terça-feira, 8 de março de 2011

O lado dark do Cisne


A certa altura do filme, a mãe Erica pergunta à filha, Nina:

- O que aconteceu com a minha doce filha?
 
Ela replica:
-Ela se foi!

Essa é só uma premissa que Cisne Negro pode nos proporcionar: terror, admiração, agonia e por que não? Êxtase.
Filme dirigido pelo aclamado Darren Aronosfsky (o mesmo de PI, Réquiem para um sonho e O Lutador) conta a história de Nina Sayers (Natalie Portman), uma bailarina de uma companhia de balé da cidade de Nova Iorque, cuja vida é totalmente dedicada à sua profissão. Ela vive com a mãe controladora, ex-bailarina, Erica (Barbara Hershey, assustadora) que a trata como um bebê: muitas vezes é a própria mãe que lhe tira os brincos da orelha quando vai dormir, não deixa que ela tranque a porta do quarto, ou melhor, não dá um pingo de privacidade à filha.

O diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel, cafa como sempre) decide substituir a 1ª bailarina da companhia, Beth Macintyre (competente atuação, mesmo que seja curta de Winona Ryder) para produção da abertura da nova temporada, O Lago dos Cisnes. A história do famoso balé conta sobre a Princesa Odette foi transformada em um cisne e só terá seu feitiço quebrado por um amor puro. A esperança aparece em forma de um príncipe, mas sua irmã gêmea, Odile o seduz e trai. Odette, em desespero, se mata.
Leroy escolhe Nina, que é perfeita para o papel de Odette: meiga, virginal, doce. Mas, a bailarina tem sérias dificuldades para encarnar Odile, o famoso Cisne Negro.
A partir daí, Nina terá que enfrentar a forte concorrência de Lily (a ótima Mila Kunis), que parece ter nascido para o papel de Odile, a pressão da companhia na sua performance, a tirânica direção de Leroy e principalmente, trazer seu lado mais sombrio para fora.

Bobagem quem for assistir esperando o filme sobre balé, até porque muitas bailarinas profissionais disseram que quem entende realmente de dança há erros crassos no filme (mesmo com intenso treinamento de Natalie e Mila). O filme é um trilher psicológico. E coloque isso em ponto de sustenido maior!!

Confesso que os primeiros 40 minutos do filme são lentos e mórbidos, mas para a metade que o filme pega fogo, e aí a sanidade de Nina já está comprometida. Para mim, o filme fala: “você sabe quem é você? E o que você realmente quer?”. Nina não sabia: a vida dela era técnica e procurar atender tudo que lhe pediam. Quando ela começa a encarar o seu lado “dark”, nada mais é que encontrar o próprio Eu. Confuso? Talvez seja, mas filme é cheio de mensagens subliminares e contrastes.
Confesso que demorei para assisti-lo, e me aventurei em filmes mais leves como “O Discurso do Rei” e “Bravura Indômita” (que fico ainda devendo as críticas dos dois aqui). Mas valeu a pena a espera. “Cisne Negro” é típico filme que te joga contra a parede e te pergunta: Até que ponto você é Nina? Ou até que ponto você é Lily?
Vamos às interpretações...
Cassel sempre fica bem de cafa, não me lembro de um filme que ele aparece amoroso ou sincero. Ardiloso e maldito, seu Thomas é praxe para qualquer sádico.

Barbara Hershey é Erica, já disse lá em cima que ela é assustadora? E se é! Tem uma cena que ela compra um bolo para Nina, baunilha com recheio de morango, como diria a própria: “o seu preferido”. Ela corta um pedaço grande, o qual a filha rejeita porque está com estômago embrulhado. Ela, imediatamente, ameaça jogá-lo no lixo, num rompante de pura chantagem emocional. Ou melhor, ela sempre criou a filha assim. No fundo, nenhuma delas são amigas. Mas isso já é outra história...

A sumida Winona dá as graças (depois de atacar de larapia em lojas famosas de New York) no filme e ainda por cima, nos brinda com uma interpretação típica do que ela está vivendo: uma bailarina decadente e desesperada.

Mila Kunis, para mim, é uma das melhores coisas do filme. A garota está bárbara! Cheia de vitalidade e força, e um lado divertido e malicioso, bem longe do seu personagem mais famoso, a Jackie do seriado “That´ 70´s Show” .

O que falar de Natalie Portman? Corajosa a moça, hein? Não é qualquer uma que encararia numa boa a personagem Nina. Apesar que...ainda não é o melhor papel dela, hein? Apesar disso, ela se envolveu tanto com trabalho que acabou ficando grávida e noiva do coreógrafo que a treinou, Benjamin Millepied (aliás, ele aparece no filme, fique de olho!).

Durante um ano ela dedicou-se horas de treinamento. Na primeira fase foram 5 horas e mais próximo das filmagens, 10 horas. Emagreceu exageradamente (como vocês poderão conferir no filme) e ainda por cima se jogou de cabeça em cada detalhe do seu personagem. Só espero que ela continue sã, depois de um filme desses (e ainda por cima ficando grávida, bem... não recomendaria). Afinal, muitos atores ficaram depressivos ou meio eremitas por um tempo depois de papéis tão intensos. Sem contar, ela acabou de ganhar o Oscar, que muitos falam que tem a tal da maldição...

Por tudo isso, Cisne Negro é um ritual macabro à procura do lado mais obscuro do ser humano. A cena mais emocionante do filme é também, uma das mais bonitas produzidas no cinema: quando Nina finalmente se apresenta como Odile e é tomada por asas negras enormes.
Mas esteja preparado (a), é uma viagem em tanto!

O lado dark do Cisne


A certa altura do filme, a mãe Erica pergunta à filha, Nina:

- O que aconteceu com a minha doce filha?
 
Ela replica:
-Ela se foi!

Essa é só uma premissa que Cisne Negro pode nos proporcionar: terror, admiração, agonia e por que não? Êxtase.
Filme dirigido pelo aclamado Darren Aronosfsky (o mesmo de PI, Réquiem para um sonho e O Lutador) conta a história de Nina Sayers (Natalie Portman), uma bailarina de uma companhia de balé da cidade de Nova Iorque, cuja vida é totalmente dedicada à sua profissão. Ela vive com a mãe controladora, ex-bailarina, Erica (Barbara Hershey, assustadora) que a trata como um bebê: muitas vezes é a própria mãe que lhe tira os brincos da orelha quando vai dormir, não deixa que ela tranque a porta do quarto, ou melhor, não dá um pingo de privacidade à filha.

O diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel, cafa como sempre) decide substituir a 1ª bailarina da companhia, Beth Macintyre (competente atuação, mesmo que seja curta de Winona Ryder) para produção da abertura da nova temporada, O Lago dos Cisnes. A história do famoso balé conta sobre a Princesa Odette foi transformada em um cisne e só terá seu feitiço quebrado por um amor puro. A esperança aparece em forma de um príncipe, mas sua irmã gêmea, Odile o seduz e trai. Odette, em desespero, se mata.
Leroy escolhe Nina, que é perfeita para o papel de Odette: meiga, virginal, doce. Mas, a bailarina tem sérias dificuldades para encarnar Odile, o famoso Cisne Negro.
A partir daí, Nina terá que enfrentar a forte concorrência de Lily (a ótima Mila Kunis), que parece ter nascido para o papel de Odile, a pressão da companhia na sua performance, a tirânica direção de Leroy e principalmente, trazer seu lado mais sombrio para fora.

Bobagem quem for assistir esperando o filme sobre balé, até porque muitas bailarinas profissionais disseram que quem entende realmente de dança há erros crassos no filme (mesmo com intenso treinamento de Natalie e Mila). O filme é um trilher psicológico. E coloque isso em ponto de sustenido maior!!

Confesso que os primeiros 40 minutos do filme são lentos e mórbidos, mas para a metade que o filme pega fogo, e aí a sanidade de Nina já está comprometida. Para mim, o filme fala: “você sabe quem é você? E o que você realmente quer?”. Nina não sabia: a vida dela era técnica e procurar atender tudo que lhe pediam. Quando ela começa a encarar o seu lado “dark”, nada mais é que encontrar o próprio Eu. Confuso? Talvez seja, mas filme é cheio de mensagens subliminares e contrastes.
Confesso que demorei para assisti-lo, e me aventurei em filmes mais leves como “O Discurso do Rei” e “Bravura Indômita” (que fico ainda devendo as críticas dos dois aqui). Mas valeu a pena a espera. “Cisne Negro” é típico filme que te joga contra a parede e te pergunta: Até que ponto você é Nina? Ou até que ponto você é Lily?
Vamos às interpretações...
Cassel sempre fica bem de cafa, não me lembro de um filme que ele aparece amoroso ou sincero. Ardiloso e maldito, seu Thomas é praxe para qualquer sádico.

Barbara Hershey é Erica, já disse lá em cima que ela é assustadora? E se é! Tem uma cena que ela compra um bolo para Nina, baunilha com recheio de morango, como diria a própria: “o seu preferido”. Ela corta um pedaço grande, o qual a filha rejeita porque está com estômago embrulhado. Ela, imediatamente, ameaça jogá-lo no lixo, num rompante de pura chantagem emocional. Ou melhor, ela sempre criou a filha assim. No fundo, nenhuma delas são amigas. Mas isso já é outra história...

A sumida Winona dá as graças (depois de atacar de larapia em lojas famosas de New York) no filme e ainda por cima, nos brinda com uma interpretação típica do que ela está vivendo: uma bailarina decadente e desesperada.

Mila Kunis, para mim, é uma das melhores coisas do filme. A garota está bárbara! Cheia de vitalidade e força, e um lado divertido e malicioso, bem longe do seu personagem mais famoso, a Jackie do seriado “That´ 70´s Show” .

O que falar de Natalie Portman? Corajosa a moça, hein? Não é qualquer uma que encararia numa boa a personagem Nina. Apesar que...ainda não é o melhor papel dela, hein? Apesar disso, ela se envolveu tanto com trabalho que acabou ficando grávida e noiva do coreógrafo que a treinou, Benjamin Millepied (aliás, ele aparece no filme, fique de olho!).

Durante um ano ela dedicou-se horas de treinamento. Na primeira fase foram 5 horas e mais próximo das filmagens, 10 horas. Emagreceu exageradamente (como vocês poderão conferir no filme) e ainda por cima se jogou de cabeça em cada detalhe do seu personagem. Só espero que ela continue sã, depois de um filme desses (e ainda por cima ficando grávida, bem... não recomendaria). Afinal, muitos atores ficaram depressivos ou meio eremitas por um tempo depois de papéis tão intensos. Sem contar, ela acabou de ganhar o Oscar, que muitos falam que tem a tal da maldição...

Por tudo isso, Cisne Negro é um ritual macabro à procura do lado mais obscuro do ser humano. A cena mais emocionante do filme é também, uma das mais bonitas produzidas no cinema: quando Nina finalmente se apresenta como Odile e é tomada por asas negras enormes.
Mas esteja preparado (a), é uma viagem em tanto!

sábado, 25 de dezembro de 2010

A Tríade Sagrada da ZL: Toco, Overnight & Contramão

Quando se fala sobre a Zona Leste, o que te lembra? Metrô lotado? Praxe! Parque São Jorge, Corinthians? Hum...novidade... Um amontoado de gente por todos os lados?
Bem, enfim...sem contar que os primeiros indícios de greve, enchente, problemas nas linhas da CPTM ou Metrô é quase uma rotina. Mas apesar de tudo isso, nada e ninguém consegue tirar o ar de festeiros que os moradores da famosa ZL têm.
Digo isso, porque aqui, estabeleceram-se três casas... três lugares que deixariam qualquer casa noturna da Vila Olímpia ou do Jardins com inveja. Não só pelo público, mas pelo clima, agitação e alegria. Três casas que quando são ditas, ainda hoje, despertam nostalgia, saudades e com certeza, respeito. São elas: Toco, Overnight e Contramão.
Agora, você vai conhecer a vida dessas três casa que fizeram a história e, sem dúvida, influenciaram gerações na região da Zona Leste.

Toco

Vila Matilde, 1972. Nascia uma Mega Danceteria, um sonho realizado de empresários que animavam bailes de formatura. O salão abrigava uma pista gigantesca, mezanino e lógico uma pirotecnia de luzes e sons que nunca se tinha visto na região da Zona Leste.
Localizada na frente de uma pracinha, era muito comum, a agitação começar já do lado de fora. Eram carros passando para lá e pra cá, pessoal comendo cachorro quente ou “esquentando os motores” com algumas doses de cuba-libre servidas em barraquinhas improvisadas.
Mesmo tendo capacidade para 4 mil pessoas, era comum a Toco ainda deixar gente de fora. Mas quem se importava? Afinal, a casa tinha um poder tão contagiante que mesmo assim a festa se estendia até na rua.
A casa presenciou o surgimento da Disco Music, nos anos 70 acolheu shows como Queen e KC & The Sunshine Band. Mais tarde, no final dos anos 80, recepcionou com honras o nascimento da House Music, e aí vieram apresentações de Information Society e Technotronic.
Eu mesma fui uma de suas assíduas frequentadoras, nas famosas matinês de domingo... Lá dancei ao som de Noel, S-Express e tantos outros... Como minha mãe não gostava muito que fosse nesses lugares, inventava a desculpa que iria estudar...sei, e que estudo de dança, hein?
Nos anos 90, a Toco foi pioneira em acolher um novo tipo de som, o Jungle. Pois é, o Jungle é percussor da tão famosa Drum´n´Bass. Foi lá que Dj Marky apareceu pela primeira vez e aí surgiu os primórdios da música eletrônica brasileira.
A casa fechou em 1997, deixando milhares de órfãos na região e uma saudade infinita.

Overnight

1988, Mooca, Rua Juvenal Parada. O empresário Carmo Crunfli e alguns sócios fundaram a casa que seria por excelência, berço de vários DJs do cenário da música eletrônica brasileira, a Overnight.
O forte da Over (para os íntimos) foi a House Music, apesar de tocar todos os estilos. Sua decoração era pra lá de requintada: chão carpetado (menos a pista), paredes espelhadas, jogo de luzes e um bar que deixava qualquer um de boca aberta. A tecnologia de som e iluminação da casa sempre foi de última geração.
Na casa passaram os DJs: Mau-Mau, o mestre Patife, Renato Lopes, Sasha, sem contar o maravilhoso Grace Kelly Dum e o mágico Andy.
O encerramento das atividades aconteceu em 2004, com uma festa pra lá de animada e comandada pelo DJ Andy. Apesar de ter sido alto astral, a tristeza pairava no ar e a Mooca ficou de luto.

Contramão

Tatuapé, Rua Coelho Lisboa, 1980. Nascia uma casa com conceito onde dançar era além de mexer o esqueleto. Estamos falando da Contramão.
Ela não era tão grande como a Toco, mas a energia, a vibração e o agito eram no mesmo nível.
O ponto de encontro era a Praça Silvio Romero, depois, o pessoal ia seguindo pela Coelho Lisboa rumo a uma das matinês mais animadas de São Paulo. Lá, o bicho pegava! Quem não se lembra dos passos “chicotinho”, “pula-vira” tão famosos no final dos anos 80? Foi na Contramão que eles foram criados.
O bacana da casa é que os DJs ficavam numa cabine como fosse um globo todo recortado bem no centro da pista. E que loucura eram aqueles luzes. E quando o DJ dava os primeiros acordes de “Silent Morning” do Noel durante “Blue Monday” do New Order? A casa quase vinha abaixo!
Mas infelizmente, em 1992, a Contramão diz adeus e fecha as suas portas.

A saudade era tanta que no meio dos anos 2000, uma turma de malucos reúnem-se para promover revivals recordando justamente o clima dessas três casas.
Uma vez por mês, os órfãos dessas três casas encontram-se para matar a saudades dos velhos tempos. Geralmente, o ponto de encontro é no Cabral, uma casa que fica entre a região do Tatuapé e Belenzinho.
Mas também já aconteceram festas nas próprias casas como na Toco e na Contramão. Aliás, a Toco reabriu com outro nome e para um público totalmente diferente. A Contramão, hoje é Aldeia do Taco. No revival que aconteceu lá, era gritante a comparação do público que veio ao revival do que atual pessoal que frequenta a casa: acostumados com o irritante Psy, que não faz dançar e pior, dá uma dor de cabeça horrível!
No Cabral, cada pista é dedicada a um tipo de música: anos 70 e 80, flash house e undergound. Aliás, a minha preferida é a Underground. Quando Grace Kelly Dum, Andy, Barney e Marky estão no comando, parece que você é transportado ao bom e velho tempo dos clubbers, cybermanos, Mercado Mundo Mix e todo movimento do paz, união e respeito.
Mas o revival mais inesquecível foi o que aconteceu no dia 15 de maio de 2010 na antiga Toco. Apesar de ter recebido uma pintura mais escura, o espaço ter diminuído, a Toco continua a mesma...Linda, leve, brincalhona e acolhedora. O mesmo clima de festa, paz e união estava lá!
Lembro-me que quando entrei na casa, estava tocando “Never Gonna Give You Up”, do Rick Astley. O pessoal fazendo passinho, o jogo de luzes, a energia, a vibração. Pensei: “É, Toco, você não morreu, vai viver para sempre em nossas memórias e corações”.
Sem contar, que no finalzinho da festa (para quem pôde ficar), quem discotecou foi o monstro DJ Ricardo Guedes, que nos deixou um mês depois...E ainda me lembro que ajoelhei e o reverenciei.
Pois é... quem as frequentou sabe que em nenhum região da capital paulistana acolhe (ou acolheu) três casas mágicas como essas. Por isso mesmo, chamo-as de tríade sagrada da ZL.
Para dar um gostinho aí vai um trecho do vídeo comemorativo das casas. E que a festa continue!

A Tríade Sagrada da ZL: Toco, Overnight & Contramão

Quando se fala sobre a Zona Leste, o que te lembra? Metrô lotado? Praxe! Parque São Jorge, Corinthians? Hum...novidade... Um amontoado de gente por todos os lados?
Bem, enfim...sem contar que os primeiros indícios de greve, enchente, problemas nas linhas da CPTM ou Metrô é quase uma rotina. Mas apesar de tudo isso, nada e ninguém consegue tirar o ar de festeiros que os moradores da famosa ZL têm.
Digo isso, porque aqui, estabeleceram-se três casas... três lugares que deixariam qualquer casa noturna da Vila Olímpia ou do Jardins com inveja. Não só pelo público, mas pelo clima, agitação e alegria. Três casas que quando são ditas, ainda hoje, despertam nostalgia, saudades e com certeza, respeito. São elas: Toco, Overnight e Contramão.
Agora, você vai conhecer a vida dessas três casa que fizeram a história e, sem dúvida, influenciaram gerações na região da Zona Leste.

Toco

Vila Matilde, 1972. Nascia uma Mega Danceteria, um sonho realizado de empresários que animavam bailes de formatura. O salão abrigava uma pista gigantesca, mezanino e lógico uma pirotecnia de luzes e sons que nunca se tinha visto na região da Zona Leste.
Localizada na frente de uma pracinha, era muito comum, a agitação começar já do lado de fora. Eram carros passando para lá e pra cá, pessoal comendo cachorro quente ou “esquentando os motores” com algumas doses de cuba-libre servidas em barraquinhas improvisadas.
Mesmo tendo capacidade para 4 mil pessoas, era comum a Toco ainda deixar gente de fora. Mas quem se importava? Afinal, a casa tinha um poder tão contagiante que mesmo assim a festa se estendia até na rua.
A casa presenciou o surgimento da Disco Music, nos anos 70 acolheu shows como Queen e KC & The Sunshine Band. Mais tarde, no final dos anos 80, recepcionou com honras o nascimento da House Music, e aí vieram apresentações de Information Society e Technotronic.
Eu mesma fui uma de suas assíduas frequentadoras, nas famosas matinês de domingo... Lá dancei ao som de Noel, S-Express e tantos outros... Como minha mãe não gostava muito que fosse nesses lugares, inventava a desculpa que iria estudar...sei, e que estudo de dança, hein?
Nos anos 90, a Toco foi pioneira em acolher um novo tipo de som, o Jungle. Pois é, o Jungle é percussor da tão famosa Drum´n´Bass. Foi lá que Dj Marky apareceu pela primeira vez e aí surgiu os primórdios da música eletrônica brasileira.
A casa fechou em 1997, deixando milhares de órfãos na região e uma saudade infinita.

Overnight

1988, Mooca, Rua Juvenal Parada. O empresário Carmo Crunfli e alguns sócios fundaram a casa que seria por excelência, berço de vários DJs do cenário da música eletrônica brasileira, a Overnight.
O forte da Over (para os íntimos) foi a House Music, apesar de tocar todos os estilos. Sua decoração era pra lá de requintada: chão carpetado (menos a pista), paredes espelhadas, jogo de luzes e um bar que deixava qualquer um de boca aberta. A tecnologia de som e iluminação da casa sempre foi de última geração.
Na casa passaram os DJs: Mau-Mau, o mestre Patife, Renato Lopes, Sasha, sem contar o maravilhoso Grace Kelly Dum e o mágico Andy.
O encerramento das atividades aconteceu em 2004, com uma festa pra lá de animada e comandada pelo DJ Andy. Apesar de ter sido alto astral, a tristeza pairava no ar e a Mooca ficou de luto.

Contramão

Tatuapé, Rua Coelho Lisboa, 1980. Nascia uma casa com conceito onde dançar era além de mexer o esqueleto. Estamos falando da Contramão.
Ela não era tão grande como a Toco, mas a energia, a vibração e o agito eram no mesmo nível.
O ponto de encontro era a Praça Silvio Romero, depois, o pessoal ia seguindo pela Coelho Lisboa rumo a uma das matinês mais animadas de São Paulo. Lá, o bicho pegava! Quem não se lembra dos passos “chicotinho”, “pula-vira” tão famosos no final dos anos 80? Foi na Contramão que eles foram criados.
O bacana da casa é que os DJs ficavam numa cabine como fosse um globo todo recortado bem no centro da pista. E que loucura eram aqueles luzes. E quando o DJ dava os primeiros acordes de “Silent Morning” do Noel durante “Blue Monday” do New Order? A casa quase vinha abaixo!
Mas infelizmente, em 1992, a Contramão diz adeus e fecha as suas portas.

A saudade era tanta que no meio dos anos 2000, uma turma de malucos reúnem-se para promover revivals recordando justamente o clima dessas três casas.
Uma vez por mês, os órfãos dessas três casas encontram-se para matar a saudades dos velhos tempos. Geralmente, o ponto de encontro é no Cabral, uma casa que fica entre a região do Tatuapé e Belenzinho.
Mas também já aconteceram festas nas próprias casas como na Toco e na Contramão. Aliás, a Toco reabriu com outro nome e para um público totalmente diferente. A Contramão, hoje é Aldeia do Taco. No revival que aconteceu lá, era gritante a comparação do público que veio ao revival do que atual pessoal que frequenta a casa: acostumados com o irritante Psy, que não faz dançar e pior, dá uma dor de cabeça horrível!
No Cabral, cada pista é dedicada a um tipo de música: anos 70 e 80, flash house e undergound. Aliás, a minha preferida é a Underground. Quando Grace Kelly Dum, Andy, Barney e Marky estão no comando, parece que você é transportado ao bom e velho tempo dos clubbers, cybermanos, Mercado Mundo Mix e todo movimento do paz, união e respeito.
Mas o revival mais inesquecível foi o que aconteceu no dia 15 de maio de 2010 na antiga Toco. Apesar de ter recebido uma pintura mais escura, o espaço ter diminuído, a Toco continua a mesma...Linda, leve, brincalhona e acolhedora. O mesmo clima de festa, paz e união estava lá!
Lembro-me que quando entrei na casa, estava tocando “Never Gonna Give You Up”, do Rick Astley. O pessoal fazendo passinho, o jogo de luzes, a energia, a vibração. Pensei: “É, Toco, você não morreu, vai viver para sempre em nossas memórias e corações”.
Sem contar, que no finalzinho da festa (para quem pôde ficar), quem discotecou foi o monstro DJ Ricardo Guedes, que nos deixou um mês depois...E ainda me lembro que ajoelhei e o reverenciei.
Pois é... quem as frequentou sabe que em nenhum região da capital paulistana acolhe (ou acolheu) três casas mágicas como essas. Por isso mesmo, chamo-as de tríade sagrada da ZL.
Para dar um gostinho aí vai um trecho do vídeo comemorativo das casas. E que a festa continue!

domingo, 24 de outubro de 2010

Onde ir em São Paulo – Restaurante Japoneses


Adoro comida japonesa. O tempero, a apresentação e o aroma da gastronomia do Sol Nascente é de tirar o fôlego. Ao menos para mim, uma descendente de italianos que vive uma onda otaku desde o começo do ano. E por se tão apaixonada por esses sabores exóticos, aproveito para indicar restaurantes que fui e aprovei. É lógico que comi em vários, mas por um ponto ou outro, foram esses que me marcaram.

Anota aí na sua agenda para você visitar:

Kotobiya

Quem o vê de fora em pleno bairro de Moema, acredita que não é um lugar de grandes surpresas. Ledo engano... Logo na entrada, geralmente alguém da casa, inclusive o sushiman, o cumprimenta em japonês. Acredito que a maioria não sabe falar a língua, mas aproveite para acenar a cabeça e sorrir porque é o princípio de uma estadia divertida e apetitosa. Digo divertida porque há a televisão sempre está ligada no canal NHK, o mais famoso do Japão. Tem também uma geladeira com água com vários sabores e em embalagens meio futuristas.

A comida é farta, apetitosa e ainda por cima com preço bacana. Aproveite para saborear teishoku kotobiya que vem tempura de legumes, um camarão e outro de peixe, cinco sushis e dez fatias de sashimi. E duvido que você não irá levar alguma lembrancinha de lá... não vou falar mais, porque é ver pra crer.

Avenida Cotovia, 287 – Moema – Tel. (11) 5536-9279
Horário de funcionamento: Terça a Domingo – 19 às 23 hs. Aos sábados e domingos abre para o almoço das 12 às 16 hs.

Banri

Aqui já é um local que traz mais opções chinesas (o que não deixa de ser uma delícia). Aliás, esse restaurante está no fundo de um pequeno café e do lado uma mercearia. Fica no bairro com coração oriental de São Paulo: a Liberdade. E ainda por cima tem pratos que dá para serem divididos em duas pessoas. Caso você queira pode pedir meia porção.

É engraçado, mas toda vez que vou lá, parece que a qualquer momento entrará o bando dos 88 loucos do Kill Bill! Um ar meio Yakuza, mas também parece que a família do Ranma Saotome (Ranma 1/2) irá chegar para almoçar ou jantar. O atendimento é um pouco demorado e atrapalhado. Mas vale a pena experimentar.

E se você gosta de yakissoba, experimente o de frutos do mar e aproveite para pedir um pão chinês de entrada. E fique tranquilo, o preço é camarada.

Rua Galvão Bueno, 160 – Liberdade – Tel. (11) 3208-7232
Horário de funcionamento: Terça à sábado das 11 às 22:30 hs e os domingos e segunda das 11 às 20 hs.


Semi Yakitori

Toda vez que volto do cabeleireiro, aproveito para passar nesse pequeno e charmoso restaurante no Tatuapé. Fico horas conversando com uma das donas, que é uma graça, sobre mangás, animes e tudo sobre cultura oriental.

O restaurante oferece os famosos yakitori que são espetinhos orientais. Hum... o cheirinho da grelha enquanto eles estão assando é uma maravilha.
Lá, você pode pedir o rodízio de temaki, que vem como entrada um guioza, uma porção de yakissoba, sopa de abóbora e shimeji. Depois você anota em papel quais sabores de temaki e yakitori que quer comer. E você pode repetir!

Um dos muitos pontos que me atrai nesse lugar é o yakissoba. A origem da palavra significa macarrão frito. E o pessoal leva realmente a sério a definição: ele é crocante e cremoso. Outra dica legal é o chá gelado. Para adoçá-lo vem um melado que deve ser colocado aos pouquinhos.
E posso te garantir, você sai satisfeito.

Rua Itapura, 1434 – Tatuapé – Tel. (11) 2361-7000

Restaurante Makoto
Quem diria que o Hotel Nikkey na Liberdade “guardaria” a sete chaves um restaurante tão gostoso? No dia que fui fiquei apaixonada porque dependendo do lugar do restaurante, você precisa tirar os sapatos. O atendimento é delicado, eficiente e bem simpático. O que peca um pouco é o cheiro do local. Talvez por causa do aquário cheio de carpas.

O clima é como se fosse realmente estivesse no Japão: roda de senhores conversando em japonês, comida muito bem decorada e farta. O preço é salgadinho, mas compensa.
Lá, finalmente consegui experimentar uma das comidas que aparece no mangá Ranma ½, o okonomiyaki, um misto de pizza com omelete recheado de legumes, frutos do mar e carnes. Uma delícia!

Rua Galvão Bueno, 425 – Liberdade – Tel. (11) 3207-8511

Cia Oriental

Sem brincadeira, aqui experimentei um dos melhores teppan yaki de frutos do mar da minha vida. O prato vem com misoshiro, gohan, uma saladinha de frutos do mar e muito, muito camarão, lula e legumes.
O restaurante está localizado no Shopping Sogo, em pleno bairro da Liberdade. E você tem duas opções: self service ou la carte. Sugiro a la carte não só pela acomodação, mas os pratos são mais caprichados.
Vale lembrar que o atendimento é demoradinho e nem sempre atencioso, mas os outros quesitos compensam uma passada.

Rua Galvão Bueno, 40/44 – Liberdade -Tel. (11) 3277- 6971
3º andar: Self service
4º andar: La carte

Hum... vou parar por aqui porque a fome está apertando e Itadakimasu!

Onde ir em São Paulo – Restaurante Japoneses


Adoro comida japonesa. O tempero, a apresentação e o aroma da gastronomia do Sol Nascente é de tirar o fôlego. Ao menos para mim, uma descendente de italianos que vive uma onda otaku desde o começo do ano. E por se tão apaixonada por esses sabores exóticos, aproveito para indicar restaurantes que fui e aprovei. É lógico que comi em vários, mas por um ponto ou outro, foram esses que me marcaram.

Anota aí na sua agenda para você visitar:

Kotobiya

Quem o vê de fora em pleno bairro de Moema, acredita que não é um lugar de grandes surpresas. Ledo engano... Logo na entrada, geralmente alguém da casa, inclusive o sushiman, o cumprimenta em japonês. Acredito que a maioria não sabe falar a língua, mas aproveite para acenar a cabeça e sorrir porque é o princípio de uma estadia divertida e apetitosa. Digo divertida porque há a televisão sempre está ligada no canal NHK, o mais famoso do Japão. Tem também uma geladeira com água com vários sabores e em embalagens meio futuristas.

A comida é farta, apetitosa e ainda por cima com preço bacana. Aproveite para saborear teishoku kotobiya que vem tempura de legumes, um camarão e outro de peixe, cinco sushis e dez fatias de sashimi. E duvido que você não irá levar alguma lembrancinha de lá... não vou falar mais, porque é ver pra crer.

Avenida Cotovia, 287 – Moema – Tel. (11) 5536-9279
Horário de funcionamento: Terça a Domingo – 19 às 23 hs. Aos sábados e domingos abre para o almoço das 12 às 16 hs.

Banri

Aqui já é um local que traz mais opções chinesas (o que não deixa de ser uma delícia). Aliás, esse restaurante está no fundo de um pequeno café e do lado uma mercearia. Fica no bairro com coração oriental de São Paulo: a Liberdade. E ainda por cima tem pratos que dá para serem divididos em duas pessoas. Caso você queira pode pedir meia porção.

É engraçado, mas toda vez que vou lá, parece que a qualquer momento entrará o bando dos 88 loucos do Kill Bill! Um ar meio Yakuza, mas também parece que a família do Ranma Saotome (Ranma 1/2) irá chegar para almoçar ou jantar. O atendimento é um pouco demorado e atrapalhado. Mas vale a pena experimentar.

E se você gosta de yakissoba, experimente o de frutos do mar e aproveite para pedir um pão chinês de entrada. E fique tranquilo, o preço é camarada.

Rua Galvão Bueno, 160 – Liberdade – Tel. (11) 3208-7232
Horário de funcionamento: Terça à sábado das 11 às 22:30 hs e os domingos e segunda das 11 às 20 hs.


Semi Yakitori

Toda vez que volto do cabeleireiro, aproveito para passar nesse pequeno e charmoso restaurante no Tatuapé. Fico horas conversando com uma das donas, que é uma graça, sobre mangás, animes e tudo sobre cultura oriental.

O restaurante oferece os famosos yakitori que são espetinhos orientais. Hum... o cheirinho da grelha enquanto eles estão assando é uma maravilha.
Lá, você pode pedir o rodízio de temaki, que vem como entrada um guioza, uma porção de yakissoba, sopa de abóbora e shimeji. Depois você anota em papel quais sabores de temaki e yakitori que quer comer. E você pode repetir!

Um dos muitos pontos que me atrai nesse lugar é o yakissoba. A origem da palavra significa macarrão frito. E o pessoal leva realmente a sério a definição: ele é crocante e cremoso. Outra dica legal é o chá gelado. Para adoçá-lo vem um melado que deve ser colocado aos pouquinhos.
E posso te garantir, você sai satisfeito.

Rua Itapura, 1434 – Tatuapé – Tel. (11) 2361-7000

Restaurante Makoto
Quem diria que o Hotel Nikkey na Liberdade “guardaria” a sete chaves um restaurante tão gostoso? No dia que fui fiquei apaixonada porque dependendo do lugar do restaurante, você precisa tirar os sapatos. O atendimento é delicado, eficiente e bem simpático. O que peca um pouco é o cheiro do local. Talvez por causa do aquário cheio de carpas.

O clima é como se fosse realmente estivesse no Japão: roda de senhores conversando em japonês, comida muito bem decorada e farta. O preço é salgadinho, mas compensa.
Lá, finalmente consegui experimentar uma das comidas que aparece no mangá Ranma ½, o okonomiyaki, um misto de pizza com omelete recheado de legumes, frutos do mar e carnes. Uma delícia!

Rua Galvão Bueno, 425 – Liberdade – Tel. (11) 3207-8511

Cia Oriental

Sem brincadeira, aqui experimentei um dos melhores teppan yaki de frutos do mar da minha vida. O prato vem com misoshiro, gohan, uma saladinha de frutos do mar e muito, muito camarão, lula e legumes.
O restaurante está localizado no Shopping Sogo, em pleno bairro da Liberdade. E você tem duas opções: self service ou la carte. Sugiro a la carte não só pela acomodação, mas os pratos são mais caprichados.
Vale lembrar que o atendimento é demoradinho e nem sempre atencioso, mas os outros quesitos compensam uma passada.

Rua Galvão Bueno, 40/44 – Liberdade -Tel. (11) 3277- 6971
3º andar: Self service
4º andar: La carte

Hum... vou parar por aqui porque a fome está apertando e Itadakimasu!

domingo, 19 de setembro de 2010

Reviravolta - Última Parte

Revelação

Depois disso, voltei para cozinha e fiquei sentada olhando para carta. O chá esfriando e os meus olhos quase marejando. Por que o passado queria bater novamente à porta se ele estava morto?
- Você não vai abrir a carta?
Levantei os olhos e Edu me encarava.
- Acho que vou jogar no fogo, queimar...
- Cathe, ele não está mais entre nós. E sei que antes de me conhecer você chegou a amá-lo.
Amar é algo muito forte, não sei se era amor, porque a dor era um sentimento muito mais constante do que o aconchego, do que o conforto.
Suspirei e disse:
- Está bem!
E fui abrindo a carta.
- Cathe, você quer que a deixei sozinha? Acho que esse momento ...
- Não, espere!
- Cathe...
- Então vou para quarto e leio lá, está bem?
- Se precisar de mim, você sabe, pode me chamar.
Levantei-me, segui até o quarto e fechei a porta. Fui abrindo devagarinho o envelope e ali estava...

“Cathe, querida.
 
Estou no meio da noite, não sei como falar isso. Nunca fui bom com as palavras, nunca escrevi bem. Por isso não dei certo como jornalista, algo que você é muito boa. Sou melhor administrador de negócios do que com a minha vida.
Acho que por isso tenho deixado tantas oportunidades passarem em frente aos meus olhos e deixar você partir...
Hoje a vi tão bonita, tão feliz, que invejei aquele rapaz que estava falando com você pelo celular.
Queria que você estivesse assim comigo...Mas o que poderia dizer para você voltar atrás?
Sim, hoje percebi que a amo. E como a amo! Sei que a machuquei, e talvez em meu orgulho tolo não fui capaz de ser sincero e olhá-la nos olhos e dizer tudo que sinto.
Nesse meio tempo , tudo que fiz foi ficar com Berenice, que nunca me amou ou me fez sorrir. E algo que percebi, você faz muito bem.
Esse desmiolado que um dia cruzou seu caminho durante uma batida de carros, onde foi o responsável, foi responsável também por algumas lágrimas que você derramou. Mas, não se sinta culpada pela dor que sinto agora, aqui, neste minuto e durante essa madrugada fria, onde apenas uma garrafa de whisky me acompanha.
Errei, errei feio! Terminei com Berenice por sua causa, mas será que você me quer de volta?
Agora, tudo que me resta é minha dor e a minha verdade que é amar você.
Peço que pense com carinho, e reconsidere se ao menos esse pobre idiota ainda pode ter uma chance com você.
 
Beijos,
Giovanni”
 
Fechei os olhos e o nó na garganta não me permitia segurar as lágrimas... Sim, tinha o amado. Mas, não sei se era amor ou era apenas uma dor, uma obsessão que nunca foi concluída.
Reli a carta, e pude perceber que ele ficou desesperado quando já estava longe, muito longe de seu alcance e logo ele que pensava que todos lhe pertenciam. Sim, ele era bonito, rico e várias mulheres estavam aos seus pés. Mas no fundo, no fundo, era um infeliz, que nunca soube cuidar dos que amava, e os que o amavam.
Passei a mão pela barriga, ali estava meu filho, fruto da minha relação com Edu. Um relacionamento que me trouxe de novo para luz, outra vez para vida até que fui possibilitada de gerar outra vida.
O que no fundo sentia pelo Giovanni era piedade, compaixão. Uma vontade desesperada de ajudá-lo. Ou mesmo de salvá-lo. Mesmo debaixo daquele homem que tinha sorriso grande e aparentava ter tudo, estava um menino sofrido, que precisa desesperadamente de carinho. Eu tentei, mas ele não permitiu. Não foi a minha responsabilidade. Orgulhoso do jeito que era, não aceitaria alguém o ajudasse. Para ele, humildade era apenas para os fracos.
Pensei: "se estivéssemos na Europa em uma época de frio e houvesse uma lareira aqui, não teria dúvida que a acenderia somente para queimar esta carta". Peguei o pequeno cesto cromado do quarto, risquei um fósforo e encostei a chama na carta. Fiquei lá, observando-a consumir em chamas. Abri a janela e afastei as cortinas.
Queimei-a porque ela tinha cumprida a promessa: informar-me que Giovanni teve sua chance e se recusou. Podíamos ter ficado com juntos? Sim. Podíamos ter dado certo? Não sei. Acredito que seria mais um prolongamento da minha dor. Ou se Giovanni tivesse abaixado a guarda e fosse humilde desde o começo, sim...ou talvez.
Mas quem esteve, está e estará sempre ao meu lado é o Eduardo. Ele sim, um verdadeiro companheiro. Adorável no riso, companheiro na dor. Amigo, amante, namorado, pai. Ele me mostrou tantas facetas e quando teve a oportunidade dele, foi lá e a agarrou. Assim como ele fez quando nos beijamos pela primeira vez em aquela padaria que tanto adoramos.
- Posso entrar?
 A voz do outro lado da porta era do mesmo homem em que estava pensando. Era o pai do meu filho, era do meu grande amor.
- Sim.
- Quer um chá?
Tudo que fiz foi levantar-me, correr para ele e abraçá-lo.
- Obrigada, disse!! Obrigada por você ter aparecido na minha vida!!
Ele voltou os olhos para mim e falou:
- Cathe, escute. Nada mais me importa na vida do que sermos felizes. E isso, sou com você.
Assim que terminou de falar, aproximou-se mais e me beijou. Sim, esse era o tipo de vida que tanto procurava. Era essa vida que busquei em tantos lugares e das mais variadas formas. E com ele aprendi a amar e encontrei a paz.

Fim