domingo, 22 de agosto de 2010

Reviravolta - Parte 5

Doçura

A aula tinha terminado e como de costume era esperada a reunião do pessoal. Mas estranhamente todos furaram, menos ele. Na época não tinha reparado que a intenção era de nos deixar sozinhos. Pensava que era a chuva que os tinha afugentados.
- Então, vamos almoçar? Estou morrendo de fome. Topa um yakissoba?
- Hum.. aquele que comemos uma vez no restaurante lá na Rua Galvão Bueno?
- Esse mesmo!  Nossa, ele é tão cremoso e tem tanto camarão...
- Para, para, que estou até salivando!
- Então vamos, Cathe, antes que a chuva nos pegue de novo!
Caminhamos da escola até o restaurante. No caminho havia tantas lojas, algumas que não davam para passar despercebidas . Quando entrei em uma delas, o olhei e fiquei com dó. Ele realmente parecia faminto.
- Desculpe, é que não tomei café da manhã. Sai correndo...
- E você está com cara de cansado, né? Balada?, perguntei meio divertida.
- Poxa, antes fosse...fechamento...
- Eu sei que é isso...
- Você também fica tão agitada e demora para pegar no sono?
- Sim, e geralmente me pego assistindo a algum filme antigo na TV para ver se sono chega.
- Oras, sou mais prático...
- O que você faz ?, perguntei curiosa.
- Leio um bom livro chato!
Caímos na risada e já estávamos na porta do restaurante. O almoço foi uma delícia, como sempre a comida oriental sempre me traz sabores, cores e cheiros que nenhuma outra me desperta o apetite e o paladar.
- Hum...sabe o que seria perfeito agora?, ele me perguntou.
Disse rápido e sem pensar muito:
- Um doce!
- Isso!! Perfeito, garota! Além de bonita, você lê mentes.
Só me lembro de ter soltado uma boa gargalhada.
Saímos do restaurante e já ameaçava a chover. No meio do caminho, ela nos pegou desprevenidos. Como não estávamos de guarda-chuva, ele tirou a sua jaqueta e a estendeu como uma tenda sobre nossas cabeças para proteger da chuva. Era divertido correr pela rua e as gotas caindo no rosto.
Assim que chegamos, na padaria na Rua dos Estudantes, ele abriu a porta para eu entrar primeiro.
- Hum... obrigada !, agradeci com uma reverência.
- De nada, desponha, respondeu ele.
Demorou para escolher qual tipo de doce que cada um ia saborear. Também a variedade era tanta e com tanta cor. "Nossa, como amo esse lugar", pensei.
Depois de ter colocados os doces com auxílio do pegador nas bandejas, dirigimos ao caixa.
- Deixa que eu pago. Faço questão!
- Mas você já pagou o almoço, retruquei. E aí o provoquei – Isso parece um encontro.
- É quase isso, respondeu ele com uma piscada de olho.
Subimos para o andar superior e a conversa continuou animada. Fiquei curiosa com aquela bebida estranha que se chamava pobá. E ele saboreava com tanto gosto.
- Parece esquisita, talvez quem inventou realmente curtia filme de ficção científica.
Ele riu e disse:
- Experimenta um pouquinho.
Inclinei a cabeça para descobrir qual o sabor daquela bebida misteriosa. Quando levantei-me fui surpreendida com um beijo.
Não sei quando tempo durou, tanto que perdi o senso de direção e do lugar que estava. Só o que queria era beijá-lo e beijá-lo cada vez mais. O cheiro doce que circulava na padaria, a respiração dele, tudo me deixava meio tonta, meio perdida, mas feliz.
Foi aí que iniciou nosso namoro. Engraçado, nós sempre acreditamos que é aquele homem por quem "cismamos" é o cara da nossa vida, mas mal sabia que o “cara” estava bem ao meu lado . Ele é doce, divertido, companheiro e no fundo, um romântico. E se eu tivesse me tocado antes, com certeza, já teria dado a chance para ele mais cedo.
Nós entendemos em todos os sentidos e muitas vezes um descobre o que o outro está pensando. Lógico, que tivemos que fazer alguns ajustes; relacionamento bom nunca nasce pronto.
Os amigos, parentes, colegas perceberam que nossos modos mudaram e surgiu um brilho nos olhos de cada um que não tinha aparecido antes. E quantas vezes, peguei-me rindo à toa, lembrando algo de engraçado que ele falou ou de uma situação divertida que passamos juntos.
Aquela noite não foi diferente. Estava em pleno fechamento ajudando a Marta a bater as últimas emendas de um texto complicadíssimo sobre negócios. A reportagem estava boa, apesar do assunto superchato, mas tinha tantos erros, que tivemos revê-la  várias vezes.
Um determinado trecho deixou-me confusa, e aí pedi ajuda para o Eduardo. Liguei pelo celular para tirar a dúvida. Ele me explicou de forma bem clara que entendi em poucos segundos, e de uma forma um tanto excêntrica, pegou como exemplo a minha própria vida financeira.
- Prometo que ainda coloco você nos eixos, disse ele rindo.
- Vai ser meio difícil, mas nada como ter um namorado jornalista com especialização em economia.
- Viu? A vida traz sempre algo que precisamos, completou.
- Hum...então ela poderia trazer aquele par de sapatos maravilhoso que vi semana passada...
- Deixa de ser picareta, disse rindo, conheço você. Tá me cantando para comprá-lo, né?
- É...não seria nada mal...
- Mas você é abusada, hein, mocinha? Duvido que ele já esteja aí com você em um pacote dourado daquela loja cara que vimos a semana passada. Aonde já se viu? Você largou a minha mão e foi correndo para a vitrine, mesmo com a loja fechada. Parecia uma criança em uma loja de doces.
Fique assustada. Como ele pode descobrir que eu o tinha comprado com o cartão de crédito? Ele é paranormal?
- Cathe, estou certo que você está com pacote aí?
Olhei apenas com canto dos olhos o pacote dourado encostado na mesa... Meio estupefata disse:
- Caramba, você não deixa escapar nada...
Ele caiu na risada e falou:
- Você é uma perdulária, mas te amo mesmo assim.
Depois que desligamos, olhei de novo para o pacote e comecei a rir. O danado pegava até quando eu aprontava com o cartão de crédito...
- Você está contente hoje...aliás, você tem andando muito contente.

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