quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Reviravolta - Parte 2

Acaso

Mesmo trabalhando como uma repórter freelancer fixa em uma revista de cultura, as contas continuavam chegando e o cartão de crédito estava prestes a estourar. Não tive outra alternativa, procurei mais freelancers para fazer. Entrei em contato com o meu networking para ver se conseguia algum trabalho em reportagens ou mesmo de revisão
- Olha, Kika, acredito que posso ajudá-la, disse Daisy. Mas é frila na área de farmácia. Você toparia?
- Claro que topo, respondi sem hesitar.
- Beleza, como está a sua quinta?
- Hum...meio lotadinha, preciso entregar duas matérias e tenho uma entrevista com um figurão da música.
- Então deixamos para sexta? Vou estar em fechamento, mas fica fria que aviso a Marta que você irá lá. Ela é gente finíssima. Uma das melhores editoras-chefes que já trabalhei.
- Oba, Daisy!! Que horas então?
- Pode ser às 14:30 hs?
- Combinado! Me passa o endereço!
No dia marcado, cheguei na editora mais cedo do que previsto. Na recepção, fui atendida por uma moça simpática que anunciou a minha chegada à editora-chefe. Sentei-me em um sofá macio e logo peguei uma revista para conhecer mais sobre as publicações, mesmo tendo visitado o site da empresa.
Quando o vi, mal podia acreditar em meus próprios olhos. Lá estava ele, na minha frente, ou melhor, na revista. A foto mostrava um homem sorridente, com alguns cabelos grisalhos que davam um charme ainda maior à sua figura. Realmente, além de bonito, ele era fotogênico. Giovanni era o presidente da empresa e, por sinal, assinava o editorial.
Mas a minha atenção foi atrapalhada pelos barulhos dos saltos de um sapato que tinha um andar persistente e confiante. Levantei meus olhos e assim a vi pela primeira vez, uma mulher magra, alta e de cabelos negros e bem lisos. Tinha olhos sorrateiros e ar triunfante. Tão bonita, quanto antipática. Bem-maquiada e vestida, mas parecia que não saber combinar muito bem as cores.
- Onde está a minha correspondência ? Você checou que horas sai o meu voo ? Ah, sim, por favor, traga água sem gás, e sem gelo, disse enquanto caminhava para a escada. -  E não esqueça de colocar uma rodela de limão, porque você esqueceu de fazer isso a última vez!!!!
A única resposta que escutava da recepcionista, era “sim, senhora”, “sim, senhora”.
Mais tarde fui saber que seu nome era Berenice, a advogada da empresa e possuía algumas ações da editora. Parecia que ela tinha muita influência e algo que ela escondia de forma escusa, o que colaborava para produção de vários boatos.
Foi um alívio ouvir a voz de Marta, muito diferente de Berenice: calma, profissional e sincera. Elogiou os meus textos e disse que conhecia um pouco do meu trabalho. Feito os tratos iniciais comecei a fazer as matérias, até que chegou o período de fechamento. E Marta  pediu-me para ajudá-la, que mais tarde soube que era um costume recorrente com as repórteres e assistentes mais aplicadas.
Lá estava eu, em uma sexta-feira à noite, ajudando a bater as últimas emendas dos textos juntamente com a revisora, enquanto auxiliava os retoques finais com o pessoal da arte.
Estava tentando achar uma nota que coubesse em um vazio de uma matéria sobre um congresso odontológico e foi aí que escutei uma voz inconfundível...
- Boa-noite!! Tudo bem por aqui ?
Levantei os olhos e o vi encarando-me surpreso. A papelada em cima da mesa, o computador com mil janelas abertas, a xícara com resto do chá (detesto café), as olheiras denunciando o quanto estava enlouquecida e envolvida com o trabalho.
- Nossa !! Não esperava por isso nem mil anos!!, disse rindo. Tudo bem com você ? Menos brava comigo? - indagou Giovanni.
Ainda com rosto quente e com coração aos pulos, respondi sem jeito:
- Pois é, a Marta  chamou-me para ajudá-la.
- Isso mostra que ela realmente gosta de você e de seu trabalho. Não é mesmo Marta ?, perguntou com a cabeça voltada para editora-chefe. E ele continuou: -  Como chegou até aqui ?
- Foi a Daisy quem me indicou, uma das repórteres da revista de farmácia.
- Ah, a Daisy !! Aquela maluquinha, Marta, que adora fazer piadas de são paulino ?
- Essa mesmo. Ela é um barato !, respondeu Marta, mas com olha de interrogação como pensasse: “ De onde eles se conhecem?”.
Parecendo adivinhar os pensamentos dela, Giovanni explicou sobre o acidente.
Mais tarde, ele retornou à redação para levar o CD que continha todos os arquivos prontos para rodar na gráfica.
Mas antes de sair, ele disse:
- Fico feliz por saber que você não vai desaparecer – e saiu.
Quando dei-me conta, o meu rosto ficou rubro. E pensei: "não posso ter me apaixonado assim.." Primeiro, que nós se conhecemos em uma situação tão inusitada e segundo, bem..segundo, que no fundo, ele era meu chefe. Retornei para casa de táxi com pessoal da redação, que foi dividida em duas turmas, dependendo da região que morava.
Voltei no mesmo carro com a Marta e vi-me quase a indagando sobre ele, mas segurei-me da forma mais forte que podia, qualquer meio de fazer perguntas sobre sua vida pessoal.
Agitada, cheguei em casa e o procurei nas redes sociais. Lá estava ele. Olhei todo o perfil e confesso que fiquei aliviada quando vi o status de solteiro. Sem pensar muito o chamei para ser meu amigo. E no dia seguinte, para minha surpresa, quando checava meus emails, ele tinha aceitado.
A partir daí, “o vigiava” diariamente. Algumas vezes, ele comentou meus vídeos favoritos, minhas fotos. Tudo com muita educação, um pouco de humor, mas nada de intimidade.
E os dias foram passando. Foi aí que reparei uma loura que muitas vezes conversava com ele ou mesmo deixava recados “engraçadinhos”. A minha primeira reação foi ter ciúmes! Larissa era mais nova que eu, mais bonita, mais magra. Um estilo de modelo, cara de cosmopolita, mas vivia no interior da cidade de São Paulo. Pensava: "Será que no fim eles estão se paquerando ? E se eles começaram a namorar ?". Quando pensava nessa possibilidade todo o meu corpo se retorcia de repulsa, raiva e rancor.
Mas o mundo desmoronou quando em uma manhã fria de domingo, o status dele mudou para “namorando”. Ótimo!!! – pensei: Era tudo que eu não queria!!!. Comecei a chorar e perguntei-me o que estava acontecendo comigo. Mas tive que admitir, estava apaixonada por ele.
Pensei: "Mas quem poderia ser ??". Só devia ser a loura que tanto aparecia nos recados...
Apesar disso, tentava achar uma justificativa que aquilo era apenas para afastar alguma intrusa, maluca. Será que estou invadindo a vida dele ? Será que sou eu a pessoa que ele quer despistar ? Meu estômago doía, a minha cabeça latejava. E os dias que seguiram foram cruéis... A dúvida... sempre ela aparecia e reaparecia... a dúvida...
Mas a resposta veio naquela última sexta-feira do mês, em um fechamento que apesar me rendeu algum dinheiro, também me trouxe uma grande decepção.

Reviravolta - Parte 2

Acaso

Mesmo trabalhando como uma repórter freelancer fixa em uma revista de cultura, as contas continuavam chegando e o cartão de crédito estava prestes a estourar. Não tive outra alternativa, procurei mais freelancers para fazer. Entrei em contato com o meu networking para ver se conseguia algum trabalho em reportagens ou mesmo de revisão
- Olha, Kika, acredito que posso ajudá-la, disse Daisy. Mas é frila na área de farmácia. Você toparia?
- Claro que topo, respondi sem hesitar.
- Beleza, como está a sua quinta?
- Hum...meio lotadinha, preciso entregar duas matérias e tenho uma entrevista com um figurão da música.
- Então deixamos para sexta? Vou estar em fechamento, mas fica fria que aviso a Marta que você irá lá. Ela é gente finíssima. Uma das melhores editoras-chefes que já trabalhei.
- Oba, Daisy!! Que horas então?
- Pode ser às 14:30 hs?
- Combinado! Me passa o endereço!
No dia marcado, cheguei na editora mais cedo do que previsto. Na recepção, fui atendida por uma moça simpática que anunciou a minha chegada à editora-chefe. Sentei-me em um sofá macio e logo peguei uma revista para conhecer mais sobre as publicações, mesmo tendo visitado o site da empresa.
Quando o vi, mal podia acreditar em meus próprios olhos. Lá estava ele, na minha frente, ou melhor, na revista. A foto mostrava um homem sorridente, com alguns cabelos grisalhos que davam um charme ainda maior à sua figura. Realmente, além de bonito, ele era fotogênico. Giovanni era o presidente da empresa e, por sinal, assinava o editorial.
Mas a minha atenção foi atrapalhada pelos barulhos dos saltos de um sapato que tinha um andar persistente e confiante. Levantei meus olhos e assim a vi pela primeira vez, uma mulher magra, alta e de cabelos negros e bem lisos. Tinha olhos sorrateiros e ar triunfante. Tão bonita, quanto antipática. Bem-maquiada e vestida, mas parecia que não saber combinar muito bem as cores.
- Onde está a minha correspondência ? Você checou que horas sai o meu voo ? Ah, sim, por favor, traga água sem gás, e sem gelo, disse enquanto caminhava para a escada. -  E não esqueça de colocar uma rodela de limão, porque você esqueceu de fazer isso a última vez!!!!
A única resposta que escutava da recepcionista, era “sim, senhora”, “sim, senhora”.
Mais tarde fui saber que seu nome era Berenice, a advogada da empresa e possuía algumas ações da editora. Parecia que ela tinha muita influência e algo que ela escondia de forma escusa, o que colaborava para produção de vários boatos.
Foi um alívio ouvir a voz de Marta, muito diferente de Berenice: calma, profissional e sincera. Elogiou os meus textos e disse que conhecia um pouco do meu trabalho. Feito os tratos iniciais comecei a fazer as matérias, até que chegou o período de fechamento. E Marta  pediu-me para ajudá-la, que mais tarde soube que era um costume recorrente com as repórteres e assistentes mais aplicadas.
Lá estava eu, em uma sexta-feira à noite, ajudando a bater as últimas emendas dos textos juntamente com a revisora, enquanto auxiliava os retoques finais com o pessoal da arte.
Estava tentando achar uma nota que coubesse em um vazio de uma matéria sobre um congresso odontológico e foi aí que escutei uma voz inconfundível...
- Boa-noite!! Tudo bem por aqui ?
Levantei os olhos e o vi encarando-me surpreso. A papelada em cima da mesa, o computador com mil janelas abertas, a xícara com resto do chá (detesto café), as olheiras denunciando o quanto estava enlouquecida e envolvida com o trabalho.
- Nossa !! Não esperava por isso nem mil anos!!, disse rindo. Tudo bem com você ? Menos brava comigo? - indagou Giovanni.
Ainda com rosto quente e com coração aos pulos, respondi sem jeito:
- Pois é, a Marta  chamou-me para ajudá-la.
- Isso mostra que ela realmente gosta de você e de seu trabalho. Não é mesmo Marta ?, perguntou com a cabeça voltada para editora-chefe. E ele continuou: -  Como chegou até aqui ?
- Foi a Daisy quem me indicou, uma das repórteres da revista de farmácia.
- Ah, a Daisy !! Aquela maluquinha, Marta, que adora fazer piadas de são paulino ?
- Essa mesmo. Ela é um barato !, respondeu Marta, mas com olha de interrogação como pensasse: “ De onde eles se conhecem?”.
Parecendo adivinhar os pensamentos dela, Giovanni explicou sobre o acidente.
Mais tarde, ele retornou à redação para levar o CD que continha todos os arquivos prontos para rodar na gráfica.
Mas antes de sair, ele disse:
- Fico feliz por saber que você não vai desaparecer – e saiu.
Quando dei-me conta, o meu rosto ficou rubro. E pensei: "não posso ter me apaixonado assim.." Primeiro, que nós se conhecemos em uma situação tão inusitada e segundo, bem..segundo, que no fundo, ele era meu chefe. Retornei para casa de táxi com pessoal da redação, que foi dividida em duas turmas, dependendo da região que morava.
Voltei no mesmo carro com a Marta e vi-me quase a indagando sobre ele, mas segurei-me da forma mais forte que podia, qualquer meio de fazer perguntas sobre sua vida pessoal.
Agitada, cheguei em casa e o procurei nas redes sociais. Lá estava ele. Olhei todo o perfil e confesso que fiquei aliviada quando vi o status de solteiro. Sem pensar muito o chamei para ser meu amigo. E no dia seguinte, para minha surpresa, quando checava meus emails, ele tinha aceitado.
A partir daí, “o vigiava” diariamente. Algumas vezes, ele comentou meus vídeos favoritos, minhas fotos. Tudo com muita educação, um pouco de humor, mas nada de intimidade.
E os dias foram passando. Foi aí que reparei uma loura que muitas vezes conversava com ele ou mesmo deixava recados “engraçadinhos”. A minha primeira reação foi ter ciúmes! Larissa era mais nova que eu, mais bonita, mais magra. Um estilo de modelo, cara de cosmopolita, mas vivia no interior da cidade de São Paulo. Pensava: "Será que no fim eles estão se paquerando ? E se eles começaram a namorar ?". Quando pensava nessa possibilidade todo o meu corpo se retorcia de repulsa, raiva e rancor.
Mas o mundo desmoronou quando em uma manhã fria de domingo, o status dele mudou para “namorando”. Ótimo!!! – pensei: Era tudo que eu não queria!!!. Comecei a chorar e perguntei-me o que estava acontecendo comigo. Mas tive que admitir, estava apaixonada por ele.
Pensei: "Mas quem poderia ser ??". Só devia ser a loura que tanto aparecia nos recados...
Apesar disso, tentava achar uma justificativa que aquilo era apenas para afastar alguma intrusa, maluca. Será que estou invadindo a vida dele ? Será que sou eu a pessoa que ele quer despistar ? Meu estômago doía, a minha cabeça latejava. E os dias que seguiram foram cruéis... A dúvida... sempre ela aparecia e reaparecia... a dúvida...
Mas a resposta veio naquela última sexta-feira do mês, em um fechamento que apesar me rendeu algum dinheiro, também me trouxe uma grande decepção.

domingo, 8 de agosto de 2010

E aguardem...tem mais emoções por aí...
E aguardem...tem mais emoções por aí...

Reviravolta - Parte 1

de Juliana Rizzuto

Sim, eu tinha plena consciência do que estava fazendo e acredito que ele também. Não era a primeira vez e tão pouco a última, mas por algum motivo aquele ato tinha um significado especial. Talvez por estarmos em um país distante, em uma cidade com padrões culturais tão diferentes dos nossos e que nos fez ficarmos mais juntos, mais íntimos.
Não conseguia raciocinar com as suas mãos firmes e sedentas percorrendo o meu corpo enquanto me mexia acompanhando os movimentos e o ritmo dele. A maciez dos cabelos negros e volumosos, seu sorriso sapeca e seus beijos incessantes me deixavam tão inebriada que era quase insuportável o prazer que sentia.
As luzes de neon que entravam pela janela pareciam curiosas para saberem o que acontecia naquele quarto. Em algum canto da mente algo me dizia: "esse momento é especial, é para isso que viemos para cá".
E do outro lado do mundo, algo assombroso ocorria...
Para chegarmos até aqui, precisamos voltar no tempo, digamos que um período de mais de um ano...

Percalço

São Paulo, mês de março, sexta-feira, 7:30 da manhã.
 
Estava a caminho de uma entrevista com uma senhora autora de romances infantojuvenis que havia ganhado um prêmio especial de literatura. Ela detestava atrasos, por isso, o meu objetivo era chegar antes do horário previsto, algo que Avenida Pacaembu me impedia de fazer. Lotada, não havia muitas alternativas, mas com auxílio de um serviço de uma emissora de rádio, descobri um atalho que facilitava chegar ao meu destino. 
Cruzava a rua com tranquilidade, afinal era a minha preferencial, quando fui pega de surpresa. O meu carro foi arrastado com violência e rapidez. Apenas lembro-me do pânico que senti e do barulho da freada dos pneus e o estrondo. No momento que consegui voltar à realidade fui surpreendida por uma voz masculina que vinha do outro lado da janela do passageiro.
- Você está bem?
A cabeça e o pescoço doíam e um zunido insistia no ouvido. E a voz voltou insistente a perguntar:
- Você está bem?
A minha reação foi voltar a cabeça para janela e aí o vi: um homem de estatura mediana, cabelos negros e lisos, olhos amendoados, mas com uma expressão tensa e assustada como que esperasse que a minha resposta fosse positiva.
- Acredito que sim - respondi.
- Vou chamar o resgate!
- Não precisa! Olha...vou sair do carro e...
- Moça, não se mexa!! Vou chamar o resgate!!
Nesse momento percebi que se reunia vários curiosos. Dava para perceber que ele não era o único que estava com celular ligando para a emergência.
Fui me mexendo aos pouquinhos e parecia que tudo estava em ordem. A dor era provavelmente do estresse e do susto.
Mesmo com toda essa confusão, reparei como ele era bonito. "Poxa", pensei, "acho que não foi tão mal...".
Para a sua surpresa pulei pela porta do passageiro para fora do carro.
- Moça, a senhora não pode ficar se mexendo assim...vai saber se quebrou algum braço.
- Ah, não! Acho que foi mais um susto.
- Olha, realmente não a vi, estou atrasado para reunião com um cliente importante e entrei sem ver.
- Foi o que percebi, disse irônica.
- Moça, eu fui errado na história. Vou pagar os estragos.
- É bom mesmo... caramba, há menos de um mês que comprei o carro!
- Mil desculpas! Olha, vamos fazer um boletim de ocorrência e vou chamar o seguro.
Não sabia muito bem o que responder, mas não tinha outra alternativa.
Na delegacia, ele disse:
- Mil perdões...nunca pensei que fosse prejudicar alguém hoje... poxa... não tenho como se desculpar.
- Bem, essas coisas acontecem. Eu mesmo já cometi deslizes. Uma vez em um dia de chuva, quando voltava de uma entrevista, assustei-me com um motoboy que seguia muito perto do meu carro. Não sei o que me deu, acelerei. Logo à frente, deparei com uma rotatória e não a fiz, acabei me chocando com um veículo de uma mulher que falava ao celular...e o que pior...ainda era aniversário dela.
Ele riu e disse:
- Pelo jeito não sou o único azarado.
- Mas acho que você não reparou um detalhe...
- Qual?, ele disse.
- Acho que má educação  não se apresentar, disse sorrindo timidamente. - Bem, meu nome é Catharina.
- É verdade - respondeu concordando com a cabeça. Ele estendeu a mão e disse: - Prazer, ou melhor, não sei se é um prazer...meu nome é Giovanni.
Conversando, descobri que ele era proprietário de uma editora de revistas de saúde e medicina. O cliente importante era o presidente de uma indústria de medicamentos genéricos.
- Você é jornalista?, perguntei.
- Digamos que sou um jornalista frustado , confessou com um sorriso amarelo – Sou um daqueles exemplos onde toda família é preparada para assumir a empresa criada pelo patrono... e como sou o filho mais velho, sobrou a responsabilidade em minhas costas. Formei-me em Administração, mas na verdade, queria ter cursado Jornalismo.
Conversamos por horas, mas o que importava? O tempo passou mais rápido e óbvio cada um perdeu seu compromisso. Porém, só pelo simples fato da conversa fluir, já era um bom motivo de continuar na companhia dele. 
Com boletim feito, ele entrou em contato com a seguradora. Trocamos os telefones e quando íamos nos despedindo...
- Aceita tomar um café? Comer alguma coisa?
- Não obrigada, disse.
- Por favor, Catharina. Pelo menos me deixe sentir menos culpado.
- Tudo bem, e dei de ombros. Afinal, não tinha mais do que esperar. Só o carro ser consertado.

Reviravolta - Parte 1

de Juliana Rizzuto

Sim, eu tinha plena consciência do que estava fazendo e acredito que ele também. Não era a primeira vez e tão pouco a última, mas por algum motivo aquele ato tinha um significado especial. Talvez por estarmos em um país distante, em uma cidade com padrões culturais tão diferentes dos nossos e que nos fez ficarmos mais juntos, mais íntimos.
Não conseguia raciocinar com as suas mãos firmes e sedentas percorrendo o meu corpo enquanto me mexia acompanhando os movimentos e o ritmo dele. A maciez dos cabelos negros e volumosos, seu sorriso sapeca e seus beijos incessantes me deixavam tão inebriada que era quase insuportável o prazer que sentia.
As luzes de neon que entravam pela janela pareciam curiosas para saberem o que acontecia naquele quarto. Em algum canto da mente algo me dizia: "esse momento é especial, é para isso que viemos para cá".
E do outro lado do mundo, algo assombroso ocorria...
Para chegarmos até aqui, precisamos voltar no tempo, digamos que um período de mais de um ano...

Percalço

São Paulo, mês de março, sexta-feira, 7:30 da manhã.
 
Estava a caminho de uma entrevista com uma senhora autora de romances infantojuvenis que havia ganhado um prêmio especial de literatura. Ela detestava atrasos, por isso, o meu objetivo era chegar antes do horário previsto, algo que Avenida Pacaembu me impedia de fazer. Lotada, não havia muitas alternativas, mas com auxílio de um serviço de uma emissora de rádio, descobri um atalho que facilitava chegar ao meu destino. 
Cruzava a rua com tranquilidade, afinal era a minha preferencial, quando fui pega de surpresa. O meu carro foi arrastado com violência e rapidez. Apenas lembro-me do pânico que senti e do barulho da freada dos pneus e o estrondo. No momento que consegui voltar à realidade fui surpreendida por uma voz masculina que vinha do outro lado da janela do passageiro.
- Você está bem?
A cabeça e o pescoço doíam e um zunido insistia no ouvido. E a voz voltou insistente a perguntar:
- Você está bem?
A minha reação foi voltar a cabeça para janela e aí o vi: um homem de estatura mediana, cabelos negros e lisos, olhos amendoados, mas com uma expressão tensa e assustada como que esperasse que a minha resposta fosse positiva.
- Acredito que sim - respondi.
- Vou chamar o resgate!
- Não precisa! Olha...vou sair do carro e...
- Moça, não se mexa!! Vou chamar o resgate!!
Nesse momento percebi que se reunia vários curiosos. Dava para perceber que ele não era o único que estava com celular ligando para a emergência.
Fui me mexendo aos pouquinhos e parecia que tudo estava em ordem. A dor era provavelmente do estresse e do susto.
Mesmo com toda essa confusão, reparei como ele era bonito. "Poxa", pensei, "acho que não foi tão mal...".
Para a sua surpresa pulei pela porta do passageiro para fora do carro.
- Moça, a senhora não pode ficar se mexendo assim...vai saber se quebrou algum braço.
- Ah, não! Acho que foi mais um susto.
- Olha, realmente não a vi, estou atrasado para reunião com um cliente importante e entrei sem ver.
- Foi o que percebi, disse irônica.
- Moça, eu fui errado na história. Vou pagar os estragos.
- É bom mesmo... caramba, há menos de um mês que comprei o carro!
- Mil desculpas! Olha, vamos fazer um boletim de ocorrência e vou chamar o seguro.
Não sabia muito bem o que responder, mas não tinha outra alternativa.
Na delegacia, ele disse:
- Mil perdões...nunca pensei que fosse prejudicar alguém hoje... poxa... não tenho como se desculpar.
- Bem, essas coisas acontecem. Eu mesmo já cometi deslizes. Uma vez em um dia de chuva, quando voltava de uma entrevista, assustei-me com um motoboy que seguia muito perto do meu carro. Não sei o que me deu, acelerei. Logo à frente, deparei com uma rotatória e não a fiz, acabei me chocando com um veículo de uma mulher que falava ao celular...e o que pior...ainda era aniversário dela.
Ele riu e disse:
- Pelo jeito não sou o único azarado.
- Mas acho que você não reparou um detalhe...
- Qual?, ele disse.
- Acho que má educação  não se apresentar, disse sorrindo timidamente. - Bem, meu nome é Catharina.
- É verdade - respondeu concordando com a cabeça. Ele estendeu a mão e disse: - Prazer, ou melhor, não sei se é um prazer...meu nome é Giovanni.
Conversando, descobri que ele era proprietário de uma editora de revistas de saúde e medicina. O cliente importante era o presidente de uma indústria de medicamentos genéricos.
- Você é jornalista?, perguntei.
- Digamos que sou um jornalista frustado , confessou com um sorriso amarelo – Sou um daqueles exemplos onde toda família é preparada para assumir a empresa criada pelo patrono... e como sou o filho mais velho, sobrou a responsabilidade em minhas costas. Formei-me em Administração, mas na verdade, queria ter cursado Jornalismo.
Conversamos por horas, mas o que importava? O tempo passou mais rápido e óbvio cada um perdeu seu compromisso. Porém, só pelo simples fato da conversa fluir, já era um bom motivo de continuar na companhia dele. 
Com boletim feito, ele entrou em contato com a seguradora. Trocamos os telefones e quando íamos nos despedindo...
- Aceita tomar um café? Comer alguma coisa?
- Não obrigada, disse.
- Por favor, Catharina. Pelo menos me deixe sentir menos culpado.
- Tudo bem, e dei de ombros. Afinal, não tinha mais do que esperar. Só o carro ser consertado.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Invasão Anime

Quem diria que quando adulta iria me render a esse mundo fantástico chamado Anime... Pois é, acho que todo mundo já se apaixonou por algum deles, mesmo que não tenha percebido.
Aliás, a grande responsável, ou melhor, a hostess desse caminho tem nome... é a Beatriz, minha sobrinha, mais conhecida por Bia.

Não, anime não é um doce, uma pessoa e muito menos, uma iguaria da cozinha japonesa. Apesar de vir da mesma localidade.
Anime, no Japão, significa qualquer desenho animado e nós ocidentais completamos: qualquer desenho animado que venha do Japão.

Como ele surgiu? Lá trás, quando o Estados Unidos ocupava o Japão, no finalzinho da Segunda Guerra Mundial, aquele povo teve os primeiros contatos com a cultura pop americana. Muitas vezes, havia até contrabando de desenhos animados do Walt Disney. Mas aqui, tivemos três pioneiros: Osamu Tezuka (que vou falar mais para frente), Shotaro Ishinomori e Leiji Matsumoto. Eles reinventaram trazendo aos personagens olhos geralmente grandes, arredondados, cheios de muito brilho e com cores chamativas para dar mais expressão às emoções..

Aliás, muitos dos animes vem dos quadrinhos japoneses, os mangás. Aliás, os mangás são (pasmem) um gênero da literatura japonesa. As suas raízes vem do século VIII d.C.
Os mangás diferem pelo seu público-alvo. Por exemplo:os Shounen são garotos adolescentes, cheios de lutas, ação e as histórias de pano de fundo traz temas como amizade e a lealdade. Já os Shoujo são para as garotas, com histórias cheias de sensibilidade e romance. Gekigá são para os adultos, que envolvem mais drama. Para os homens, temos os seinen e para as mulheres, os josei. Os mais fortes, digamos assim, os mais eróticos são os hentai.

O mangá tem um jeito esquisito de se ler (pelo menos, aos ocidentais). Os quadrinhos devem ser lidos de trás para frente, ou seja da última página para primeira e acompanhar os quadradinhos da direita para esquerda, assim como os balões dos dialógos.


No momento, estou com “A princesa e o cavaleiro”, cujo o nome original em japonês é Ribbon no Kishi, ou literalmente, A Princesa Cavaleiro. O criador foi Osamu Tezuka. Esse senhorzinho foi um Walt Disney japonês. A história é mais ou menos a seguinte: para saber se você nasceria menino ou menina, a criança precisava entrar em uma fila antes de nascer e assim Deus daria um coração, onde azul determinava que você seria um menino e rosa, uma menina. Uma travessura do anjinho Ching fez com que a Princesa Safiri nascesse com dois corações (um azul e um rosa). Como castigo, o anjinho deve descer a Terra junto com Safiri recuperar o coração azul. Mas a Princesa Safiri também vive um dilema...Nascida na Terra de Prata, a garota precisa se passar por Princípe para que seus pais não sejam mortos. Já que naquele país, só subiria ao trono, um homem.

Os seus arquiinimigos são Duque Duralumínio, o seu ajudante narigudo Nylon, Satã e Madame Inferno. A garota fica dividida entre o amor do princípe Franz, da Terra do Ouro e o Capitão Blood. Ah,sim...e à noite, ainda a garota assume a personalidade do Vingador Mascarado. Não, galera...ela não era esquizofrênica, coitada. Talvez, ela esteja mais para uma garota idealista ou indecisa. O bacana que os personagens com honra e bons recebem nomes de pedras preciosas e os vilões recebem nomes com substâncias produzidas por meio químico.

Lembro-me que assistia pela Record os episódios desse desenho. Tanto que me identificava com o jeito moleque, divertido e justiceiro. Hahaha, é... eu gostava de anime e nem sabia...

O mesmo aconteceu com meu irmão, o Jorginho... Quando a Bia perguntou, qual era o desenho que ele mais gostava quando pequeno, ele respondeu sem pestanejar: Speed Racer...Isso aí, e não é que Speed Racer é um anime? Assim como Astro Boy, Sailor Moon, Don Drácula, Crying Freeman (esse virou até um filme bem ruinzinho com astro das artes marciais...hahaha, até parece... Mark Dacascos), Cavaleiros do Zodíaco, e por aí vai...

Um dos mais modernos que mais me impressionou foi Death Note, hoje exibido pelo canal fechado Animax. A história é mais ou menos assim: Light Yagami é um daqueles estudantes brilhantes, mas leva uma vida que é um tédio...um dia um estranho caderno vai parar na sua mão, Death Note. O caderno tem o poder mágico de quando se escreve nele o nome de alguém, essa pessoa morre. A princípio, Light acha uma brincadeira de mau-gosto, mas ele faz o teste e... e não é que funciona? O garoto, então, começa a usá-lo como uma arma para matar criminosos. Aí, a polícia achando superestranho, uma onda de assassinatos desses bandidos procura investigar e aí chama um dos detetives mais inteligentes do mundo, L. O cara é fera e vai ser o grande antagonista de Light, que entre a galera, é conhecido como Kira, uma corruptela de Killer, ou traduzindo melhor: Assassino.

Com traços realistas, escuros e sómbrios, é um anime que te prende atenção do começo ao fim. Curiosidade: L vive de doces... doces, porque o coitado não dorme e ele precisa de açúcar para deixá-lo “esperto”. E olha que bacana...ele não engorda, porque todo essa reserva de energia vai para seu cérebro que funciona, literalmente 24 horas por dia.

É... essa vida de Otaku, viu? É dose!! Ops, não falei besteira! Você não sabe o que é Otaku? Ok, vou explicar...Otaku é toda galera que curte ou é fanática por determinado ramo: seja anime, esportes, comida, mangás...Esse termo que é tão usado no Japão, aqui ganhou status entre pessoal que curte essa parte da cultura japonesa: animes e mangás. E daí que sai a turma dos Cosplayers... Caramba! Não sabe o que é Cosplayer?
Cosplay é uma abreviação de costume play, ou seja é aquele que gosta de disfarçar ou se fantasiar de seu personagem preferido. Aqui começou com turma do Guerra nas Estrelas e o Jornada nas Estrelas, lá pelos fins dos anos 70 e começo dos 80. Hoje, há convenções de cosplayers, onde muita gente leva tão a sério que há concursos envolvendo patrocinadores e tudo mais.

Um das características dos cosplayers é o famoso DIY, ou seja, Do it yourself, faça você mesmo! Muitos costuram suas próprias roupas ou providencia materiais para confecção de suas roupas. E a Bia é uma dessas! Curte mesmo: é Otaku até a alma! Uma das suas últimas incursões foi entre as bonequinhas do Raizon Maiden. Elas lutam entre si, e com poderes mágicos.

Ah, tá...esqueci de falar de Naruto,né? Mas caramba, gente, ele é tão falado que já cansou...isso eu deixo para narutos!

Como você percebeu os mangás e animes caminham juntos, tudo com perspectiva diferente e fascinante para nós, ocidentais: com traços estilizados e histórias que envolvem romance, misticismo, filosofia, lendas do povo japonês e vida diária. E a coisa é tão popularizada no Japão, que é normal você topar com alguém fazendo um cosplay em plena luz do dia. Isso é cultura pop, sem precisar do envolvimento da Coca-cola e hambúrguer XD.