quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O sonho da água-marinha - Capítulo 7 - Volume IV - Hakushaku to Yousei Light Novel

Nota de apresentação 

E eis que encerramos o ano, assim como o livro IV de Hakushaku to Yousei. Sem mais delongas... 

Boa leitura :) 


  

 

Completamente coberta por altas chamas, a casa continuava pegando fogo. Eles avançaram com rapidez para evitarem as faíscas e, depois de cruzarem a pequena ilha, Lydia e Edgar procuraram refúgio no alto da colina. Ou para ser exata, Teresa e Edgar. A caixa de toucador era carregada por Edgar. A consciência de Lydia flutuava dentro de si, pois, ainda ela se sentia cansada, mas conseguiu ficar acordada.  

 

O mar parecia ainda mais turbulento e, aos olhos de Lydia, o número de selkies aparentava ter aumentado. Ela podia sentir como os selkies estavam furiosos. Mas, Ulisses possuía “um coração”, logo, foi capaz de permanecer ileso. O seu plano não era incendiar a residência. E, no momento, em que ela imaginou que ele ainda iria preparar algo para eles, seus nervos continuaram em tensão. Com a mão esquerda que permaneceu sob seu controle, Lydia procurou pelo pingente água-marinha.  

 

Ela estava assustada além de sua imaginação. Se Ulisses era alguém que usava seus conhecimentos de fairy doctor para fins ruins, quem provavelmente teria que enfrentá-lo não era Edgar, mas Lydia. Porém, ela não estava sozinha. Tudo bem para ela acreditar nisso, certo? 

 

― Lord visconde, por que as coisas aconteceram dessa maneira? 

 

Teresa caminhava agarrada ao braço de Edgar.  

 

― Está tudo bem. Estou com você. 

 

― Por que tenho períodos que minha memória não lembra de nada? 

 

Ela aparentava estar nervosa, não apenas assustada com o fogo, mas deve ter começado a notar a condição anormal que se encontrava.  

 

― Estou realmente viva, não é? Não vou ser mandada de volta para a terra dos mortos, certo? 

 

Era isso com que Lydia se preocupava. Para começar, ela foi informada de que a alma da garota só seria capaz de permanecer dentro dela por uma semana. Era uma notícia que não queria acreditar. Mesmo que não fosse a verdadeira Teresa, passou a aceitar a vida de Teresa e veio a se apaixonar por Edgar, porém ela se perguntou como a garota se sentiria se soubesse que iria perder tudo mais uma vez.  

 

― ...E quem é Lydia? 

 

Apenas com a mão esquerda, Lydia congelou, pois sabia sobre ela.  

 

― O que você quer dizer? 

 

O ato de Edgar de aparentar ignorância foi tão natural que ele parecia acostumado ao ser questionado sobre a presença de outra mulher. “É por isso que não posso confiar nas falas de flerte desse animal... 

 

― Ontem, foi assim que você me chamou quando eu estava dormindo.  

 

O quê? 

 

― Você deve ter sonhado.  

 

― Um sonho... me pergunto se você está certo. Você parecia estar sofrendo por alguma coisa e disse algo, como, por favor, me perdoe, enquanto segurava minha mão esquerda por um bom tempo. Por alguma razão, parecia que não deveria interrompê-lo.  

 

Sério?” Então isso significava que Lydia, que não sabia nada sobre isso, deve ter dormido.  Teresa parou e olhou para seu corpo.  

 

― Às vezes, há momentos em que sinto uma inquietação. Eu me pergunto, se sou realmente eu. Como a distância entre a ponta dos pés ou se minhas mãos e unhas fossem tão limpas e lisas.  

 

Ela apanhou uma mecha de seu cabelo cor de ferrugem que foi soprado para cima por uma rajada de vendo que girou em torno deles e inclinou a cabeça.  

 

― A cor do meu cabelo e quando me olhei no espelho, nem tudo parecia exatamente certo. Eu estava tentando não pensar muito nisso, mas quando ouvi o nome de Lydia, minha dúvida ficou cada vez maior... 

 

Edgar olhou para Teresa com um olhar indeciso, mas não disse nada.  

 

― Essa garota não sou eu. Eu morri uma vez e perdi meu corpo... Não é mesmo? Você foi tão legal comigo porque essa garota é especial para você?  

 

O que você vai fazer, Edgar?” Lydia ouviu como estivesse na ponta da cadeira.  

 

― Se ficasse ao meu lado, pensei que não me importaria se você agisse como meu amante. Mas, mesmo quando você está comigo, suas palavras e abraços não pertencem a mim.  

 

―Teresa. 

 

― Diga-me a verdade. 

 

Edgar abaixou os olhos como se rendesse. 

 

― ... Lydia é minha noiva. Ela foi sequestrada e desapareceu de Londres. Quando vim aqui para levá-la para casa, você estava dentro dela.  

 

Teresa ficou chocada e deu um suspiro dolorido.  

 

― Por quê? Por que você não me disse desde o início? Eu gostaria que você me dissesse antes de desenvolver sentimentos por você! 

 

― Teresa, este canalha te enganou e estava tentando fazer o que ele queria. Para que você não tente escapar ou se desesperar e machucar este corpo.  

 

Ao ouvir a voz que os interrompeu, Teresa se virou. Além das árvores que cresciam ao redor, um jovem apareceu.  

 

Ele, com seus cabelos louros escorridos, aparentava um sorriso tão desumano e cruel que não combinava com sua imagem esguia de rapaz que ainda tinha uma aparência infantil.  

 

― Ulisses... 

 

― Ele, sinceramente, deseja que você se apresse, morra e volte para o céu.  

 

Como ela estivesse abalada, lentamente se afastou de Edgar. 

 

― Ele está certo, visconde, sou apenas um fantasma perigoso, um obstáculo a você. 

 

― Venha comigo, Teresa. Se ficar comigo, vou torná-la humana. Posso fazer esse corpo se tornar seu permanentemente.  

 

― Você nunca poderia fazer uma coisa dessa. Se pudesse, você teria feito isso desde o início. Ulysses, você enganou a senhora Collins apenas com o propósito de ser capaz de assumir o controle desta casa. Logo, você a matou e fingiu ser o fantasma de Teresa.   

 

― Eu me pergunto se esse tipo de coisa tem alguma relação com ela agora. Oh, Teresa, você não quer estar viva mais uma vez? Você ainda é tão jovem e, com certeza, haverá tantas coisas maravilhosas para desfrutar esperando para acontecer com você. Se fizer o que te digo, vou deixá-la ficar neste reino. Ou você quer passar despercebida e desaparecer sem que ninguém lembre de você? 

 

― Não vá! Você apenas será enganada.  

 

Mesmo que Edgar dissesse isso, Teresa começou a andar cambaleando na direção de Ulisses.  

 

― Você, realmente, pode fazer com que eu não morra? 

 

― Ele foi o homem que matou você! 

 

― Senhor! Até você desejou a morte dela. Você não é igual a mim? 

 

― Não, você não deve! Teresa, Ulisses não cumprirá sua promessa. Depois de cumprir seu objetivo, ele não a deixará viva.  

 

Lydia estava tentando desesperadamente gritar dentro dela mesma, mas não conseguiu.  

 

― Pegue isso. 

 

Ulisses jogou uma faca no chão perto dos pés de Teresa.  

 

― Vou te pedir para você apanhar aquela caixa de toucador daquele homem e trazê-la para mim.  

 

Teresa pegou a faca, mas ainda aparentava estar confusa. Ela devia estar se perguntando por que diabos ele queria uma caixinha velha como aquela. Mas, eles não podiam permitir que Ulisses os roubasse. Afinal, eram os casacos dos selkies que eles tentaram tanto resgatar. Pelo bem dos selkies, que acreditavam na fairy doctor e colocaram suas vidas nas mãos de Lydia, que ela precisava protegê-los a todo custo.  

 

No entantoLydia só foi capaz de mover a mão esquerda e nada mais. “Edgar, por favor, não entregue a ele! 

 

― Não posso te entregar isso. 

 

― Bem, então, Teresa, vamos usar essa faca e dar uma cutucada em seu braço.  

 

O quê? 

 

― Você mesma não sentirá nenhuma dor. Mesmo se esse corpo ficar arruinado, vou preparar outro corpo para você.  

 

Você só pode estar brincando!” Teresa ainda não conseguia decidir, porém pressionou a faca contra o braço, provavelmente, por curiosidade para ver se realmente não doía.  

 

― Pare! - gritou Edgar, e Teresa parou sua mão.  

 

Ulisses riu como se estivesse se divertindo.  

 

― Ora, ora, agora, então, você já está se rendendo? 

 

Depois, ele falou com Teresa.  

 

― Lentamente, caminhe até ele. Oh, mas você não pode chegar muito perto. Certifique-se se há uma faca que pode ser usada contra a sua faca. Está tudo bem, mesmo que sua mão escorregue, você não morrerá, já que você morreu uma vez.  

 

Teresa ainda parecia hesitante, mas fez o que lhe foi dito como uma marionete com cordas. Ela não sabia o que realmente deveria fazer. Mesmo que ela gostasse de Edgar, ainda tinha a sensação de ter sido traída. Ela tinha ciúmes de Lydia. Ao mesmo tempo que queria viver, também estava perdida se deveria confiar no homem que a matou para começar.  

 

Mesmo Edgar, que observava silenciosamente o comportamento de Teresa, sem se mover, deve ter sentido a instabilidade de seu coração. Ele deve estar pensando em uma maneira de repelir de alguma forma a tentação de Ulisses. Porém, mesmo que ele dissesse algo que soasse como se ele se importasse com ela, era apenas uma mentira.  

 

 Lord, vamos deixar a caixinha no chão e se afastar dela. Ou você gostaria de ver mais sangue? 

 

Ninguém queria ver isso. Ela pensava isso por um lado, mas por outro, Lydia repetia para si mesma que não se importaria de suportar um pouco de dor. “Ei, Edgar, você me forçou a suportar antes mesmo que eu estivesse com dor, então, não mude de ideia e não entregue a caixa para ele tão facilmente”. Mas, Edgar parecia sinceramente que não queria causar nenhuma dor em Lydia ao pousar a caixa em seus pés. Se ele chamou Lydia adormecida e foram seus verdadeiros sentimentos que o fizeram pedir que o perdoasse, então... “Surpreendentemente, alguém pensou em mim?” Mesmo assim, agora não era o momento para isso.  

 

― Maggie. - disse Edgar de forma abrupta, enquanto permanecia em seu lugar, sem se afastar da caixa.  

 

Ela o encarou com um olhar curioso.  

 

― Você não é Teresa. Você é Maggie. Você quer permanecer sem se lembrar de si mesma e não consegue ver a verdade? 

 

― ... Maggie.  

 

― Isso mesmo. Maggie, a costureira.  

 

Do bolso perto do peito, Edgar tirou um lenço e o desdobrou para mostrar a ela.  

 

― Seu bordado. Você está bastante acostumada a fazer isso. O M inicial, o desenho de trevo de quatro folhas e a joaninha são símbolos de boa sorte e felicidade. Você deve ter quisto bordar isso em seus pertences ou não se sentiu à vontade. Acredito que deve ter sido uma costureira muito talentosa.  

 

 “Oh, era isso”. Ela era aquela garota, tanto Lydia como ela se lembraram. A garota que disse que estava saindo para se encontrar com um homem que se autointitulava Conde Ashenbert e seu corpo foi encontrado no dia seguinte no rio Tâmisa. O detetive de polícia contou que ela era costureira e que seu nome era Maggie Morris. A pobre jovem.  

 

― Maggie, você tinha alguém para amar. Você se lembra, certo? Quem foi que te ensinou isso. 

 

Enquanto ela permanecia atordoada ao ouvir as palavras de Edgar, houve uma lágrima derramada que ela mesma não notou. 

 

― ...Isso, mamãe disse que isso trazia boa sorte...proteção... Foi mamãe quem me ensinou.  

 

― Sua verdadeira família e amigos desejariam paz e felicidade à sua alma. Você quer esquecê-los e cortar os laços com eles? Você realmente espera mudar para a vida de uma pessoa completamente diferente? 

 

Edgar deu um passo em sua direção.  

 

― As pessoas que cuidaram de você, com certeza, não serão capazes de te esquecer mesmo agora. A dor deles não será curada, mas se você não se esquecer deles, logo, eles podem pensar nisso como apoio e continuar a viver suas vidas.  

 

― Teresa, não dê ouvidos a que esse homem diz. Se manter como Teresa, seus desejos serão realizados! Você não precisará mais trabalhar por dinheiro. Você pode até se casar com um nobre! 

 

Ulisses ergueu a voz. Mas, agora, o nome de Teresa não alcançava mais seus ouvidos.  

 

― Por favor, peço a você, Maggie. Sinto muito por ter que machucar você. Mas, tenho alguém que tenho muito carinho no meu coração. Quero proteger seu corpo e alma... Por favor, me devolva Lydia.  

 

Maggie estava chorando e Lydia ficou confusa, pois parecia que estava chorando também. “Parece que você realmente quer dizer isso, Edgar...”. 

 

― ... Agora, eu me lembro. Eu... 

 

Da mão de Maggie que perdeu a força, a faca caiu.  

 

― Sempre eu estava olhando para ricos e poderosos. Se eu pudesse me casar com um homem rico, pensava que poderia ser feliz. Por isso, estava sempre inventando a mentira de que era filha de uma família de prestígio.  

 

Ela olhou para Edgar e sorriu enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. 

 

― Quando me tornei Teresa, fui mimada e respeitada por todos, parecia um sonho e fiquei muito feliz. Mesmo que eu soubesse que estava errado, queria continuar como se não tivesse percebido. Porém, fico feliz em ter este corpo não é meu e aquele visconde, você realmente não me ama. Porque, mesmo se eu fosse uma costureira normal, eu era capaz de lembrar coisas que me eram tão preciosas.  

 

― Não seja estúpida, você odiou seu nascimento e sua família. É por isso que, quando eu disse que eu era um conde, você ficou louca de alegria! - gritou Ulisses teimosamente. Mas, Lydia pensou diferente. Mesmo que eles estivessem brigando e discutindo, não há ninguém que não se importe com a sua família.  

 

― Quero ir para casa. Para minha mãe que era tão importuna e meu pai, que era tão preguiçoso, e meus irmãos mais novos malcriados, mas eles são a minha única família... Você acha que poderei voar até lá? 

 

― Sim, definitivamente. - respondeu Edgar, a quem ela abraçou com força. 

 

Hein? O quê? Por quê? 

 

― Para que ela (Lydia) não caia.  

 

― Sim, com certeza, vou segurá-la.  

 

― É melhor você segurá-la com mais força. Quando nos separarmos, ela, com certeza, vai empurrá-lo para longe.  

 

Oh, meu Deus, ela está descobrindo coisas. Era porque eu estava sempre estendendo minha mão esquerda para que nossos corpos não ficassem pressionados um contra o outro? 

 

Mas agora como Maggie estava segurando Edgar com os dois braços, Lydia não conseguia respirar e seu coração estava batendo rápido e até pensou que iria cair.  

 

― Obrigada por encontrar o meu verdadeiro eu.  

 

Dentro do seu corpo, Lydia sentiu a sensação de uma leve brisa soprar por ela. Ao mesmo tempo, seu corpo perdeu a força para ficar de pé. Ele segurava com força para que ela não caísse, mas mesmo quando ela voltou a si, não teve forças para empurrar Edgar para longe.  

 

― Lydia, você voltou. Não vou deixá-la mais partir. 

 

― ... O que você está dizendo? 

 

Ela tinha pensado que ele era tão bonito quando convenceu Maggie, mas era tão rápido para dar uma galhofa.  

 

― Edgar, agora não é hora para... 

 

Lydia olhou cuidadosamente para Ulisses. Ele estalou a língua e tentou sacar uma pistola.  

 

― Todas essas coisas boas não servem para nada.  

 

Mesmo assim, Edgar sussurrou para Lydia que estava tudo bem e se agarrou a ela. Os arbustos farfalharam. Raven atacou Ulisses, que tentou se desviar para se esquivar o mais rápido que pôde. Com um chute na sua perna, ele enviou a pistola para longe de sua mão e com seu rosto sem emoção, chicoteou a faca no ar.  

 

Ela pensou que ele fosse cortar a garganta com um aceno de braço. No entanto, um segundo antes Ulisses deu ré em uma árvore. A faca cravou em um tronco de árvore e Lydia observou com horror como se fosse o pescoço de alguém, logo, eles não durariam um minuto. Até Ulisses devia saber que não era páreo para enfrentá-lo cara a cara.  

 

Em um curto espaço de tempo, Raven agarrou novamente a faca, criou uma distância entre eles ainda mais.  

 

― Uma arma humana, hein? Não queria cruzar com você, logo, estava tentado evitá-lo.  

 

Ele ergueu a mão como um sinal, então, dois homens vieram caminhando das profundezas das árvores.  

 

― Faça! - ordenou e tirou uma pedra cor de água do bolso para que eles pudessem ver e brincar com ela em sua mão. Era um casaco de selkie. Ele ainda tinha, o que significava que todos não estavam na caixa. 

 

Logo, aqueles dois era... 

 

― Raven, são selkies! 

 

Ao mesmo tempo em que Lydia gritou, uma parede de água retorcida salpicou até eles. Com medo de ser pega e puxada para as profundezas, ela fechou os olhos com força e, ao ouvir o som trovejante das águas, sentiu ser erguida do chão.  

 

Ela seria separada de Edgar. Ela não conseguia respirar por causa da água que tomava o seu redor. Justo quando sua consciência estava para desaparecer, a pressão da água subitamente foi embora. Ao mesmo tempo, Lydia foi jogada em alguma área cuja a superfície era dura.  

 



  ― Ah... 

 

Abriu os olhos, mas estava profundamente escuro. Ela foi levada pelo movimento das águas por um breve período, mas não tinha ideia de para onde a levara. O solo abaixo dos seus pés parecia um piso frio de pedra e havia uma espécie de pilar vertical. O que significava que devia estar em um prédio em algum lugar.  

 

― Lydia, você está aí? 

 

Ela ouviu a voz de Edgar ao longe. Procurou a área ao seu redor com suas mãos tentando tocar em qualquer coisa. Mas, na direção de onde ela acreditava ser a origem da voz, se encontrava um muro bloqueando o caminho.  

 

― Edgar, onde você está? 

 

― Não consigo ver. Você está ferida em algum lugar? 

 

Já que a voz dele se expandiu e ecoou ao redor dela, não foi capaz de perceber qual a direção certa. 

 

― Não. Estou bem. Mas, não consigo descobrir por que estamos em um lugar como este... 

 

― Isso não seria obra dos selkies? 

 

― Então, isso significaria que somos mantidos em cativeiro por Ulisses? 

 

― Acredito que seja diferente. Suponho que embora tenham sido forçados à sua submissão, eles secretamente trouxeram você para cá. A forte corrente de água havia levado as árvores do entorno, mas estávamos protegidos pela água, logo, não tivemos nenhum ferimento. 

 

Talvez seja uma rebelião secreta dos selkies, os quais tinham seus casacos em poder de Ulisses. A idosa selkie tinha até feito uma alteração por conta própria na condição de Lydia ao ser possuída pelo fantasma de Maggie para que ela pudesse se mover livremente pelo menos durante o dia.  

 

― Apesar disso, é tão estranho que minhas roupas não estejam molhadas já que fomos levados pela corrente.  

 

  Não era água real, mas sim a magia que foi criada pelos selkies 

 

Os selkies cativos desejavam ser libertados de Ulisses e ainda depositavam suas esperanças em Lydia.  

 

― Lydia, se nós dois nos movermos, acredito que não seremos capazes de nos alcançar. Fique parada apenas um pouco.  

 

  Tudo bem, mas... 

 

 Vai ficar tudo bem, eu definitivamente irei te achar. Vamos continuar conversando. Sua voz vai liderar o caminho.  

 

Ela respondeu com “tudo bem” e tentou apertar os olhos para ver ao seu redor, mas mesmo que eles estivessem adaptados à escuridão, não conseguiu ver nada.  

 

 Edgar, por que você acha que os selkies nos carregaram para um lugar como este? Eu me pergunto onde estamos... 

 

  Talvez estejamos no subsolo da colina. Acredito que este é o feitiço de bloqueio que o Conde do Cavaleiro Azul anterior construiu.  

 

  Feitiço de bloqueio? 

 

 Ouvi dizer que era uma espécie de fortaleza construída com magia para proteger Londres de uma invasão de inimigos estrangeiros. Ulisses foi ordenado pelo Príncipe e veio para destruir isso.  

 

―  Destruir? Isto? Como? 

 

Ela não podia vê-lo, mas como suas vozes ecoavam, sentiu que era um espaço aberto imensamente grande. Mesmo quando ela moveu seu corpo um pouco, suas mãos tocaram uma parede de pedra ou pilar. Ela foi capaz de imaginar que era feito em um design semelhante a um labirinto, mesmo assim, era impossível ser destruído por apenas uma pessoa.  

 

  Essa parte que não consigo descobrir.  

 

No momento seguinte, Lydia percebeu algo. Um pouco antes, quando ela estava caminhando na praia com seu corpo sob o controle de Maggie, viu como o mar havia se tornado ainda mais violento e tempestuoso. Naquele mesmo momento, ela também observou como havia uma infinidade de selkies que balançavam e nadavam nas correntes do oceano.  

 

No incêndio da casa, os casacos de selkies que eles não puderam resgatar deveriam ter sido queimados. Já que os selkies tinham um forte vínculo dentro de sua espécie, mais alguns membros foram reunidos por sua tristeza e fúria.  

 

No entanto, quem ateou fogo para que pudesse massacrar todos os selkies fora Ulisses. O que significa que ele fez isso propositalmente para reunir tantos selkies cheios de cólera.  

 

  Ah, não! Ulisses planeja usar todos os selkies! 

 

  O que você quer dizer? 

 

  Quando um de sua espécie é tratado de forma horrível, costumam criar um grupo para exigir vingança. Por causa do que Ulisses fez, há um número inacreditavelmente enorme de selkies se reuniram ao redor da ilhar para se vingar. Se todos realizassem um ataque ao mesmo tempo, uma ilha pequena como esta seria facilmente desintegrada e levada pela corrente.  

 

Edgar deve ter aceitado que a situação era grave, pois ficou quieto por um tempo.  

 

  Mas, qual é a razão deles estarem atacando agora? 

 

 Provavelmente, Ulisses está os segurando. Ele tem o coração de um selkie consigo. É a pedra preciosa que ele usa na orelha. Normalmente, os selkies dão a um humano como prova de sua confiança e como símbolo de sua amizade, porém, Ulisses colocou as mãos em um e está fazendo mau uso dele.  

 

 Logo, se um humano o possuir, significa que os selkies não podem atacá-lo e teriam que ouvir o que ele diz, isso? 

 

  Ao contrário de quando ele tem um casaco, isso não pode obrigá-los a fazer o que ele diz, mas acredito que, para uma pessoa que tem um coração, os selkies devem tê-lo em grande consideração. 

 

Mesmo sendo odiado pelos selkies, Ulisses mostrou que tinha um em sua posse e era capaz de cercar com segurança com eles. Ele tinha a habilidade que o capacitou para realizar isso. Contra um homem como aquele, Lydia se perguntou o que ela poderia fazer. 

 

Ela mesmo se sentia envergonhada. Mesmo que se considerasse uma fairy doctor, no momento mais importante, sua inexperiência foi totalmente destacada e mostrada. Mas, se Ulisses pretendia seriamente usar os selkies, isso significaria que Lydia teria que fazer algo para que eles sobrevivessem.  

 

Edgar não foi capaz de parar os selkies sozinho. E, se ela não estiver preparada para pensar em nada, todos aqui não serão capazes de sobreviver. Edgar, Raven, senhora Collins e Suzy, todos seriam levados juntos com a ilha.  

 

Com uma pressão tão forte, Lydia começava a se sentir mal. No momento em que ela quase cambaleou, a ponto do seu pé tocou em algo. Ela estendeu a mão para sentir o que era e descobriu ser alguma espécie de caixa. Era caixinha de toucador. O desenho do esmalte que a envolvia e o toque de coral que parecia contas redondas a deixavam segura.  

 

 Graças a Deus. Deve ter sido levado junto conosco.  

 

Mas não era hora para se sentir aliviada. Ela precisava enviar essas aos selkies que sobreviveram ou permaneceriam em suas formas humanas e estariam aptos para retornar ao mar. E, então, Lydia percebeu outro detalhe que a preocupou. Se os duas selkies de mais cedo estivessem esperando que Lydia as salvassem, logo, a trouxeram aqui.  

 

 É isso, Edgar, se Ulisses quer destruir este lugar, pode estar em algum lugar perto de nós... 

 

O som de sua voz ecoou, mas não houve resposta de Edgar. “Por quê?”, pensou, mas, então, todos os tipos piores mudanças de eventos passaram pela sua cabeça e isso deixou Lydia em pânico.  

 

Como talvez Ulisses tivesse vindo e o capturado, ou criado um vácuo para colocá-lo no interior. Ou provavelmente, se aquele com que Lydia conversou até agora não fosse Edgar? 

 

  Edgar, ei. Edgar, onde você está? 

 

Lydia gritou, de repente, ficando desesperada. Ela abraçou a caixa e caminhou em direção à parede. Ela congelou seus passos porque sentiu uma presença próxima que pisou em uma pedra. Bem na frente de Lydia, que prendeu a respiração, a presença ficou parada.  

 

― Encontrei você, Lydia.  

 

― V-você é realmente Edgar? 

 

― Devo dizer nossa palavra secreta? 

 

Nunca decidimos tal coisa”. 

 

― Eu te amo, minha fada. 

 

É ele. Ele está brincando”, ela pensou irritantemente, mas assim que ela entendeu que ele estava ali, Lydia sentiu que ia chorar.  

 

― Qual é o problema? Eu te surpreendi? 

 

― P-por que você não me deu uma resposta? 

 

― Porque queria me concentrar em rastrear sua voz. Se eu abrisse minha boca, perderia a direção que me esforcei tanto para conseguir.  

 

Ela foi revelada, mas queria chorar. A voz não era suficiente. Queria ter certeza consigo mesma que ele era real e de suas palavras ditas que ficaria ao seu lado. Lydia empurrou seus sentimentos de lado e deu um passo para trás, depois se abaixou para se sentar no chão. 

 

― Lydia? 

 

― Por favor, não chegue perto de mim agora.  

 

― Como assim? 

 

― Eu me senti tão impotente.  

 

A mente de Lydia estava tão caótica e perdida que ela mesma não conseguia acreditar no que dizia.  

 

― É por isso que, agora, acho que estou agindo de forma estranha. Maggie não está mais dentro de mim, mas sinto que posso cometer um comportamento impróprio.  

 

― Oh, se for isso, logo, você pode se jogar em meus braços.  

 

― NÃO! 

 

― Você não precisa se recusar com todas as suas forças.  

 

Ela até pensou que estava demonstrando uma atitude azeda e crítica. Este não é o comportamento agradável de uma jovem.  

 

Se fosse como Maggie, uma garota que podia se aninhar quando queria, logo, qualquer um a veria como adorável. E embora os dois passassem um tempo bem próximos um do outro, seus sentimentos de amor poderiam crescer ainda mais. Logo, seria natural se Edgar não se apaixonasse por Lydia, que sempre o recusava. Era uma história boa para ela querer que ele apenas fosse sério, apesar de que ela mesma não estivesse tentando se apaixonar por ele assim como Maggie.  

 

Estando nessa condição, não havia como eles se tornarem amantes. Mas, ela simplesmente não podia ser de repente como Maggie.  

 

― Ah, mas eu sei que esse tipo de comportamento não combina com alguém como eu.  

 

A mão dele tocou seu ombro. Em seguida, ele traçou seu braço suavemente e segurou sua mão. 

 

― Não importa se cabe ou não.  

 

―  Isso não importa agora. Deixe para lá! 

 

―  Por enquanto. Não é como se você detestasse isso? 

 

Quando foi questionada sobre isso, ela simplesmente não ligou. Edgar estava apenas descansando os dedos de Lydia na palma de sua mão. No fim, Lydia se silenciou. Ele manteve sua mão na dela e de repente abriu a boca.  

 

― Isso não é nada mal. Não consigo ver nada, mas sinto realmente que você está bem aqui comigo.  

 

Mesmo que ela dissesse para deixar para lá, estava mostrando uma abertura completamente vulnerável. Teve a ligeira sensação de que ele antecipou que ela não poderia recusar e deliberadamente se arriscou, o que a deixou confusa. Ela era uma pessoa que fazia questão de encontrar uma brecha em sua guarda e se esgueirar nela. Ela observou como ele estava seduzindo Maggie e descobriu isso, mesmo assim quando ele se voltou para ela como alvo, não sabia o que fazer.  

 

― Já que nossos olhos são inúteis, você percebe que nossos outros sentidos ficaram mais fortes?  

 

― V-você acha? 

 

― Eu posso dizer que tipo de expressão você tem em seu rosto. Da tensão em seus dedos, sua voz e como você respira. - explicou ele.  

 

Uma presença invisível aos olhos; só por issoLydia teve a mesma sensação de que ela sabia o quão próximo ele era dela. Era um tipo malicioso de proximidade. Se fosse em uma situação normal, ela já poderia estar correndo. Mas, usando a desculpa de que ela não podia ver, permaneceu naquele lugar. Provavelmente, porque a ponta de sua mão era única coisa que a tocava, logo, ela não sentiu nenhum perigo.  

 

Enquanto tentava se convencer disso, também sabia que isso estava errado. Como se ele estivesse tentando aquecer as pontas dos dedos dela que haviam ficado frias de medo, ele pousou a palma da mão suavemente na dela. Seus dedos que estavam estranhamente rígidos afrouxaram a tensão. Seus nervos estavam relaxados e no momento em que seu corpo liberou o nervoso em suas costas, os dedos delicados, mas fortes, se esgueiraram até ela.  

 

No momento em que ele prendeu com força a sua mão a dela, ela teve vontade de chorar novamente.  

 

― Eu disse para não chegar perto de mim. 

 

Ela se manteve na mesma posição e não se afastou da mão dele, logo não foi convincente mesmo que ela dissesse isso.  

 

― Não é impróprio se confia no seu noivo.  

 

― Mas, você não é meu noivo.  

 

― Contanto que você me permita um beijo, logo, serei capaz de convencê-la tão rapidamente que sou seu noivo.  

 

― Se fosse uma coisa fácil como essa, você teria uma longa fila interminável de noivas.  

 

― Você não me odeia, não é? Quando seguramos a mão um do outro assim e você se sente confortável com isso, você só precisa ficar ainda mais confortável.  

 

― Por que você diz uma coisa dessa? Você me faz sentir que sou uma garota fútil.  

 

Palavras que deveriam ter permanecido dentro de si, saiam escorrendo pela sua boca.  

 

― Isso significa que você também quer beijar... 

 

― Não! Isso foi uma mentira agora! 

 

― Se você fosse fútil apenas comigo, ficaria feliz em recebê-la.  

 

Lydia não tinha ideia de como manter a conversa. Talvez não fosse algo que ela tivesse que estar em guarda. Mesmo na cidade de sua infância, as meninas da sua idade falavam entre si sobre como passavam o tempo com seus namorados. Porém, Lydia não achava que isso era leviandade e estava secretamente com inveja delas.  

 

No entanto, isso só acontecia se uma mulher tivesse alguém que amava do fundo do coração. Se elas estivessem falando sobre como brincavam com sentimentos alheios, não teria como simpatizar com elas.  

 

É por isso que agora, ela pôde ter se sentido como se estivesse fazendo algo impróprio porque não havia sentimentos entre eles. Os dela, e até mesmo os sentimentos de Edgar, eram distantes demais para se sobrepor.  

 

― Eu não posso. Não é como se eu não quisesse, mas acredito que irei me arrepender disso... Tenho certeza de que vou me arrepender mais tarde. 

 

― Não há nada para se preocupar... - ele disse, mas se conteve como se estivesse indeciso.  

 

Depois de um momento, como ele estivesse pensando, ela ouviu seu sussurro “É minha perda”. Ela sentiu o ar se mover ao seu redor como uma sugestão de uma leve confusão e rendição. Ela reparou que Edgar se levantou lentamente. As mãos que estavam conectadas permaneceram junto e ele a puxou pelo braço.  

 

― Podemos ir, então.  

 

―  Para onde? 

 

― Do ponto em que estávamos antes, pude ver um brilho fraco à distância. De qualquer forma, precisamos descobri qual é a nossa situação.  

 

Eles se dirigiram para a luz brilhante e encontraram o caminho até lá com as mãos. Eventualmente, no lugar além daquele, puderam notar que havia um espaço aberto que estava iluminado. Houve movimentos de farfalhar e movimentos. Alguém certamente estava lá.  

 

Edgar e Lydia lentamente e de modo silencioso se aproximaram e espiaram de um alto e largo pilar de pedra. Esse espaço foi preenchido com uma série de velas acesas, o que fez o espaço parecer uma catacumba subterrânea. Os selkies, que tiveram seus casacos levados por Ulisses, foram reunidos ao centro.  

 

Quando Lydia avistou a idosa que a resgatara e se encontrava em um estado deplorável, caída no chão, como se tivesse sido torturada com um chicote. Lydia não pensou duas vezes e correu para eles. Ela não percebeu que Edgar não teve tempo de reagir para segurá-la, pois temia que Ulisses pudesse estar por perto.  

 

― Senhora, oh, por que isso aconteceu? É minha culpa. É porque Ulisses descobriu que você me deixou escapar.  

 

― Fairy doctor, você está viva... 

 

― Todos vocês têm que se apressar e sair daqui! 

 

Assim como ela disse, em volta deles, ela viu que havia uma corda estendida no chão formando um círculo ao redor dos selkies. Havia visco incorporado à corda, logo, era uma barreira mágica que selava as fadas. Ulisses deve ter reunido os selkies que escaparam do fogo e os acorrentou ali. As duas selkies de antes devem ter querido que Lydia soubesse disso.  

 

― Espere um momento, vou quebrar este selo imediatamente.  

 

Lydia tentou desamarrar o nó apertado da corda. Mas, estava dado com muita força e ela passou por momentos difíceis.  

 

― Não podemos cortar?  

 

― Mas, não há nenhuma tesoura aqui.  

 

Enquanto Lydia respondia, Edgar cortou a corda com uma faca. 

 

― Oh... Obrigada! 

 

― De nada.  

 

Ela se perguntou se ele pensava que ela não passava de uma mera fairy doctor medíocre. Lydia voltou a se concentrar e se virou para encarar os selkies, que estavam lentamente abrindo caminho fora da corda.  

 

― Seus casacos estão aqui. Vão em frente e peguem o seu.  

 

Ela abriu a tampa da caixa na frente deles enquanto eles explodiram em uma alta e feliz comoção. Os selkies não lutaram por quem seria o primeiro, pois cada um deles tirou uma esfera azul-claro de cada vez. A idosa também, apoiada por alguém de sua espécie. Ela apanhou o dela e segurou-o com ternura nas mãos.  

 

No momento em que a caixa ficou vazia, Lydia percebeu algo. 

 

―  O de Ermine não está aqui. 

 

Havia sinais de que não sobraram casacos. O que significava, “Oh, não... pode ter queimado... 

 

― O casaco dela está nas mãos de Ulisses. - disse a idosa.  

 

― Então, ela está viva. Graças a Deus... 

 

Ela ficou aliviada e olhou para Edgar, porém, ele estava com uma expressão preocupada. Ela estava viva, mas indicava que ainda estava nas garras de Ulisses. De onde estava, ele se moveu de uma forma nada natural para ficar atrás de Lydia. E, de repente, disse: 

 

― Lydia, não se vire.  

 

Ela se virou sem pensar. Ao mesmo tempo, um pilar que tinha algo amarrado com sangue saltou em seus olhos. Ele a segurou quando ela quase caiu e escorou-a fugindo do pilar, porém isso ficou gravado em sua mente.  

 

― O quê? 

 

― Provavelmente, sir Stanley e sir Clark. 

 

― E-eles estão mortos? 

 

― Não mais do que eles poderiam estar.  

 

― Porém, vou fazer com que todos morram de qualquer maneira. -  uma voz fria  ecoou ao redor deles.  

 

Quando ela olhou em volta, viu que Ulisses descia lentamente as escadas de pedra que ficavam no fundo do espaço.  

 

― Aqueles dois foram sacrifícios. Queria contaminar este lugar tanto quanto eu pudesse.  

 

Ele trouxe consigo os dois selkies anteriores e Ermine. Tanto que ele tinha uma pistola apontada para as costas de Ermine 

 

― Mas, eu tenho que dizer, alguma vez dei ordem para trazer os dois aqui? Ele encarou para as duas selkies e, depois, para Edgar. 

 

― Lord, se esta mulher não tivesse um ferimento, logo queria que ela lutasse com você, mas isso parece impossível.  

 

Ela realmente aparentava estar mal, pois não conseguia ficar de pé.  

 

― Então, por que não a deixa ir? Você deve ficar satisfeito em me confrontar diretamente.  

 

― Pessoalmente, tenho o desejo de fazer isso. Mas, eu tenho que cumprir a ordem mais importante que me foi dada, logo, não posso deixar meus sentimentos sobreporem a mim. - disse Ulisses de uma maneira sugestiva, enquanto puxava Ermine mais próxima de si.  

 

― Ela só costumava fingir de morta apenas na frente de seus olhos.  

 

Quando Ulisses parou no meio da escada, fez Ermine apanhar a pistola.  

 

― Agora, você pelo menos atirar em si mesma, não é mesmo? 

 

Ermine silenciosamente seguiu seu desejo e se voltou para apontar a arma para si mesma.  

 

― O que você pensa que está fazendo, seu covarde?! - gritou Lydia, mas não pareceu nem arranhar Ulisses.  

 

Naquele momento, Ermine virou seu corpo. Ela não tinha sua velocidade e graça habituais, mas foi o suficiente para envolver os braços em volta de Ulisses de costas e mirar a arma para seu pescoço.  

 

― Você... Você não deveria ser capaz de ir contra mim... 

 

Isso era verdade. Então, por quê? 

 

― Assim, como você ordenou, devo puxar este gatilho. Isso irá passar pela sua garganta e entrar na minha... 

 

Antes de terminar o que estava dizendo, ela inclinou a cabeça em direção a Ulisses como se fosse beijar seu pescoço e puxar o gatilho.  

 

― Raven, pare-a! 

 

Naquele segundo, uma sombra saltou de cima.  

 

O som de tiros ecoou nas paredes e foi tão alto que doeu ouvir. Ermine desabou na escada como se estivesse sentada. No entanto, Ulisses permaneceu de pé, pois acabara de deter a faca de Raven com seu sabre.  

 

Se Ulisses estava vivo, a bala também não deveria ter acertado Ermine. Mesmo assim, não houve um segundo para relaxar. Os selkies convocados para proteger Ulisses pularam para atacar Raven por trás. No momento em que Raven saltou para trás, Ulisses tentou escapar.  Edgar subiu as escadas correndo enquanto gritava: 

 

― Pegue a joia que está na orelha dele! 

 

Raven chutou as selkies, se virou para Ulisses e atirou sua faca.  A orelha de Ulisses cortada. A pequena gema brilhou ao cair no chão. Tinha uma leve nuance de azul-oceano. Aquilo era uma água-marinha? Lydia se lembrou do pingente que estava pendurado em seu pescoço. Era uma água-marinha herdada pela sua mãe e de sua avó para sua mãe e de gerações anteriores. Ela soube que havia muitos parentes de sua mãe que se tornaram fairy doctors 

 

Aquela que estava em posse de Lydia agora, também poderia ser... Era um pouco tarde para Lydia perceber que precisava pegar a pedra preciosa que Ulisses deixou cair ao pé da escada. Se um pedaço de orelha humana não estivesse preso a ela, pensou que não teria hesitado, porém Ulisses desceu em questão de segundos antes de Lydia, que correu para pegá-la e a apanhou com a mão.  

 

Ela barrou os passos antes de quase colidir com ele, entretanto, Ulisses sorriu e agarrou o braço de Lydia.  

 

― Lydia! 

 

Ela podia sentir que Edgar estava vindo atrás deles, porém, Ulisses puxou o braço de Lydia e correu para escapar para as profundezas escuras da caverna subterrânea.  

 

Como se estivesse acostumado, Ulisses foi capaz de sair do labirinto. No momento em que eles subiram as escadas, chegaram ao topo da colina. Sob o céu cinza cheio de nuvens, eles podiam ouvir o som estrondoso das ondas fortes. Parecia que a revolta dos selkies tinha aumentado e as ondas ficaram mais violentas e fortes que espirravam perto do topo da colina em que eles estavam, e isso fazia com que o ar ao redor deles se enchesse de uma chuva forte.  

 

Bem no meio do topo daquela colina, havia uma pilha de fogos de artifício que estava acesa e queimava em uma grande fogueira.  

 

― Dê uma olhada. - disse Ulisses, que arrastou Lydia para perto do fogo de modo que chegassem a um lugar onde pudesse ver o oceano em volta. Ele não parecia se importar com sua orelha que tinha uma parte cortada e ainda fazia sangue escorrem pela sua bochecha.  

 

― Se você se considera uma fairy doctor, pode me dizer, certo? Isso é ininterrupto agora.  

 

― Não me considero uma fairy doctor. Eu sou uma fairy doctor 

 

Lydia olhou para ele tão duramente quanto pôde.  

 

― Com apenas a minha vontade, posso desejar que esta ilha seja engolfada pelo mar. Divertido, mal posso esperar. 

 

― Por que são ordens do Príncipe? Você não tem orgulho de ser um fairy doctor? Não, você não é um fairy doctor de jeito nenhum. Os fairy doctors são amigos das fadas. É por isso que, embora sejam humanos, recebem o poder que pode abri-los para sua magia... Eu não vou te perdoar. Não vou deixar isso acabar como você espera! 

 

― Você é tão enérgica. Mas, o que você pode fazer? Apenas ter olhos que podem ver as fadas não os torna úteis em nada.  

 

De um de seus bolsos, ele tirou uma esfera colorida um pouco clara.  

 

― Este é o último. Todos vocês se lamentam por se envolverem com ele.  

 

Ulisses estava prestes a jogar o casaco de pele selkie no fogo. Entretanto, Edgar veio correndo atrás dele para detê-lo, batendo-se contra as costas do jovem. Enquanto lutava e derrubava Ulisses, ele tentou apanhar o casaco selkie. Então, ele caiu da mão de Ulisses e rolou em direção ao fogo.  

 

Bem na frente dos olhos de Lydia, enquanto ela ficava atordoada, Edgar derrubou Ulisses e correu para espalhar e apagar a lenha em chamas, chutando-as com o pé. Das cinzas ainda quentes, ele pegou o casaco.  

 

― Ora, ora, mesmo que você tenha ido tão longe e tentado resgatar aquelas fadas, não adianta, não é do seu feitio colocar seus esforços em algo tão inútil. - disse Ulisses, em uma tentativa teimosa de ser firme e autoconfiante ao se levantar e limpar o sangue do lábio cortado.  

 

― Eu sou o Conde da Terra das Fadas. É natural para mim zelar o que minha fairy doctor protegeria.  

 

― Você me faz rir. O Conde Cavaleiro Azul não existe mais na Inglaterra. E não há mais fairy doctors decentes. Não importa o nome que você use, não há poder que possa parar os selkies. - disse ele enquanto estendia a água-marinha para o mar.  

 

― Agora, venham para cá, selkies 

 

Lydia deu um pulo para olhar na direção do mar e avistou um grupo de selkies que começava a se mover. A superfície do oceano se ergueu como uma montanha. A primeira onda estava vindo em direção deles. Ela tinha que fazer algo. 

 

Lydia repetiu para si mesma que estava tudo bem, sua mãe estava ao seu lado. E, Edgar, que reconheceu nela uma fairy doctor, estava ao seu lado.  

 

Não existem mais fairy doctors decentes”. Isso pode ser verdade, mas se esta água-marinha fosse o coração de um selkie, logo, agora, Lydia deveria ter a mesma quantidade de poder que Ulisses possuía.  

 

Porém, e se fosse apenas uma água-marinha comum? Nesse caso, embora fosse uma pena, tudo estaria acabado. Mas, ainda assim, Lydia reuniu toda a coragem que tinha, agarrou a água-marinha de sua mãe e estendeu-a ao mar.  

 

― Ouçam, selkies! Eu sou a fairy doctor do Conde Cavaleiro Azul! Por favor, não destruam a fortaleza do conde.  Juro por este “coração” que aceitarei todas as suas tristezas! 

 

― Um coração ... Logo uma garota como você? 

 

Ela foi capaz de ouvir o sussurro de Ulisses. Entretanto, a onda continuou rolando na direção deles e instantaneamente trovejou morro acima. As correntes de águas borbulhantes vieram em sua direção.  

 

― Lydia! 

 

Edgar estendeu a mão para ela enquanto estava pendurado em uma árvore. Ela lutou para estender a mão para apanhar a dele, mesmo assim, Ulisses agarrou seu cabelo com o punho. Sem soltar, ela deslizou sob as águas com ele. Empurrada pela corrente, Lydia foi sugada para dentro da água e lutou para se levantar para respirar e viu Ulisses se esticando para tirar seu pingente. “Não. Prefiro morrer a deixar isso com você” 

 

Lydia resistiu o máximo que pôde. “Eu não posso...”. Quando ela pensou que estava no limite, algo veio até eles e se lançou contra Ulisses.  

 

Selkie...?” 

 



 

E, então, ela percebeu. Ela podia respirar debaixo d’água. Ela deslizou para o reino das fadas.  

 

Esse era um mundo diferente que estava no topo, mas separado do oceano do mundo humano. Uma série de selkies fez Ulisses recuar circulando em torno de Lydia enquanto eles nadavam lentamente na água. Os selkies fizeram isso porque Lydia protegia os seus casacos. A água estava cheia de luz e os casacos dos selkies tinham bolhas de ar que os faziam refletir o oceano e tomavam a mesma cor azul-claro.  

 

― Vocês estão indo contra mim, selkies! 

 

― Não temos mais motivos para obedecer a você.  

 

Disse uma selkie que tinha uma compleição particularmente grande, e Lydia foi capaz de dizer com um olhar que era a idosa. Ela apresentava uma estatura baixa quando em forma humana, mas talvez porque viveu uma longa vida como uma fada, sua aparência natural tinha uma presença ousada e magnífica.  

 

― Eu tenho esse “coração” comigo. Eu posso infligir dor eterna a todos de sua espécie.  

 

― Ela também tem um “coração”. Há também um novo Conde Cavaleiro Azul. Como uma de nossas amigas, ela carregará nossa dor conosco.  

 

Ela nadou graciosamente na água desde que recuperou seu casaco e seus ferimentos de quando estava na forma humana foram completamente curados.  

 

― Aquele Conde Cavaleiro Azul não é o verdadeiro herdeiro. - disse Ulisses com uma risada ríspida.  

 

― Não, ele é real. Ele é o Conde que os merrows aceitaram. 

 

Lydia também não podia perder.  

 

[ ― Nós pensamos que todos eles tinham desaparecido. O Conde Cavaleiro Azul e os fairy doctors que se encontravam aqui e ali como velhos tempos e os humanos em que confiávamos.]  

 

A voz veio do grupo que estava girando ao redor deles à distância.  

 

― Essa garotinha não tem o poder de uma fairy doctor como eles tinham no passado. Mesmo que ela possuísse um “coração”, não seria capaz de salvar todos vocês. Não me façam rir! 

 

Chamando-me de garotinha, você também parece um garotinho”.  

 

― Se forem contra mim, não haverá esperança para a sua espécie! 

 

No tom imperativo de Ulisses, os selkies pareciam nervosos, mesmo assim, no final, ninguém se mexeu.  

 

[― O novo Conde Cavaleiro Azul.] 

 

[― O novo Conde Cavaleiro Azul é confiável?]  

 

Bem, eu não recomendaria fazer isso”, ela pensou.  

 

― Se vocês confiassem em mim pelo menos um pouco, gostaria de perguntar se sua espécie não destruiria o encanto do Conde que está na ilha. Tanto o Conde quanto eu somos seus aliados. Mesmo que não tenhamos o poder que eles tinham no passado, nós prometemos isso.  

 

[ ― Fairy doctor, nós, selkies, não podemos existir sem um amigo humano. Teremos você, que tanto se esforçou por nossa espécie quanto a nossa esperança. ] 

 

Ao mesmo tempo, a revolta do mar parou. Ulisses fez “tsc”.  

 

― Fadas idiotas, vocês vão se arrepender por isso.  

 

Com essas últimas palavras, ele desapareceu. Ela se perguntou se ele tinha poder ir e vir entre o Reino das Fadas livremente e por conta própria. Os selkies irritaram esse tipo de pessoa, mas chamaram Lydia como sua esperança e a consideraram amiga.  

 

[ ― Fairy doctor, a fortaleza do conde já ficou sem purificação. Não podemos garantir se ela ainda tem alguma força sobrando.] 

 

[ ― Você deve retornar agora. Seu guia chegou.] 

 

Depois que eles disseram isso, o enxame de selkies criou uma nuvem de bolhas na água e nadou para longe de Lydia.  Ela viu Nico vindo em sua direção, e ele deve ter sido teimoso em andar sobre as patas traseiras e caminhou sobre as águas. Foi revelado viera por ela, mas quando notou que veio de uma maneira tão arrogante, ficou furiosa ao mesmo tempo.  

 

―  Nico! Como você se atreve a me abandonar sozinha! 

 

― Eu me senti mal com isso. Você pode perceber que por conta disso que vim te levar para casa.  

 

As estradas no meio do reino das fadas serpenteavam e dão voltas de maneira tão obscura que não era raro que humanos caíssem ali e permanecessem perdidos e vagando para sempre.  

 

Realmente queria dizer a coisa mais ousada que ela mesma poderia voltar, mas pensou que era algo impossível, logo, Lydia apenas murmurou.  

 

― Tudo bem.  

 

― Não fique zangada. Eu com tanta fome, de verdade, que quase morri.  

 

― Eu estava mais perto de morrer! 

 

― Isso foi... Oh, tudo bem, quando voltarmos, vou deixar você esfregar os pelos da minha barriga.  

 

Hum?? Isso não é nada agradável”. 

 

Mas, para Nico dizer que enquanto ele mexia na gravata de forma envergonhada, era seu método de sacrifício mais elevado para acalmar a raiva de Lydia. Agora que ela se lembrava, quando criança, esfregar a bochecha contra a barriga de Nico era uma de suas coisas favoritas a fazer.  

 

Depois que sua mãe faleceu e ela se sentia sozinha e chorava, Nico dizia: “Oh, tudo bem, então, eu deixo você apertar a minha barriga”. Mas, ela não era mais uma criança. Quase ia rir, porém, pensou que ainda poderia ser uma criança. Não podia fazer nada sozinha. Mas, se houvesse uma fada que a apoiasse, e se houvesse alguém ao seu lado, ela ainda poderia continuar trabalhando duro.  

 

Ela teve sua mão puxada por Nico, enquanto eles se elevavam, percebeu, então, que havia uma selkie em particular que permaneceu com ela. Era a selkie idosa. Ela entregou uma bola redonda que tinha a mesma cor da água.  

 

― Este, talvez seja de Ermine? 

 

― Essa criança não tem a mentalidade de uma selkie ainda. Mas, algum dia, pode chegar a hora que ela recupere o casaco e deseje voltar ao mar. Até então, por favor, cuide dela.  

 

Lydia acenou a cabeça com um semblante sério, e a selkie idosa pareceu aliviada e saiu nadando. A seus pés, onde o mar estava tão baixo e escuro, os selkies se reuniram para nadar em círculo. Por um instante, Lydia pensou ter visto aquela caixa de toucador. Uma pequena selkie a carregava enquanto brincava na água.  

 

Teresa, é você?” Mesmo que ela não tivesse a memória de quando era humana, se as memórias preciosas de alguém que nunca desaparecessem, então... Isso, com certeza, estaria gravado na parte mais profunda de sua alma.  

 

Na localidade de Hastings, onde a praia de areia branca se estendia contra o mar, passou-se o auge do verão que durou poucos dias e o número de pessoas foi diminuindo e desaparecendo. Os verões na Inglaterra eram curtos e iam embora em qualquer momento. Mesmo que o Sol brilhasse forte, as pessoas começavam a sentir que o pôr do Sol chegava mais rápido do que normal, não demorou muito para que a luz laranja enchesse o céu com a estação do outono.  

 

Lydia estava sozinha, caminhando pela praia enquanto olhava para o mar. Após o incêndio na propriedade de campo da senhora Collins, o único fluxo de eventos terminou com o desaparecimento de três pessoas. Ulisses devia estar vivo, mas depois disso não apareceu. A onda de selkies desmoronou uma parte da colina e ela ouviu que não havia mais ninguém dentro dos restos do edifício. Os selkies disseram que não sabiam se restava algum poder nele, mas isso era algo que Lydia, e até mesmo Edgar não tnham conhecimento, e não ficou claro se o feitiço reflexivo do Conde Cavaleiro Azul estava protegido.  

 

Mas, para Ulisses deve ter sido como um fracasso, e Edgar parecia pensar que só isso já valia alguma coisa. A senhora Collins e Suzy voltaram para Manchester. Parecia que mente da madame ainda se mantinha meio que flutuando em um sonho, porém ela aparentava que havia aceitado Lydia como uma jovem senhorita agradável que foi gentil o suficiente para passar um tempo com ela no lugar de sua filha. Não mencionou o nome de Teresa e demonstrava a preocupação e consideração por Suzy como uma boa guardiã, logo se podia esperar que ela aos poucos voltasse à realidade.  

 

No final, a ilha e as pessoas que se encontravam nela conseguiram não ser arrastadas. Claro, Lydia sabia que ela não foi responsável por isso sozinha. Foi ajudada por muitas outras pessoas e, por ser apoiada, conseguiu ganhar sua chance. E só por saber disso, ela sentiu que havia se tornado uma fairy doctor muito melhor.  

 

― Lydia, aqui está você.  

 

Lydia notou Edgar quando ele se aproximou dela enquanto sorria feliz e, instintivamente, ela se encolheu. Quando Edgar estava de bom humor era preciso ter cuidado. Mesmo quando ele não estava, você devia ter cautela, pois ele tinha um sorriso, as pessoas não podiam de baixar a guarda, por isso era extremamente perigoso para Lydia.  

 

― Já que você veio dar uma volta, poderia ter me avisado.  

 

― Mas, você estava no meio de um assunto.  

 

Ela tentou se expressar mais friamente que pôde. No momento em que ela saiu do hotel, o viu flertando com alguma nobre.  

 

― Não existe nenhum tipo de assunto que valha a pena recusar seu convite. - ele inventou uma desculpa sem tirar o sorriso. “Que bom galanteador”. Lydia ficou horrorizada enquanto continuava andando.  

 

― Por favor, não seja tão fria comigo. Durante os três dias que você estava desaparecida, sabe o quanto fiquei preocupado? Estive andando de cima para baixo na praia dia e noite.  

 

Isso era, aparentemente, verdade, já que Raven tinha até dito isso. Durante o curto período de tempo de acordo com seu conhecimento de que Lydia esteve desaparecia, e voltou do Reino das Fadas, parecia que no reino humano, três dias haviam se passado.  

 

― Mas, Nico não disse a você que iria ficar tudo bem, já que ele viria me trazer de volta? 

 

― Mesmo assim, eu ainda não consegui descansar até que pudesse ver o seu rosto.  

 

Bem, ela sentia muito por essa parte, logo, Lydia diminuiu o ritmo da caminhada. Edgar se aproximou dela e, naturalmente, tirou a sombrinha da mão de Lydia. Estar caminhando ao lado de um homem que tinha uma sombrinha na mão, parecia, completamente, que eles estavam anunciando que era um casal, não importa como você olhasse isso.  

 

Mas, quando ela percebeu, já era tarde demais, pois ela sentiu que ele não lhe daria de volta o guarda-chuva de qualquer maneira, por isso, desistiu.  

 

― Você se certificou de manter o de Ermine com você? 

 

― Sim. Se ela colocasse as mãos nisso, perderia as memórias de quando era humana e se tornaria uma selkie por completo, certo? 

 

Ela decidiu que Edgar deveria ser o único a administrar o item que lhe foi confiado pela idosa. Já que Edgar sabia sobre Ermine mais do que qualquer outra pessoa.  

 

― Embora, eu não saiba se as coisas vão ficar bem assim. - disse ela.  

 

― Vamos pensar nisso calmamente.  

 

Sobretudo, disse Edgar com um sorriso.  

 

― É uma praia tão tranquila e estamos com um humor tão bom. Então, por que não cruzamos os braços? 

 

― Eu não quero. Se você quiser fazer isso, por que não dá um passeio com aquela mulher de antes? 

 

― Só para informá-la, acabei de conhecer minha prima. 

 

― Como se isso fosse altamente possível. 

 

― Foi um beijo simples que dei nela. 

 

― Beijo? Você a beijou?  

 

― Hum... Nâo foi por isso que você estava com raiva? 

 

― Inacreditável! 

 

Lydia gritou com ele e voltou a andar rápido novamente. Desfocando o próprio erro, ele revirou os olhos para o céu por um instante, porém rapidamente se recompôs e a seguiu.  

 

― Lydia, é porque você não permitiria isso com você. Você está me dizendo que eu não deveria beijar pelo resto da minha vida? 

 

― Não iria matá-lo se você não fizesse! 

 

― Isso pode me matar.  

 

Se fosse um homem como você, sim”. Ela não podia negar a possibilidade. Mesmo assim, ele era inacreditável.  

 

― Vá e faça o que quiser.  

 

Isso mesmo, isso não é algo que deva estar com raiva”. Entretanto, ainda a deixou irritada.  

 

― Estou começando a perder a confiança. - ele murmurou de um modo como se estivesse deprimido.  

 

― Não sou capaz de agarrar seu coração, logo, eu estava começando a sentir que não sabia o que fazer. 

 

Oh, não posso ficar impressionada com seu fingimento em ser um solitário”. Mesmo enquanto Lydia se repreendia a si mesma, virou para olhar ao redor um pouco.  

 

― É por isso que queria ter certeza.  

 

― Sobre o quê? 

 

― Quando chegar o momento, se posso beijá-la ou não.  

 

― Ãhn? O certo momento...? 

 

― Quando você permitir.  

 

Eu sabia. Ele estava brincando”.  

 

― Lydia, vamos andar mais devagar. Já que o som das ondas e o sopro do vento me parecem calmos e pacíficos.  

 

― Gostaria de dar um passeio sozinha.  

 

Ela apontou o queixo na direção oposta a ele.  

 

― Oh, bem, e não é que o senhor Palmer? 

 

Lydia percebeu que havia alguém vindo na direção deles vindo de outra direção. O conde impostor, por alguma razão estranha, agiu de forma tão amigável pegando e apertando a mão de Edgar.  

 

― Ora, bom dia, my lord. - Edgar o cumprimentou sarcasticamente.  

 

― Oh, por favor, não zombe de mim. Você é um personagem tão ruim. Como eu poderia ter adivinhado que você era o verdadeiro Conde Ashenbert 

 

E, então, de repente, ele se endireitou perdendo a sua afetação.  

 

 Lord Conde, a resposta da empresa jornalística de Londres chegou e, felizmente, consegui receber a minha parte dos lucros. Quando eu voltar para lá, vou procurar um bom empregado e adequado.  

 

― Isso seria ótimo.  

 

Depois, ele se virou para Lydia e deu um sorriso agradável.  

 

― Teresa, oh, certo, você não era ela. Senhorita Lydia, de agora em diante, não haverá mais artigos de fofocas imprudentes escritos sobre o conde. Uma vez que espalhar que ele tem alguém especial em seu coração, logo, não haverá mais pessoas insolentes que usariam seu nome e se envolveriam com mulheres.  

 

Lydia teve um mau pressentimento.  

 

― ... Espere, Edgar, qual é o significado disso?  

 

― Palmer, não me diga algo tão desnecessário.  

 

― Oh, me perdoe. Bem, se você me der licença agora.  

 

Palmer achou um caminho e saiu rapidamente.  

 

― Um artigo sobre alguém especial para o seu coração?  

 

― Só para explicar, ele se encontrava com alguns problemas financeiros, logo, disse que não haveria problema em falar com a imprensa sobre nós.  

 

O que significava que foram vendidos para os jornais de fofoca? 

 

― Você está dizendo que ele falou sobre mim? 

 

― Um romance entre Conde Cavaleiro Azul e uma fairy doctor. Não é poético? Você diz que o motivo pelo qual não há boatos é porque não combinamos um com o outro, porém, agora, graças a isso, seria um boato adequado.  

 

Nesse momento, Edgar assumira uma atitude repentina e orgulhosa.  

 

― Será na próxima semana quando o professor Carlton estará voltando de Paris. Já que os londrinos ficam entediados rapidamente, eles já teriam se esquecido de nosso boato. Tínhamos feito isso para que a governanta contratada de sua casa ficasse sabendo que você ia fazer um longo passeio, por isso, devíamos ficar mais um tempo só nós. Você não acha que é melhor não voltar para Londres bem no meio de um boato acalorado?  

 

Lydia estava agora tão além do ponto de raiva, que só podia deixar seus ombros caírem. Ela estava planejando fazê-lo concordar em anular o noivado, mas agora se sentia como tivesse uma cerca ainda mais altamente construída ao seu redor. Mas, no interior de Lydia, os sentimentos de negação haviam se tornado muito mais fracos do que antes. Ela não conseguia se imaginar casada. Claro, ela não podia ver Edgar como noivo. Mas, ele tinha algo que Lydia não possuía e também reabasteceu para ela. Estava até começando a sentir que queria conhecê-lo melhor um pouco.  

 

Mas isso também pode ser apenas a parte de seu plano antecipado.  

 

― Gosto muito do mar. Isso me lembra minha mãe.  

 

Em vez de responder, Lydia caminhou até as ondas que chegavam à costa. A crista das ondas espumosas, que se embebiam em uma leve cor sépia, parecia solitária enquanto se lavava e envolvia sua sombra.  

 

― Lydia, você sabe, como disse que não queria porque só iria se arrepender... 

 

Ela não foi capaz de ouvir Edgar por completo, que disse isso como um sussurro fraco a uma pequena distância.  

 

― Você disse algo?  

 

Edgar deu simples sorriso.  

 

― Naquela época, de repente, perdi minha confiança. Não pude dizer que não faria você se arrepender. Se fosse para ajudá-la a me aceitar, não seriam palavras ou algo como um beijo... Não sei o que seria.  

 

Sua voz se misturou ao som das ondas. Mas, seus olhos que a fitavam pareciam tristes e ansiosos por algo, e isso fez com que o coração de Lydia batesse mais forte sem sua vontade.  

 

― Ei, o que é isso? 

 

Ele girou a sombrinha feita com uma renda transparente desenhada com pequenos padrões de flores, enquanto caminhava até Lydia e estendia uma leve concha rosa para mostrá-la.  

 

― Que linda. Quando você a encontrou? 

 

Ele entregou a ela, e depois pegou sua mão de modo um pouco estranho, como se a estivesse tocando pela primeira vez.  

 

― Ah, não posso acreditar que isso seja o máximo que possa fazer.  

 

― Do que você está falando? 

 

― Nada.  

 

Ele segurou a mão dela enquanto continuava andando. Ainda um pouco nervosa, Lydia não podia negar-se a sentir-se confortável em fazer aquilo. Ela não gostava da mão de Edgar. Sentiu-se um pouco culpada por sentir isso. “Eu me pergunto se deveria fazer uma coisa dessa enquanto meu pai está fora. Sinto muito. Mas, tenho a sensação de que mamãe está sorrindo para mim”.  

 

A água-marinha que ela usava pendurada em seu peito refletia a luz do pôr do Sol que reluzia e ensopava a bochecha de Lydia e parecia estar brilhando com um fraco tom laranja.  

 


Nota da tradutora

Parecia-me seria o capítulo mais fácil para traduzir, mas não é bem assim... Isso por conta de vários trechos que davam um sentido dúbio da tradução original com a nossa língua madre, o português.  

Foi exatamente um ano traduzindo esse livro. Espero que no ano que vem, eu consiga entregar os capítulos com mais rapidez. Acredito também que até em meados de fevereiro chegue no blog o capítulo 1 de livro V – Com amor, um diamante amaldiçoado. 

 

Espero você! Um beijo e boas festas^^