sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Até as últimas consequências – Capítulo IX

fanfic II para Hakushaku to Yousei

Opening (Abertura):

Ali Project - Troubadour



Vida & Morte em um tabuleiro de xadrez 

Sugestão de trilha: Track 8 (Another – OST)

Hell levantou-se lânguida e olhou para os presentes com certo desinteresse. Era uma mulher alta, magra com uma feição ossuda. Mas um detalhe chamou a atenção de Lydia: metade de sua face era de uma belíssima mulher e a outra, de um cadáver em decomposição.

- Boa-noite! O que querem de mim?

Lydia ficou em silêncio, insegura do que iria falar. E assim várias dúvidas a pertubavam. “O que vou dizer? ‘Quero trazer Edgar de volta… Isso se ele estiver com a senhora e se a senhora permitir’?”. Brigando com as lágrimas que estavam prestes a rolarem, a fairy doctor esforçou-se para falar:

- Saudações, senhora! Vim porque… “E agora? Não seria egoísmo da minha parte solicitar a alma de um morto que nem sei se está aqui? Seria um capricho? Ou tenho medo de enfrentar a solidão?”.

- Não, não é capricho de sua parte! E por que seria? – indagou Hell.

Ela aproximou-se mais e ainda desafiou Lydia: – É o homem que você ama, não é? Pois bem, tenho uma pergunta para você. Quem você quer de volta: o Edgar, o conde ou Edgar, o homem?

- Não importa, só o quero de volta!! Senão… – respondeu Lydia quase que gritando e disparou um choro que ela não conseguia mais segurar.

- Então vamos fazer o seguinte? Que tal uma boa partida de xadrez?

Raven engoliu a seco. Afinal, ele sabia que quem era bom nesse tipo de esporte era Edgar. Lydia tinha mais habilidade no jogo de cartas. Por sua vez, ela, cansada e pálida, quase deu uma resposta ríspida, do tipo “O que tem a ver um jogo de xadrez com a alma do Edgar?”.

- Tem e muito! – respondeu Hell, sem transparecer raiva. E continuou: – Você, mocinho! – referindo-se a Raven – Por favor, sente-se no sofá. Agora, minha boa menina, que tal dirigir-se àquela mesa?

Lydia viu uma mesa de vidro, espetacularmente trabalhada. As pernas da mesa foram esculpidas em forma de serpentes. “Tinham a ver com kundalini?”.

- E não é que você é mais do que uma fairy doctor? – brincou a Senhora dos Mortos. – Pois bem, não é qualquer mulher do seu tempo que sabe um dos segredos da vida…

Lydia a encarou e seguiu até a mesa como estivesse indo para a forca.

- Querido Tomte, por favor, traga-nos o tabuleiro e as peças.

- Pois não, minha senhora!

Hell voltou-se para a condessa e tornou a falar: – Lydia, querida, morte e sexo no fim andam juntos, não é?

E Lydia lembrou-se que na noite anterior que Edgar foi morto tinha feito amor com ele de forma apaixonada, quase visceral.

- Acho que… que… sim! – respondeu abaixando a cabeça.

- Ora, ora! Não precisa ficar envergonhada, não é? Isso é tão natural entre casais que se amam. Mas fique tranquila… – deu um sorriso malicioso – isso não mataria um homem como Edgar!

Lydia retribuiu com um sorriso tímido, mas não conseguiu encará-la nos olhos.

Tomte retornou com o tabuleiro que era feito provavelmente de mármore e as peças de ossos de animais ou algo parecido. Hell as disponibilizou e explicou para Lydia:

- Sabia que em uma partida de xadrez podemos conhecer como a pessoa pensa e age na vida?

- Sei que ele é usado para montar estratégias de guerras…

- Ah, bobagens entre homens, não é Lydia? Então vejamos, por que quero jogar xadrez com você? Sabe por quê?

Lydia deixou a respiração quase suspensa. Tinha consciência que não era boa o suficiente no jogo, sabia que Edgar possuía mais destreza para jogá-lo.

- Oras, não se subestime! E não estamos num campeonato! – disse Hell com a intenção de acalmá-la.

Sugestão de trilha: The Story of Yomiyama (Another – OST)

A Senhora dos Mortos tirou uma moeda do seu vestido negro de veludo, todo bordado em ouro, e falou:

- Vamos definir com qual cor cada uma irá ficar. Como você sabe, as brancas começam. Então vejamos, cara é para as peças brancas, coroa para as negras. Vamos lá? O que você escolhe: cara ou coroa?

Lydia respirou fundo e escolheu:

- Coroa!

Hell jogou a moeda para cima e anunciou:

- Hum… caiu cara! Lydia, você começa!

Lydia moveu o primeiro Peão que se encontrava na frente da Rainha em duas casas. Hell fez o mesmo com um gesto rápido. A condessa então escolheu o Cavalo do seu lado direito e fez o movimento de L. Hell fez o mesmo, só com o esquerdo. “Tenho que dominar o centro”, pensou apreensiva, “só assim posso ganhar o jogo”.

- Hum… não é interessante que o Rei é a peça que menos participa no jogo e é o que nos mais dá trabalho? Caso ele seja ameaçado ou encurralado, de nada adiantará o empenho de todas as peças…

“Será que ela estava falando de Edgar?”

- Não, Lydia. Na verdade, Edgar está nesse estado. Isso não significa que ele seja assim.

A fairy doctor mexeu mais um Peão e que foi novamente bloqueado pelo de Hell. Ela pensou e decidiu que escolher a Rainha era um plano audacioso, porém…

- Eu não faria isso… – alertou Hell.

- Mas…

- Hum, má escolha, Lydia… Ora, ora, vai desperdiçar sua peça mais valiosa assim logo de cara? Afinal…

- A Rainha é a peça mais valiosa do jogo, a que vale mais pontos e a que…

- Muito bem! Ela que protege o reino e é o “escudo” do Rei. Não te lembra alguém?

- Eu não sou assim!

- É, Lydia!! Quem está aqui tentando recuperar a alma da pessoa que ama? Você ou o Edgar?

- Mas…

- Sim, você está aqui para recuperá-lo e não teve medo nenhum vir aqui para falar comigo. Só por isso já ganhou pontos comigo! – e terminou a fala com um leve sorriso.

A condessa então escolheu o Bispo, Hell colocou a Torre próxima ao Rei. A Rainha dos Mortos encarava o semblante sério da fairy doctorolhando para as peças.

- Engraçado, aqui estou pensando… No tarô, a carta da Torre representa a queda de um determinado setor da sua vida. Uma catástrofe que geralmente é para você reconstruir sob as ruínas.

“E o que tem a ver isso com a minha situação?”, Lydia pensou irritada, enquanto fazia mais um movimento de peças, desta vez era, justamente, a Torre.

- Muito! Talvez foi bom você ter perdido Edgar…

- Senhora, perdoe-me! Não acredito que a senhora esteja falando iss..

- Lydia, Edgar nunca foi o monstro que você acredita que ele tenha sido antes de ter conhecido você…

A fairy doctor a encarou assustada.

- Ok, ok! – continuou Hell  a esclarecer seu pensamento: -  Ele abusou um pouco do seu charme, seu carisma e a sua bela voz. Mas digamos que você entendeu a real problemática que ele viveu durante um certo tempo da sua vida?

- Sobre os tempos negros que ele foi submetido aos comando do Príncipe? Claro que sim! – defendeu-se indignada.

O jogo começou a ficar tão tenso quanto a conversa.

- E por que você acha que ele virou um playboy, um mulherengo antes de te conhecer?

“Verdade, esse aspecto de Edgar me irrita tanto que até escondi de mim mesma!”

- Lydia, conheço alguém que é muito, mais muito pior que é Edgar nos seus áureos tempos de…desculpe o perdão da palavra, putaria! E olha que ele manda no Olimpo!

- Mas, Edgar era exagerado!

- Haha! Então temos uma esposa que fica brava com o passado do marido! E por isso você pensa que ele está aqui?

“Preste atenção no jogo e ignore essa afirmação!”, obrigava a si mesma.

- Lydia, nem um cão ou um inseto merecia ser tratado como ele foi! Sem contar que …

- Ok, ele perdeu a adolescência dele! Escutou do próprio pai que nunca deveria ter nascido! E viu seus pais serem mortos! – completou irônica.

- E foi torturado de tão forma que pensou que se morresse seria melhor para ele. Mas ele desistiu? – questionou a Senhora dos Mortos.

- Mas ele foi atrás da Espada Merrow justamente para fazer vingança para o Príncipe. Sem contar que ele me sequestrou, forçou-me a ajudá-lo e não me deu nenhuma escolha! Quantas e quantas vezes, ele me usou como isca! E o resto da história a senhora conhece, não é? – disse Lydia dando um soco na mesa e levantou-se bruscamente.

As peças dançaram sobre o tabuleiro e Hell continuou impassível com um sorriso misterioso, encarando Lydia, com uma das mãos apoiando o rosto.

- No entanto, você está aqui, atrás dele. Não sou eu que estou choramingando por todos os lados onde passo. Essa é você!

Os olhos de Lydia tinha um brilho faiscante de raiva.

- Sabe como você pode recuperá-lo? – indagou Hell.

- Como? – indagou Lydia, agora mais provocativa.

- Perdoando, querida condessa. E quer saber mais uma?

- E tem mais?

- Tem, Lydia! Ele te venera loucamente! E isso o salvou, sabe o por quê? Foi você que devolveu a esperança que o menino Edgar perdeu…

A postura da fairy doctor que se encontrava de pé, inclinada e apoiada na mesa, mais parecendo uma leoa olhando para sua presa se desfez. Ela levou a mão para a boca, para reter um soluço doloroso.

- E para terminar, Lydia… Ele não está aqui… E isso é muito bom!

- Por quê? – indagou ainda meio às lágrimas.

- Ele realmente pode voltar para você! – afirmou Hell.  

Ending (Fechamento):

Kalafina - Consolation



Nota da autora: Eu disse que esse capítulo era tenso! Talvez, alguém tenha percebido que peguei como base o filme “Sétimo Selo”. Ok, é chato pacas, mas a ideia é bem bacana. E aí, gostaram da Hell? Ela é uma das mais profundas e assustadoras Deusas da mitologia nórdica. Hell tem muito a ver também com seus medos mais íntimos. Aquela porta entreaberta que te deixa nervoso(a), mas você não sabe o porquê. Quanto ao jogo de xadrez, confesso que tive que rever, pesquisar as regras e o andamento das peças. E a trilha sonora, hein? Não poderia ser outra sem ser de “Another”, que é uma história que tem muito a ver com Hell. Algo invisível que poderá te atacar em qualquer momento, sem você saber ao menos o que é e como se proteger.

E para quem curte mitologia grega pegou quem é no comentário da Hell (Lydia, conheço alguém que é muito, mais muito pior que é Edgar nos seus áureos tempos de…desculpe o perdão da palavra, putaria! E olha que ele manda no Olimpo!)? Se disse Zeus, acertou! Zeus era o senhor absoluto do Olimpo, casado com a Hera. Ele era terrível e para conquistar “as garotas” (leia-se aí desde as ninfas até semideusas e deusas), disfarçava-se em milhares de animais ^^ . Caso queira,  com qualquer pesquisa no Google, você poderá encontrar milhares de referências sobre ele.

Bem, na próxima semana, será um capítulo mais ameno, mas não menos interessante. Então, vejo vocês lá! Até mais e obrigada por ler a fanfic.

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