhor você se apressar e se livrar disso. Mesmo que a Espada Merrow seja capa de contê-lo, ainda haverá algum tipo de efeito em seu dono.  


No entanto, como se estivesse brincando e evitando sua sugestão, Edgar deu um beijo no diamante.  


― Que pena que seja amaldiçoado. Mesmo que seja tão bonito.  


Lydia teve a sensação de que seus olhos, que refletiam a luz escura e brilhante do diamante, pareciam um tanto solitários.  


****** 

Naquela noite, quem acompanhou Lydia na carruagem dos Ashenbert até sua casa foi Ermine. Se fosse um dia comum, Lydia voltaria para casa de carruagem sozinha, mas desde que avistaram Ulisses em Londres, Edgar começou a tomar precauções extras.  


― Ermine, você poderia perguntar a Edgar se ele se desfaria daquele diamante? - questionou Lydia, ao se lembrar de como aquele menino a comparara com Ermine 


― Não é minha função expressar minha opinião. - disse ela com firmeza, enquanto encarava Lydia com olhos sérios.  


Dentro da carruagem, Ermine, que tinha os cabelos cortados bem curtos e vestia-se com roupas masculinas, estava sentado ao lado de Lydia. Assim como Raven, ela era a criada e guarda-costas de Edgar, logo, ela deve ter preferido roupas masculinas, pois eram mais fáceis de se mover.  


Foi um alívio ter alguém tão experiente em artes marciais e autodefesa ao seu lado, mas desde que a época que Ermine voltou, Lydia se sentiu um pouco culpada.  


Ermine estava apaixonada por Edgar. No entanto, Edgar estava atualmente reivindicando Lydia como sua noiva, e Ermine a tratava como tal. Porém, Lydia se perguntou se as coisas iam ficar bem assim, pois ainda estava preocupada em como ela era comparada pelo garotinho Jimmy.  


― Eu me pergunto o que ele planeja fazer com aquele diamante. Não consigo pensar que foi apenas algo para adicionar à sua coleção. 

 

Era difícil acreditar que um homem gostaria de usar um diamante transformado em um colar. É por isso que Lydia teve a pequena sensação de que ele poderia estar planejando dar de presente a alguma mulher.  


― Bem, eu não saberia. - respondeu Ermine, mas parecia que ela sabia a resposta à pergunta de Lydia.  


― ... Eu ouvi o boato de que Edgar pode ser dono de um harém.

  

Ela pensou que poderia tentar sondar sob a máscara de Ermine 


― Ouvi dizer que existe um lugar onde você pode esconder várias mulheres e deixá-las viver em segredo, longe dos olhos do público.  


Ermine estava tentando esconder a princesa que fugiu de casa de um país estrangeiro e veio atrás de Edgar? Mas, se fosse uma mulher de nascimento real como aquela, então era compreensível que um homem quisesse enviar um diamante grande para ela.  


Lydia queria acreditar que era apenas um boato, entretanto, estava um pouco curiosa.  


― Senhorita Carlton, por favor, acredite em lord Edgar. - pediu Ermine em um tom frio e composto.  


― Mas, como vou dizer, até você sabe o quanto ele é mulherengo, né? Se fosse você, seria capaz de acreditar nele? 


Lydia sentiu que [se fosse você] seria uma pergunta maldosa. “Oh, não!”, ela ficou preocupada, ficou envergonhada de si mesma. Porém, Ermine respondeu como se ela não estivesse nem um pouco incomodada.  


― Eu não conseguiria acreditar nele.  


― A-ah, sim, é claro.  


― Mas, fui ordenada por lord Edgar para isso de modo a persuadi-la. 


Lydia não resistiu e explodiu em gargalhadas. Ermine também riu. As duas riram uma da outra e Lydia chegou à conclusão de que não queria criar nenhum mal-estar entre elas. Mas, se perguntou o que Ermine pensava sobe isso.  


― Hum, Ermine. Só estou dizendo isso porque acredito que você já conhece as circunstâncias, mas não há necessidade de me tratar como noiva de Edgar.  


A carruagem parou em frente da casa da Lydia. Ermine abriu, segurou a porta e esperou silenciosamente que Lydia saísse, como se ela não tivesse ouvido o que Lydia tinha dito.  


E, então, do nada, ela disse: 


― Senhorita Carlton, eu nunca tive um relacionamento físico com lord Edgar. E isso nunca vai acontecer no futuro. Você pode acreditar nisso por mim? 


― Eh, eu não, não ... não foi isso que quis dizer. Não é como se eu estivesse com ciúmes ou algo assim.  


A maneira como Ermine disse algo assim tão diretamente deixou Lydia nervosa e com o rosto vermelho.   


― Sim. Mas, é necessário traçar uma linha clara. E, eu já organizei meus próprios sentimentos.


Se você for capaz de me perdoar por meu ato terrível no passado, por favor, esqueça tudo. Pretendo servi-la com a mesma lealdade que sirvo lord Edgar.  


Lydia ergueu os olhos para o rosto de Ermine, já que ela era mais alta do que ela, e da forma que ela disse algo tão solene, sentiu uma pontada de dor no peito, mas ainda ela segurou a mão de Ermine 


― Tudo bem, eu vou esquecer isso. Mas, essa é uma história completamente diferente de me casar com Edgar ou não...  


Lydia não sabia por que Edgar não aceitava os sentimentos de Ermine, embora ele tivesse percebido o que ela sentia por ele. Mas, ele era um libertino mulherengo, era como se não tivesse qualquer discrição. Pode ser porque ela era alguém querido para que não foi capaz de cruzar a linha tão facilmente.  


Nesse sentido, Ermine era uma mulher especial para Edgar, mais do que qualquer outra.  


Nota da tradutora 


Esse capítulo não nos revela grandes coisas da história em si, apenas umas pinceladas sobre o passado de Edgar, quando ainda vivia na clandestinidade.  

Porém, temos momentos que fazem nosso coração saltar, como Ermine revelando para Lydia que o amor perdura, mas que eles não chegaram às vias de fato. Será? 

Sim, teremos Ulisses. E você acha que a praga não daria o ar de sua graça? 

Pois bem, espero você para o próximo capítulo! Até lá!