sexta-feira, 25 de julho de 2008

Revisores - Profissão má valorizada


Quando vc lê uma revista, percebe-se a escrita padronizada, bem feitinha e impecável. O mesmo acontece com as informações em um livro didático. O mapa está padronizado, a foto combina perfeitamente com a legenda e não há um acento fora de lugar. Esse esmero é feito através de um trabalho conjunto entre autores, repórteres, editores e ...revisores. Sim, essa galera que coloca a mão na massa, que padroniza a escrita apressada e cheia de informação dos jornalistas, consegue salvar textos sem lógica e deixa que o livro seja um exemplo de gramática perfeita para os estudantes.
Qual é a formação de um revisor? Inúmeras. Sim, inúmeras, pq não há uma universidade que dedique exclusivamente a essa disciplina, tanto que, a profissão não é regulamentada (pelo menos que pesquisei, ainda não). Há bacharéis em letras, jornalistas, publicitários, comunicológos...enfim, muita gente ligada à humanas.
Porém, vejo que há um disparate na formação desses profissionais. Cabe aqui um acontecimento ocorrido a pouco comigo. Após um anúncio do site da Câmera Brasileira de Livro, enviei um currículo à editora especializada em saúde para atuar como Revisora Free-lancer. Vida de jornalista não é fácil. Vive de frila em frila para ter um salário razoável e muitas vezes recorremos a esse setor: revisão. E comigo não é diferente, portanto, aceitei o desafio de realizar um teste.
A assistente editorial me enviou 2 textos para revisão e 2 para tradução (perai... a vaga não era para revisora? É...foi isso que pensei tb,viu?). Pois é, 2 eram sobre assuntos de interesse geral e 2 da área médica. No email não especificava que era preciso escolher qual o assunto interesse, portanto, realizei os 4 testes. O texto para tradução da área médica era sobre emergências obstétricas. Era daqueles que se vc é hipocondríaca e impressionável repensava assustada se o desejo de ser mãe é saudável.... Havia casos de ruptura de útero, perda oxigênio do feto com probabilidade de morte ou qdo a parturiente poderia correr o risco de morrer de parada cardíaca, caso ela fosse diabética.
Ok, os mandei antes da data planejada da entrega e estava confiante na aprovação, aliás, não era a primeira vez que realizava trabalhos na área médica (e olha que qto mais fujo das áreas médica e educacional, mas elas correm atrás de mim). A resposta chegou em email frio, distante e sem muitas explicações... "Você, infelizmente, não está à altura do trabalho da editora. Grata pela participação...Fulana de Tal". Caramba!!!! Por que isso? E olha que comecei a ir atrás de outros casos que aconteceram do mesmo modo. E francamente, de um tempos para cá empresas pequenas que não tem coragem de contratar profissionais competentes, colocam testes para candidatos e assim que eles realizam, o trabalho é aproveitado pela editora e repassam aos seus profissionais... simples assim: trabalho feito e sem nenhum custo. Eu acostumada com lado contestador dos meus colegas de profissão, fui ingênua o suficiente de levar a discussão ao pessoal de Letras em uma comunidade no Orkut. Qual não foi a minha surpresa...Todos que participaram do tópico, praticamente o entenderam que não era para discutir, mas sim um anúncio de vaga... Pois é, todos mandaram cvs para realizar os testes...Que coisa ridícula, não é mesmo? E os mesmos dispararam todo tipo de comentário sórdido e cínico: "Você está desconfiada demais", " O mundo virtual é igual o real", "Eu ainda acredito nas pessoas", "Que editora iria se aproveitar de uma pessoa com 4 páginas de trabalho" (ok, o infeliz nem ao menos perguntou qtas páginas a assistente editorial me mandou...foram 30!!! É ou não é para ficar desconfiada?). O que mais me deixou perplexa foi aproveitar da situação para pisar na cabeça e tentar se conseguia a vaga. Francamente...que decepção!!!! Nunca vi tanto hipocrisia reunida em um só lugar. Será que eles não vêem que qto mais furarmos os olhos dos colegas, empresas como essas continuaram a existir e continuaram a nos subestimar como profissionais? E que ainda o revisor será sempre lembrado por profissional chato, presunçoso e por vezes desnecessário (já que há editoras de renome já usam o revisor do word para padronizar os seus textos como forma de economizar os seus gastos)? Poxa, ao menos os jornalistas, tão criticados quanto realizam esse trabalho pelos colegas de Letras (e olha que já senti na própria pele esse tipo de discriminação), ao menos discutem se o mercado apresenta essa tendência, o por que essas empresas pequenas estão cada vez mais exigentes com o trabalho, mas pagam preços irrisórios, verificam se a empresa agiu de má fé ou buscam informação se esses testes são idôneos ou não. Muito me admira esse mesmo grupo bater no peito e exigir respeito... se nem ao menos não respeitam quanto alguém leva à questão na pauta do dia sobre ação suspeita de uma empresa.
E olha que há tópico em comunidade no Orkut dedica a anúncios de trabalho para jornalista, que deixa a vontade para avisar qualquer tipo de fraude ou pelo menos o sinal disso.
Pois é, enquanto tivermos essas picuinhas a carreira de revisor vai continuar má vista, mal paga e subestimada. Mal pra mim e mal pra vcs...tb!

Um comentário:

Unknown disse...

Sei como é isso.. A uns meses atras um picareta também me pediu um trabalho de roteiro em 2 dias.. A resposta? 30 minutos depois.. Desculpe seu trabalho não foi o suficiente!