domingo, 19 de setembro de 2010

Reviravolta - Última Parte

Revelação

Depois disso, voltei para cozinha e fiquei sentada olhando para carta. O chá esfriando e os meus olhos quase marejando. Por que o passado queria bater novamente à porta se ele estava morto?
- Você não vai abrir a carta?
Levantei os olhos e Edu me encarava.
- Acho que vou jogar no fogo, queimar...
- Cathe, ele não está mais entre nós. E sei que antes de me conhecer você chegou a amá-lo.
Amar é algo muito forte, não sei se era amor, porque a dor era um sentimento muito mais constante do que o aconchego, do que o conforto.
Suspirei e disse:
- Está bem!
E fui abrindo a carta.
- Cathe, você quer que a deixei sozinha? Acho que esse momento ...
- Não, espere!
- Cathe...
- Então vou para quarto e leio lá, está bem?
- Se precisar de mim, você sabe, pode me chamar.
Levantei-me, segui até o quarto e fechei a porta. Fui abrindo devagarinho o envelope e ali estava...

“Cathe, querida.
 
Estou no meio da noite, não sei como falar isso. Nunca fui bom com as palavras, nunca escrevi bem. Por isso não dei certo como jornalista, algo que você é muito boa. Sou melhor administrador de negócios do que com a minha vida.
Acho que por isso tenho deixado tantas oportunidades passarem em frente aos meus olhos e deixar você partir...
Hoje a vi tão bonita, tão feliz, que invejei aquele rapaz que estava falando com você pelo celular.
Queria que você estivesse assim comigo...Mas o que poderia dizer para você voltar atrás?
Sim, hoje percebi que a amo. E como a amo! Sei que a machuquei, e talvez em meu orgulho tolo não fui capaz de ser sincero e olhá-la nos olhos e dizer tudo que sinto.
Nesse meio tempo , tudo que fiz foi ficar com Berenice, que nunca me amou ou me fez sorrir. E algo que percebi, você faz muito bem.
Esse desmiolado que um dia cruzou seu caminho durante uma batida de carros, onde foi o responsável, foi responsável também por algumas lágrimas que você derramou. Mas, não se sinta culpada pela dor que sinto agora, aqui, neste minuto e durante essa madrugada fria, onde apenas uma garrafa de whisky me acompanha.
Errei, errei feio! Terminei com Berenice por sua causa, mas será que você me quer de volta?
Agora, tudo que me resta é minha dor e a minha verdade que é amar você.
Peço que pense com carinho, e reconsidere se ao menos esse pobre idiota ainda pode ter uma chance com você.
 
Beijos,
Giovanni”
 
Fechei os olhos e o nó na garganta não me permitia segurar as lágrimas... Sim, tinha o amado. Mas, não sei se era amor ou era apenas uma dor, uma obsessão que nunca foi concluída.
Reli a carta, e pude perceber que ele ficou desesperado quando já estava longe, muito longe de seu alcance e logo ele que pensava que todos lhe pertenciam. Sim, ele era bonito, rico e várias mulheres estavam aos seus pés. Mas no fundo, no fundo, era um infeliz, que nunca soube cuidar dos que amava, e os que o amavam.
Passei a mão pela barriga, ali estava meu filho, fruto da minha relação com Edu. Um relacionamento que me trouxe de novo para luz, outra vez para vida até que fui possibilitada de gerar outra vida.
O que no fundo sentia pelo Giovanni era piedade, compaixão. Uma vontade desesperada de ajudá-lo. Ou mesmo de salvá-lo. Mesmo debaixo daquele homem que tinha sorriso grande e aparentava ter tudo, estava um menino sofrido, que precisa desesperadamente de carinho. Eu tentei, mas ele não permitiu. Não foi a minha responsabilidade. Orgulhoso do jeito que era, não aceitaria alguém o ajudasse. Para ele, humildade era apenas para os fracos.
Pensei: "se estivéssemos na Europa em uma época de frio e houvesse uma lareira aqui, não teria dúvida que a acenderia somente para queimar esta carta". Peguei o pequeno cesto cromado do quarto, risquei um fósforo e encostei a chama na carta. Fiquei lá, observando-a consumir em chamas. Abri a janela e afastei as cortinas.
Queimei-a porque ela tinha cumprida a promessa: informar-me que Giovanni teve sua chance e se recusou. Podíamos ter ficado com juntos? Sim. Podíamos ter dado certo? Não sei. Acredito que seria mais um prolongamento da minha dor. Ou se Giovanni tivesse abaixado a guarda e fosse humilde desde o começo, sim...ou talvez.
Mas quem esteve, está e estará sempre ao meu lado é o Eduardo. Ele sim, um verdadeiro companheiro. Adorável no riso, companheiro na dor. Amigo, amante, namorado, pai. Ele me mostrou tantas facetas e quando teve a oportunidade dele, foi lá e a agarrou. Assim como ele fez quando nos beijamos pela primeira vez em aquela padaria que tanto adoramos.
- Posso entrar?
 A voz do outro lado da porta era do mesmo homem em que estava pensando. Era o pai do meu filho, era do meu grande amor.
- Sim.
- Quer um chá?
Tudo que fiz foi levantar-me, correr para ele e abraçá-lo.
- Obrigada, disse!! Obrigada por você ter aparecido na minha vida!!
Ele voltou os olhos para mim e falou:
- Cathe, escute. Nada mais me importa na vida do que sermos felizes. E isso, sou com você.
Assim que terminou de falar, aproximou-se mais e me beijou. Sim, esse era o tipo de vida que tanto procurava. Era essa vida que busquei em tantos lugares e das mais variadas formas. E com ele aprendi a amar e encontrei a paz.

Fim

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