Nota de abertura: Começa
agora o 3º capítulo do Volume I de Hakushaku to Yousei! Enjoy!!
Era um poço abandonado, mas não estava seco. Lydia tirou água do poço com um balde enterrado na grama abundante depois que o limpou. Encontrou uma xícara trincada e uma panela de ferro destorcida em um canto do chão sujo da cozinha.
Era um poço abandonado, mas não estava seco. Lydia tirou água do poço com um balde enterrado na grama abundante depois que o limpou. Encontrou uma xícara trincada e uma panela de ferro destorcida em um canto do chão sujo da cozinha.
A
cabana desabitada estava perto de desmoronar, e as suas dobradiças de madeira
rangiam cada vez que o vento as atingia. O local onde eles estavam era bem
afastado da trilha de ferro, e bosque cerrado agia como camuflagem, Huxley não
perceberia que ali havia uma construção.
―
Ei, Lydia, não deveríamos apressar e sair daqui? – perguntou Nico, que apareceu
na cerca de pedra que rodeava o poço.
―
Onde você estava? Pensei que havíamos nos separado.
―
Estava seguindo você sem nenhum problema. Apesar de que eu estivesse invisível.
―
Bem, você sempre desaparece quando algo se torna perigoso.
―
Então, o que deveria fazer nessa situação? Fiquei no meu limite para não te
perder de vista. E o mais importante, eu acredito que você não tenha tempo para
pegar água.
Lydia
soltou um suspiro e sentou-se ao lado de Nico. Ele estava certo, se ela fosse
fugir, agora era a chance. Dentro da cabana, Edgar estava de olho neles, mesmo
que estivesse ferido. Talvez, ela conseguisse escapar dele. Depois de ter sido
obrigada a seguir viagem por um Edgar ferido, ela se perguntou para onde
estavam indo. Depois de um tempo, a carruagem parou, e ele disse ao cocheiro
para se dirigir até a próxima cidade. Entregou-lhe dinheiro para que ele
mantivesse silêncio. Saíram e caminharam atravessando os campos de uma fazenda.
Provavelmente,
ele deve ter previsto que Huxley viria atrás da carruagem. E decidiu passar a
noite nessa cabana que encontraram em ruínas. Não era como estivesse presa, mas
no final, Lydia decidiu seguir Edgar. Questionou-se se ela poderia se
tranquilizar quanto à sua falta de esperança na companhia de um assassino em
estrada escura. Naquele caminho, não havia uma luz acessa ou uma casa, no
entanto, ela decidiu que aquilo era absurdo.
―
Você está certo, ele é um assassino.
―
Ele é realmente o criminoso procurado.
―
Parece que sim.
Edgar
chamou o homem, que se apresentou como Huxley, de Gossam. Gossam era o nome da
família da vítima que quase foi morta pelo ladrão.
Huxley
provavelmente era o filho de lord
Gossam. Quando Edgar roubou seus bens, ele deve ter perdido o alvo e atirado no
próprio pai.
De
qualquer modo, foi tudo que Lydia entendeu.
―
No entanto, ele disse que o dinheiro roubado era uma recompensa. Tudo leva a
crer que a família Gossam também tem feito algo contra a lei.
―
Lydia, o que nos interessa que dois criminosos estão brigando e tentando se
matar um ao outro? Isso significa que não devemos nos envolver. Não há a
necessidade sequer de verificar a tatuagem em sua língua. Você se lembra de que
o chamaram de sir John? Pelo jeito, é
o executado da América.
―
Eu sei perfeitamente disso, Nico.
Ela
olhou para o leve corte em sua mão, que foi feito quando ela tentou lutar para
se libertar de Huxley.
―
Ele salvou minha vida.
―
Ouça, isso porque se acontecesse alguma coisa com você, ele não seria capaz de
encontrar a espada preciosa do Lord
Cavaleiro Azul.
―
Isso é verdade. Mas, não há sentido ele quase se matar para me salvar.
―
Porque ele não está morto, e nenhum ferimento o faz correr perigo de vida. Se
fosse para comprar a sua simpatia, sairia mais barato do que 500 libras para
ele.
O
que ele dizia fazia sentido. E, então, Nico estendeu a palma da mão, ou melhor,
a palma da pata, na qual tinha uma pequena pílula branca.
―
Triture isto e dê para ele beber.
―
O que é isso?
―
Uma fórmula secreta de sono das fadas. Vai colocá-lo para dormir. Uma vez que
isso ocorra, não teremos preocupação em sermos seguidos ou capturados. Agora é
a chance, já que o servo mortal não está aqui.
―
Hm, você está certo. A chance de
escapar é agora quando Raven e Ermine não estão aqui.
―
Sim, você deve ficar acordada e cair fora daqui.
Havia realmente algo
errado comigo. Se não correr agora, o que sabe-se lá o que este ladrão faria
comigo.
Segurando
a pílula em sua mão, Lydia se levantou. Andou se escorando no patente da porta,
quase caindo, entrou na cabana. Edgar estava em um canto da pequena sala,
sentado no chão e encostado à parede, parecia exausto. Ele parecia tão mal,
como fosse um homem esgotado e ferido, que ela hesitou em escapar.
Ficaria
feliz que ele não parecesse uma pessoa perigosa. Havia fogo na lareira. Ele
deveria ter fósforos consigo. Partes quebradas de uma cadeira de madeira e
outros restos de mobília foram usados como lenha para as chamas que cresciam e
aqueciam o ambiente.
―
Não é bom que você se mova.
Ele
olhou para cima, com a cabeça inclinada como estivesse surpreso e se
perguntando o porquê ela voltou depois de ter saído. Embora, ele poderia estar
fingindo também.
―
Eu apenas acendi o fogo.
Lydia
carregava a panela de ferro cheia de água, e voltou-se para Edgar.
―
Está doendo?
―
Um pouco.
―
Isto é confrei. Você irá melhorar assim que triturar as folhas e colocar sobre
a ferida. Elas irão parar o sangramento e desinfetar a ferida.
Ela
mostrou a Edgar as folhas de ervas medicinais. Por um momento, ele hesitou,
estreitou os olhos como fosse dizer alguma coisa, mas tranquilamente as
aceitou.
―
Você as encontrou mesmo nesta escuridão?
―
Sobre isso, você poderia me dar um de seus punhos?
―
Ah, para colocar o remédio...
Ele
tirou um dos punhos da camisa, no qual uma das abotoaduras era de granada. De
maneira descuidada, ele entregou a ela.
―
Não me interprete errado. Não sou a única em conseguir isso. - disse Lydia e jogou-o pela janela.
―
Há alguém lá fora?
―
Sim, uma fada.
―
Realmente, você cobra bem caro algumas folhas comuns de jardim.
―
Mas, não seria capaz de encontrar confrei se não crescesse muito por aqui.
Edgar
olhou para as folhas levemente secas, e, de repente, começou a rir e gargalhou.
―
Então, esta é a sua capacidade de negociação com as fadas?
―
O quê? Está me dizendo que as minhas conversas com as fadas são absurdas?
―
Não é isso. É que por um momento, uma parte de mim chegou a acreditar
seriamente nas fadas.
―
Você está me dizendo que não pode acreditar nisso?
―
Quem sabe. Mais do que isso, não posso acreditar que ainda esteja aqui, na
minha frente.
Vendo-o
a agir com este tipo de atitude de fraqueza, ela se sentiu mal por tentar
escapar. Ela iria abandonar alguém ferido, alguém que se machucou em seu lugar.
Tentou acalmar seus pensamentos e deu uma desculpa que escaparia depois que
tivesse cuidado de suas feridas.
Exatamente
como Huxley, mesmo que Raven e Ermine estivessem vindo atrás da carruagem,
então não havia como entrar em pânico, se ela esperasse até próximo ao
amanhecer. Assim seria mais seguro para Lydia do que andar em estradas escuras
e perigosas.
No
entanto, era inegável que uma parte dela estava hesitante perante isso.
Mas, sou eu que fui
enganada e usada.
Lydia
se afastou alguns metros de Edgar e sentou-se em uma cadeira rangente.
―
Por quê? Pensei que seu forte fosse enganar e ameaçar as pessoas e fazer com
elas o que bem quisesse, my lord.
―
O feitiço está quebrado.
―
Eu não estive sob nenhum feitiço desde o início. – respondeu Lydia de modo
confiante. Embora, ela se questionou a si mesma se isso era verdade.
Mesmo
neste minuto, ela poderia ficar ali porque não podia resistir ao encanto
perigoso que emanava dele.
Ainda
que ela pensasse nisto, negou de forma categórica em sua mente. Certo, ele
podia ser alguém com uma aparência charmosa e dizer coisas agradáveis que as mulheres
adorariam ouvir, mas Lydia sentia que ele não era tão doce assim. Entretanto,
ela estava bastante curiosa sobre a sua escuridão, porque estranhamente
assustador.
Parecia
um nobre desde que nasceu, mas, na verdade, era um criminoso perigoso. Ele usou
a sua fala objetiva e seu sorriso perfeito para capturar o coração dos outros.
Com essa exibição, ele cobria a verdade e manipulou os outros com suas
mentiras. E ainda assim, por que ele a defendeu e se machucou por ela?
Assim
como Nico disse, pode ser pelo falto que ele quer a simpatia de Lydia, mas
também na virada da situação, naquele momento, ele reagiu. Era impossível que
ele tinha isso em mente. Em primeiro lugar, a atitude de Lydia, naquele
momento, foi precipitada e instintiva, algo completamente imprevisível. É por
isso que ela queria descobrir a parte misteriosa dele. Mas, podia ser a magia
que ele usou nela também.
―
Quero saber, quem é você? Lord Edgar?
Ou sir John?
Ele
hesitou por um momento, mas respondeu à pergunta:
―
Edgar, esse era meu primeiro nome.
―
O que você quer dizer com era?
―
Porque ele morreu. O menino com esse nome morreu, quando tinha doze anos, junto
com seus pais. Eles eram suspeitos em tomar parte de uma rebelião, e seu pai
matou a sua família e, em seguida, tirou a sua própria vida. A linhagem da
família terminou ali. E é por isso, o que está na sua frente não passa de um
fantasma. Você pode me chamar do que quiser.
―
Mas, você está aqui, vivo!
―
Sim, vivo... Sei que estou na presença de uma lady, mas me perdoe. Ele tirou o colete e a camisa manchada de
sangue, e contraiu as sobrancelhas perfeitamente esculpidas enquanto
inspecionava suas feridas.
Por
outro lado, o local onde ele estava ficava longe do fogo, e assim Lydia não se
importou. Indiferente com ela, Edgar continuou.
―
Mas, não como fosse resgatado. Quando vim, estava no inferno, em uma cidade no
sudeste da América. Fui vendido a um homem que queria um escravo, e uma pessoa
que supostamente seria morta. Não era tratado como um ser humano. Escapei
daquele lugar há quatro anos. Raven e Ermine vieram comigo. Nós nos escondemos
no centro da cidade, e fugimos dos homens que nos caçavam. Fizemos qualquer
coisa para sobreviver.
Ao
ouvir sua história inimaginável foi a razão pela qual ela, provavelmente, não
ajudou com seus ferimentos porque sua mente estava cheia de desconfiança. E
mesmo esta história poderia ser uma grande mentira.
―
E sobre você ser um ladrão assassino? Você realmente matou uma centena de
pessoas?
―
Os rumores tendem a ser exagerados à medida que o tempo passa.
―
Mas você o fez?
―
Estávamos na parte mais baixa da sociedade, nos lixões sujos. Meninos da mesma
idade que nós viviam roubando ou vendendo seus corpos, e mesmo fazendo aquilo,
mal conseguiam sobreviver. Existiam como cães vadios. Eles não sabiam pensar e
nem ler, simplesmente se mantinham desesperadamente. Mas, nunca souberam sobre
o local onde ouro estava escondido, como colocar as mãos nele, dinheiro sujo é
dinheiro sujo. Algo que não existia em uma sociedade normal.
―
E foi assim que você se tornou líder deles, e todos o chamavam de sir.
―
Rei dos ratos de esgoto? Sim, talvez. Um rei apenas ordena seu exército. Ele
decide o plano, reúne seus homens, dá-lhes armas, e ordena ir. Em um campo de
batalha, com certeza haverá vítimas. E, por isso, realmente é minha culpa.
Portanto, não vou dizer que nunca matei ninguém. Mas, não quero que você se
preocupe. Então, vou lhe contar que o dinheiro que paguei você não foi roubado.
Trabalhei como operário durante o dia, acumulei dinheiro com falsificação, algo
que você não aprovaria. De qualquer forma, investi dinheiro comprando ações.
Essa é a fonte da minha riqueza. Felizmente, ela foi tão bem construída que
ninguém suspeitaria de mim, quando me refiro como um nobre.
Lydia
o ouvia calmamente. Edgar não mudou a expressão quando falou de si mesmo, era como
ele contasse de outra pessoa.
―
Entretanto, sou apenas um homem que não possui um nome, uma identidade e
supostamente morto. Mesmo que fosse um negócio legítimo, fiz transações usando
o nome de outra pessoa. Aonde quer que vá, a marca de um escravo me segue,
tremo às sombras de meus caçadores.
―
A marca de um escravo?
―
Você já sabe, não é? Sobre a cruz marcada em mim. Não a procurou quando
estávamos no trem?
Então,
ele estava acordado, e mesmo assim, fez fingiu que estivesse dormindo. A faceta
ofendida dela apareceu em sua feição, porque ele sorriu de modo divertido para
ela.
―
Sua reação foi tão fofa, que não pude resistir.
Como
ele podia dizer uma coisa dessa durante uma revelação tão deprimente? Estava
além de sua compreensão.
―
Da próxima vez, vou me certificar se consegui derramar água fervente em você!
―
Eu não vou fazer mais isso.
―
Bem, então, você realmente tem a tatuagem.
―
Não é uma tatuagem, é mais uma marca. O homem que não me queria morto, a marcou
em mim para significar que era um escravo. Não sei como o rumor da tatuagem
começou, mas parece que outras gangues a copiaram e graças a isso, ela ficou
famosa. Assim, líderes de gangues criminosas se nomeavam em todo lugar. Então,
ninguém sabe como havia começado o rumor sobre o assassino cruel.
Antes
que ela percebesse, Lydia começou a encarar a situação de forma positiva.
―
Afinal, quem é esse homem chamado Gossam? Como voltou para a Inglaterra?
―
Gossam era um médico e tinha vindo para a América à procura de cobaias para
usar em experiências do corpo humano. Além disso, queria o cérebro de um
criminoso para fazer sua pesquisa psiquiátrica.
―
Ahn? Um cérebro e experiências no
corpo humano?
―
Isso mesmo. Fui capturado porque alguém me relatou e estava à espera para ser
enforcado. Mas, Gossam trocou-me com alguém em segredo. Parece que ele pagou
muito dinheiro para os envolvidos nisso.
―
Então, eles pegaram o seu cérebro?
―
Uma observação interessante.
Eu não penso assim, refletiu. O que ele
contava era tão absurdo que aos poucos ela começou a acreditar em tudo.
Ele
usou a gravata desatada como uma atadura, e a amarrou em torno de sua ferida, e
fez isso como estivesse acostumado.
Talvez no lugar em
que ele viva, as lesões aconteciam o tempo todo.
―
Ele viajou por todos os lugares para obter seu criminoso. Ele me trouxe para
Londres, e então tentou conseguir todos os dados que podia. Injetaram-me
drogas, e outras experiências dolorosas tão perto da tortura. Eu não era a
única experiência, havia alguns com as cabeças abertas, mesmo vivos. Ele não
pesquisou apenas criminosos, mas também usou pessoas inocentes e acabou
assassinando todos.
Enquanto
ouvia, ela começou a se sentir mal. Lydia não podia imaginar esse tipo de
mundo. O lado periférico da sociedade, cheio de conspirações e loucura. Ela não
conseguia conceber que as pessoas, que foram empurradas para esse mundo, viram
ou sentiram. É por isso que ela nunca seria capaz de entender completamente a
sua pessoa.
―
Para mim, é inimaginável que as fadas tenham partes de seu coração tão
destorcidas como as pessoas. Você está dizendo que há pessoas indiferentes em
vender outros seres humanos e usá-los como experimentos?
Lydia
abaixou os olhos e só conseguiu dizer essas palavras.
―
Você é uma garota feliz. No entanto, os seres humanos são criaturas capazes de
fazer qualquer tipo de atrocidade.
Ela
sentiu o ar se mover ao seu redor, e levantou a cabeça. Lydia não percebeu que
Edgar estava à sua frente a encarando. Ele era um homem que acabava de chegar
aos seus vinte anos, mas como ele contou, tudo que tinha fora tomado, seu nome,
sua identidade, seu passado, e se fosse verdade que ele sobreviveu com todas as
forças, o qual, escondia por trás de seu sorriso cativante, algo inimaginável
aos outros, o fazia uma pessoa perigosa.
O
que ele tinha em suas mãos era uma espada, que estava disposta em uma bengala.
O corpo de Lydia ficou rígido.
―
Eu conhecia a história e a lenda do Lord Cavaleiro
Azul desde criança. Consegui aquela moeda de ouro em uma loja de antiguidades
na América. Estava planejando investigá-la quando finalmente retornei à
Inglaterra. Porém, mesmo voltando para Londres, eu ainda estava preso a Gossam
e não podia agir. É por isso que precisava de Gossam para encontrar com a moeda
de ouro o caminho que levava à localização do esconderijo da estrela safira e
esperar até terminar a pesquisa. Não poderia ser morto, pois esperava por Raven
e Ermine. Esse truque, então, era perfeito para obter algum tempo. Mas, por
isso que tenho que competir com a sua família pelo tesouro, e isso tem me
atrapalhado.
―
Logo, isso significa que você não é o verdadeiro descendente de Lord Cavaleiro Azul, certo? Se você
pedir ajuda, mesmo que não seja o verdadeiro, será quase impossível obtê-la que
é protegida pelos merrows.
―
Ainda assim, é a minha única opção de conseguir a espada preciosa.
―
Você será feliz recebendo um nome falso? Não seria melhor tentar recuperar o
seu verdadeiro?
Ele
se curvou um pouco, dobrando sua face para Lydia.
―
Você está errada, Lydia, quando acredita que algo falso não tem valor. Qual
seria a vantagem de recuperar o nome de uma família rotulada como rebelde? O
escravo e o líder da gangue estão mortos. Mesmo que isso seja algo inventado,
preciso de um nome que seja grande, com uma presença inegável. Eu necessito
desse poder inquestionável para que aqueles que me colocaram no inferno não
consigam colocar mais as mãos em mim. Se não obter o nome de conde, irei morrer
como um lixo que sou. Mas, se conseguir, irei te mostrar como faço algo falso
se parecer real. – ele gentilmente a persuadiu. E então, ele segurava a bengala
na frente de seus olhos.
―
E agora?
―
Se um ladrão tiver uma arma com ele, você não iria conseguir dormir direito,
não é? Vou deixar isso com você.
Afastou-se
de Lydia e recostou-se contra o canto da parede. Seu verdadeiro eu estava
morto. Se ele realmente viveu uma vida fictícia, como o objetivo de outra
pessoa, tudo era uma grande mentira. Para ele não havia o verdadeiro e o falso,
apenas a diferença de que uma mentira fosse útil ou não. O que ele contou à
Lydia não se podia ter certeza de que fosse verdade. No entanto, vindo dele uma
bola de vidro poderia parecer um diamante. Desse modo, Lydia podia ser
convencida e se sentir persuadida pelo seu pensamento, mesmo sabendo que um
vidro não se parece com um diamante.
Ela
até pensou que talvez o nome do Lord Cavaleiro
Azul seria mais adequado a ele do qualquer outra pessoa. Além disso, ele passou
o porte da arma e a tratou como fosse um cavalheiro. Poderia ser seu plano que
ele não era uma pessoa cruel. Contudo, ela ainda era cautelosa em relação a
ele. Sem contar que entregando sua arma, é uma forma de testar se Lydia
planejava escapar.
Se
ela fugisse seria um problema para Edgar. Isso tornaria a busca pela espada
preciosa do Lord Cavaleiro Azul cada
vez mais difícil, e aumentaria a chance de ser apanhado por Huxley ou pela polícia.
Ele acreditava que a controlaria a garota, mesmo que entregasse sua bengala.
Então, o que ele faria se ela insinuasse que escaparia? Mostrar-lhe a sua
verdadeira face criminosa? O melhor a se fazer era induzi-lo a tomar a pílula
para dormir, antes que ela visse esse lado dele.
Determinada,
Lydia levantou-se e olhou para o pote sobre o fogo. Mergulhou a caneca na água
quente, colocou a pílula que Nico lhe deu, acrescentou uma filha de hortelã e
entregou a Edgar.
―
Pode não ser tão bom quanto um chá, mas isso ao menos irá acalmá-lo.
―
Ah, obrigado! – ele sorriu para ela sem demonstrar alguma preocupação.
Porém,
Lydia sentiu algo afiado por trás daquele sorriso, e de repente sentiu as
costas se arrepiarem. Edgar tomou a caneca com a mão e com a outra, de modo
instintivo, agarrou a mão de Lydia e a puxou.
―
O que você colocou aqui?
―
O que você está dizendo?
―
Alguém que planeja algo demonstra cautela com seu comportamento. Talvez tenha
pensado que fez isso de modo despercebido, mas vi que você colocou algo além do
hortelã. É perigoso provocar um criminoso com esse tipo de coisa.
―
Solte-me!
―
Se fazer isso, você irá fugir.
―
Claro que faria! Você é um ladrão! – gritou Lydia de modo provocador.
―
Você realmente não tem qualquer autodefesa. Assim como foi pega por Huxley, não
deveria fugir de forma tão imprudente. Você perderia sua vida mesmo que tivesse
mais de uma.
―
Você está dizendo que irá me matar?
―
Eu nunca ousaria. Se fizesse, então não descobriria onde a espada está
escondida.
―
Mesmo que você me ameace, não farei o que me diz!
―
Você realmente não entendeu. Há outras maneiras de fazer alguém executar o que
você quer. Mocinha ingênua, tenho certeza de que nunca poderia imaginar o que
sentir um desespero tão profundo e escuro a ponto que sequer querer continuar a
respirar.
Nesse
momento, Lydia lembrou-se de como Ermine descrevia Edgar: um homem triste. Mais
do que estar com medo, sentiu seu coração ser ferido pela pessoa que estava à
sua frente, a qual revelou pela primeira vez seu verdadeiro eu.
Não
era o lado do verdadeiro criminoso, era sua dor, o sofrimento de alguém que foi
roubado de sua felicidade e seu futuro que foram prometidos a ele.
―Você
sentiu um desespero assim?
De
repente, ele franziu o cenho. Talvez ela tenha dito algo que poderia o
provocado.
O meu instinto de
sentir perigo deve estar realmente confuso.
Assim
que ela pensou isso, Edgar a largou. Ainda aparentando dor, ele abaixou sua
face.
No
final das contas, a sua respiração foi como ele disse “isso mesmo”.
―
A espada do Conde Cavaleiro Azul é minha única esperança. Lydia, você está me
abandonando?
Seu
olhar cravou nela, como ele tentasse impedir que sua amante o deixasse. Lydia
também estava prestes a se esquecer sua posição de prisioneira.
―
Mesmo que você diga isto não tenha utilidade...
―
Por favor, não vá!
―
O que você está dizendo não faz sentido. Foi você que me ameaçou e planejou que
eu fizesse o que você diz.
―
Se você dizer que vai, então vou me matar.
―Ei
espere! Essa é a sua ameaça?
―
Se a minha desaparecer, então vou sofrer para manter a minha vida.
Ele
olhava para a caneca que Lydia o entregou e depois bebeu o conteúdo de uma
maneira desesperada.
―
Se isso for veneno, vou morrer, e, portanto, não irei mais magoá-la.
―
Não seja ridículo! É uma poção para dormir!
―
Entendo. Nesse caso, meu destino será decidido quando acordar. Se você
desaparecer diante dos meus olhos, minha vida termina aqui. Ah, isso não soa
bem. Meu destino está em suas mãos, como as palavras de um amor passional.
―
Você deve estar brincando!
Ele
mostrou a uma Lydia chocada e boquiaberta um sorriso ferido, mas perfeitamente
gracioso.
―
Boa-noite, minha fada.
Mesmo
que fosse em tom de brincadeira, o modo que ele disse soou como uma proposta de
um amor honesto. O som de sua doce voz ainda ressoava em seus ouvidos, quando
ele abaixou até o chão enrolado no próprio casaco. Imediatamente, ele afundou
em um sono profundo, e Lydia continuou olhando para o lado indefeso de Edgar.
―
Oh, graças a Deus! Isso estava me assustando! – disse Nico, se mostrando. Bom,
Lydia, o seu timing na hora de
preparar a poção foi bem ruim. No fim, tudo correu bem desde que ele bebeu.
Ele
apertou a parte de trás da perna de Edgar para se certificar que a poção tinha
funcionado.
―
Agora vamos nos apressar e cair fora, Lydia.
******
―
Ted. – Aquele homem chamou Edgar.
A
voz que nunca desapareceu de sua memória, ainda o atormentava até mesmo em
sonhos.
―
Ted, você é perfeito. Tudo que você deve fazer é olhar por cima para aqueles
que são inferiores a você e deleitar-se com a luz. Eventualmente, seus
seguidores se apresentarão e se jogarão aos seus pés. Vou te ensinar como é
fácil manipular aqueles ao seu redor. Eles não estarão conscientes de como você
é capaz de fazê-los se movimentar como assim deseja. Deste modo, você irá se
tornar como eu. Vai pensar como eu, governar como faço, e manejá-los do mesmo
modo que eu.
Não
há uma maneira de que isso aconteça, porque Edgar conseguiria escapar das
garras do homem que disse isso. Ele não ficou da maneira de que esse homem
queria. Era um home que usava uma máscara para esconder a metade distorcida do
seu rosto, que ele dizia ser uma ferida adquirida em uma batalha. Chamava-se
Príncipe e tentou fazer de Edgar seu fantoche.
Ele
queria um boneco que fosse leal e atraente, uma marionete que se mexesse,
conversasse e trabalhasse para seus desejos e aparecesse em seu lugar, já que
não poderia comparecer em público. Ele nunca conseguiu realizar o sonho de que
o boneco não tivesse nem vontade ou alma, assim como uma concha vazia. No
entanto, de vez em quando, Edgar ficava com medo. Tudo que ele tinha construído
até agora poderia ser manuseado por aquele homem.
Porque
quando Edgar fugiu desesperadamente, se escondeu na tentativa de sobreviver,
acabou usando seus conhecimentos e suas habilidades que foram armazenados
dentro dele.
Se
ele se colocasse acima dos outros, agindo de forma tolerante e paciente em
relação a eles, se transformaria em uma pessoa atraente e encantadora, assim
tudo ocorreria da maneira planejada. Ele poderia fazê-los felizes ou nervosos,
sentir pena e temê-lo à sua vontade, manobrar seus sentimentos e usá-los em seu
proveito.
Contudo,
Edgar sabia que aqueles que manipulava não eram seus verdadeiros aliados. A
confiança não podia ser formada em uma relação servo-mestre ou líder-seguidor,
mas, somente quando dois indivíduos são em pé de igualdade. Mas, isso não era
tão fácil, não poderia ser formado com qualquer um.
Sem
nenhuma razão, seus únicos aliados eram Raven e Ermine. E ele não tinha outra escolha,
então, utilizou as opções apenas para o impulso do momento. Afinal, ninguém
podia entender a dor que Edgar e seus amigos passaram. Ele racionalizou que os
tinha usado como quisesse.
Lydia
era outra das muitas que ele usaria, mas não deu certo. Se ela fosse uma moça
ignorante, pensou que seria fácil conquistá-la. Mas, ela não confiou nele
imediatamente, assim como ele programara. E foi inesperado que suas identidades
fossem reveladas devido às declarações do filho mais velho de Gossam. Mesmo
assim, graças à ferida que Edgar sofrera, poderia ser utilizada como uma
vantagem, e assim comprar sua simpatia. Por isso, ele decidiu contar sobre o
seu passado. Parecia que ela não hesitava, contudo, no final, decidiu que ainda
não podia confiar nele. Quando ele a viu colocar a pílula, apenas restava uma
escolha para Edgar.
Ele
a faria ouvir pela violência. No entanto, não conseguia entender o porquê fazia
tal coisa, como lhe dar a chance de escapar.
― Você sentiu um
desespero assim?
Por
qual motivo ela poderia cogitar isso sobre ele, quando estava diante de um
terrível criminoso? Num momento em que tudo você pensaria era se proteger?
Edgar
ficou confuso quanto à forma que se mostrava naqueles olhos verde-dourados de
fadas. De modo geral, ele era absolutamente ciente de como se apresentava aos
outros. Ele estava consciente, agia conforme o papel e costumava criar uma
impressão nos outros. No entanto, com Lydia, sentiu que ela olhava além das
camadas de máscaras de Edgar, indo para parte mais obscura e maligna.
Ele
não podia acreditar em si mesmo por derramar seus sentimentos profundos e
honestos para que não o deixasse. E ninguém poderia concordar que matar-se pode
ser uma ameaça eficaz. Mas, isso não o importava mais. Pelo contrário,
acreditou que teria sido melhor que ela o tivesse envenenado.
Um
simples poção de dormir que drenou o poder de sono sobre ele, e lhe brotou o
despertar.
A
luz do Sol cobriu suas pálpebras, despertando-o. Edgar abriu lentamente os
olhos. O Sol da manhã se derramava sobre seu corpo através do telhado aberto da
cabana e das rachaduras da parede.
******
Já é manhã.
Mais uma manhã.
Miau!
Ouviu
o miado de um gato. Edgar sentou-se e percebeu um gato cinzento com uma gravata
amarrada em torno do pescoço sentado no peitoril da janela.
É o gato de Lydia.
Por que ele está aqui?
Assim que se perguntou, viu a garota segurando a bengala, adormecida contra o
encosto da cadeira perto da lareira.
― Minha nossa!
Realmente, não posso continuar com isso - murmuro Nico.
Jogou
um scone para o jovem que estava fitando para Lydia deslumbrado. Ele foi
acertado na cabeça e voltou-se para o gato. Inclinou a cabeça não conseguindo
assimilar a situação, talvez pela razão que Lydia não escapara ou porque um
gato lhe havia jogado um bolinho com uma das patas dianteiras.
Ele
olhou para scone tinha caído nele, e não se moveu como ferisse o seu orgulho
por ter recebido comida de um gato.
―
Coma! – disse Nico, de modo propositalmente arrogante.
―
Uh, foi você, Nico? Obrigado pela sua oferta, mas estou bem. Assim como você
prefere seu chá quente, vai contra a minha política receber comida dos outros.
―
Hmmm... Então, você pode compreender
o que estou dizendo.
―
Pode ser a minha imaginação, entretanto, você me parece rude quando fala.
―
Oh, eu entendo. Você é o tipo de humano que pode nos ouvir, mas você não
percebe isso. Há seres meio-humanos geralmente como você. Bem, não me importa,
desde que você entenda do que eu digo. Agora preste atenção, seu ladrão
maldito, se você fizer algo com Lydia, nunca irei te perdoar.
Ele
abriu sua boca e sibilou sua mensagem com suas presas à mostra para Edgar.
―
Ah, então, você está preocupado com Lydia. – falou Edgar enquanto olhava para
ela. ― Eu me pergunto, por que ela não foi embora?
―
Quem sabe? Para Nico foi uma grande insatisfação. Nico afirmou para Lydia que
se o ladrão morresse sozinho, seria bom negócio para a sociedade, mas ela não
foi.
Talvez
seu sentimento de simpatia por ele por estar ferido tenha vencido. Mesmo que
ele realmente morresse, isso poderia ter assombrado seus sonhos.
Contudo,
Nico acreditava que se alguém dependesse de Lydia, ela não o desprezaria. Ainda
que ela era encarada como um changeling
de uma fada, quando era pequena e tratada como uma aberração, nunca chegou a
odiar as pessoas. Em vez disso, julgava que pessoas, que assim como ela,
nasceram para se tornar uma ponte entre humanos e fadas, e seu dom era mais que
necessário. Até agora, ela trabalha para os moradores que zombavam dela, começando
a partir do título fairy doctor, o
que enfatizava o seu coração mole. Se havia alguém em apuros, certamente ela
viria em sua ajuda. É por isso que ela
não conseguia detestar Edgar sendo que podia deixá-lo morrer.
―
Talvez ela tenha se apaixonado por mim.
― Isso é impossível.
― Provavelmente, você esteja certo.
A luz do Sol refletia em seus cabelos castanho-avermelhados.
Edgar se levantou e caminhou lentamente para Lydia. No entanto, parou quando
Nico pulou no colo de Lydia.
― Você está me dizendo que não posso? Só vou
tocá-la um pouquinho, então, faça as vistas grossas apenas uma vez.
― Em seus sonhos.
Ignorou o assobio e estendeu a mão. Ele tocou
o cabelo liso que pendia sobre sua bochecha. Lydia abriu os olhos. Os raios
solares refletiam seus olhos verde-dourados, com os quais ela via as fadas.
― Bom-dia, Lydia.
Antes de qualquer reação vinda de Nico, Edgar
tomou a mão de Lydia e a levou para os seus lábios, beijando o seu dorso.
― O que você está planejando fazer? Seu
pervertido! – Lydia gritou em pânico.
― Nada, realmente. Desde que seu gato a
esteja protegendo.
Realmente,
valeu a penas se simpatizar com este bastardo frívolo, pensou Nico,
enquanto soltava um suspiro.
― Ei, Lydia! Trouxe alguns biscoitos. Vamos
tomar café da manhã.
Ela pegou o scone que ele atirou para ela,
com ambas as mãos, mas ainda olhava Edgar de forma suspeita.
― Pensei que você me odiava. Estou tão feliz
de vê-la novamente.
― Odeio você! Odeio mentirosos. E é por isso
que te odeio também.
― Mas, você decidiu que não me abandonaria.
― Isso porque eu sou uma fairy doctor e aceitei sua oferta de trabalho. No entanto, não é
como eu dissesse que te ajudarei a conseguir a espada do Cavaleiro Azul. Se os serianos
estão a protegendo, quero deixar bem claro, que está além de nosso alcance. Merrows
não são fadas más, mas são poderosos. E é meu trabalho como fairy doctor ensinar um ladrão
descuidado como você, que não acredita em fadas, que o que está fazendo é
inútil.
― Tomarei isso como a sua preocupação comigo.
― Mas com a minha política.
― Vamos trabalhar juntos para conseguir a
espada.
― Edgar, você está me ouvindo?
― Ah, você irá me chamar por este nome?
― Bem, mas esse é o seu verdadeiro nome, não
é?
― Você me faz tão feliz, Lydia!
Ele voltou ao que era antes. Lydia se
recostou quando ele segurou suas mãos.
― Você realmente não estava pensando em morrer,
não estava?
― Claro que não! – disse Nico.
― Estou vivo graças a você! Você salvou a
minha vida!
― Tudo bem! Agora me largue!
― Este homem talvez é mais problemático do
que um Merrow, murmurou Nico preocupado o que viria à frente.
*****
A guarda escocesa visitou a residência do
Professor Carlton em Londres logo após que ele pediu a ajuda de um policial
conhecido. A carta enviada pela sua filha Lydia data do dia que saiu de casa.
Porém, quando chegou o dia em que o navio desembarcou em Londres, ela não
apareceu. Ela não mandou nenhum aviso depois disso, o que o deixou preocupado.
Mesmo que ele tenha enviado uma carta para Escócia perguntando o que havia
ocorrido, não poderia ficar à espera de uma resposta. E recorreu à polícia para
trabalhar no caso.
De acordo com o policial que veio à sua casa
em Londres, não havia nenhum sinal de que ela teria usado a cabine do navio que
foi comprado sob o nome de Lydia Carlton. Tanto que no dia em que aquele navio
saiu do porto de Forth, testemunharam um homem, que se assemelhava ao ladrão
responsável pelo assalto à propriedade de Gossam, no mesmo porto, teria raptado
uma garota.
― Claro que isso não significa que sua filha
foi tomada. – acrescentou o policial.
― Então, há alguma notícia? Como o contato do
sequestrador ou uma nota do mesmo? Não faz mal que não seja algo direto, mas um
relatório de alguém suspeito ou algo a mais que você conseguiu?
― Nada aconteceu e não queremos que ocorra
nada. Isso porque entrei em contato com a polícia.
Mesmo Carlton, que normalmente era uma pessoa
calma, não conseguia parar de entrar em pânico, principalmente quando se trata
de sua única e preciosa filha. E há a possibilidade dela ter sido raptada por
um criminoso, algo terrível. Passou os dedos pelos cabelos, o que o fez
aparecer mais desarrumado.
― Então, se o sequestrador entrar em contato,
avisarei imediatamente.
― E se não fizer contato? Você não vai
começar a procurar minha filha agora?
― Por enquanto, estamos procurando rumores de
um ladrão e a busca é apenas dentro da Inglaterra. Pode ter acontecido que o
sequestrador tenha deixado o país e assim a conexão entre sua filha pode
desaparecer. Por favor, entenda que isso pode significar que a busca de sua
filha só se tornaria muito difícil.
Contado todo o procedimento, e depois que a
polícia foi embora, Carlton afundou no sofá, abaixou a cabeça sendo segurada
pelas mãos. Só depois de ter sido sacudido no ombro por seu assistente, que ele
saiu daquele estado vazio.
― Professor, o que aconteceu? Está doente?
― Ah, é você, Langley.
Carlton ergueu os óculos redondos, refletiu
por um momento e depois se levantou.
― Eu sei que não deveria ficar aqui
sentado... Minha filha pode ter sido sequestrada.
― O quê? Verdade?
― Por isso que vou procurá-la. Langley, vou
deixar meu trabalho para você.
― Espere um minuto, como vai procurar e onde?
― Vou verificar na minha residência na
Escócia, e, então, ...
Enquanto falava, ele entrou em seu quarto,
abriu uma mala e depois o armário. Ele começou a jogar as suas roupas.
― Não havia nenhuma palavra de sua casa,
certo? E você tem alguma pista para seguir?
― Não... Não há uma maneira que uma pessoa
poderia procurar o que a polícia não podia.
Carlton soltou os ombros e sentou-se na cama.
― Por favor, acalma-se. Mandarei a empregada
fazer um chá e vamos pensar juntos no que fazer.
Langley estava acostumado a lidar com o
professor. Sua filha descrevia Carlton como alguém totalmente desajeitado, além
de sua pesquisa e até mesmo seu assistente podia ver isso.
Seu corpo estava mais para delgado, e ele não
se importava com a roupa ou o penteado. Houve uma vez em que ele caminhava pelo
campus com um livro aberto, tropeçou, bateu em uma árvore e foi atacado por um
cão. No entanto, para seus alunos, isso não diminuía sua qualidade como
professor.
― Ah, sim! Você está certo. Perdoe-me por
entrar em pânico deste modo.
Assim que se acalmou um pouco, Carlton
refletiu que provavelmente não fosse
algo importante como um sequestro, ou mesmo, ela encontrou algum tipo de
problema que a fez esperar, e assim será tudo resolvido tranquilamente.
Lydia era uma filha que podia tomar conta de
si mesma, e, por esse motivo, não ficava tão preocupado em viver longe dela.
Após algum tempo, ele receberia notícias dela ou possivelmente ela estava perto
de chegar.
Mas...E se ela estivesse envolvida com algum
tipo de problema? Se fosse um ladrão, então, o sequestrador o contataria por
acaso. Até lá, ele não podia fazer nada. Ou se o sequestrador não estivesse
atrás de dinheiro e a estivesse usando como refém até que pudesse escapar? E
aí, ela seria libertada ou...
Quanto mais pensava, mais ficava apavorado. O
chá com conhaque não ajudou a tranquilizá-lo.
― O ladrão que invadiu a residência de
Gossam, não foi? Se isso for verdade, então temos realmente uma estranha
ligação, não é?
Com as palavras de seu assistente, Carlton
ergueu a cabeça.
― Que conexão?
― Bem, o senhor se lembra de que o Doutor
Gossam veio como convidado para universidade várias vezes? Ele veio perguntar
ao professor sobre um lendário tesouro.
Carlton foi professor de história natural,
mas especializou-se em minerais. Conhecia especialmente pedras preciosas e
joias, e atualmente catalogava não somente as que existiam no cotidiano, mas
também as que faziam parte do passado, bem como as que se encontravam em lendas
e sonhos. Por exemplo, a esmeralda que Alexandre acreditava ter lhe trazido
sucesso ou o rubi de Cleópatra, que foi responsável pela sua queda, e para
completar o misterioso cristal de Cassandra, o jaspe de Salomé e a iolita do
Rei Salomão.
Estas foram apenas uma tentativa de reunir em
uma lista as heranças milagrosas criadas pela natureza, e nada relacionado a
ocultismo, algo tão popular.
No entanto, periodicamente, ele recebia
estudiosos da área que lhe pediam informações. Carlton recordava-se do nome
Gossam, e era uma dessas pessoas. Assim, lembrou-se de que aquele viera
perguntar sobre a localização da lendária estrela de safira.
― Ah sim! Aquele cavalheiro que estava
interessado na pedra preciosa Merrow’s Star e se ela existia ou não.
― Você realmente acredita que ela exista?
― Bem, é uma lenda. No entanto, aparentemente
existe há mais de 300 anos. Diziam que houve um homem chamado Conde Ashenbert. Porém,
ele, bem, eu não sei, mas na história Conde Cavaleiro Azul de F. Brown diz que
foi deixado aos cuidados dos sereianos e desapareceu. Contam que esse livro é
pura ficção, então não há uma prova ou registro de que o conde permaneceu no
exterior e não retornou. Só que a pedra preciosa pode ter desaparecido junto
com ele. Por exemplo, se ele estava em um navio que afundou, ela pode estar no
fundo do oceano. Foi uma criação romântica de que os sereianos têm a ver com
isso.
― Mas, isso poderia estar relacionado com o
desparecimento de Lydia? O ladrão que invadiu a casa de Gossam pode ter ido
atrás de Lydia?
No momento em que ele começava a criar uma
correlação com as situações, a empregada fez outro anúncio.
― O senhor tem uma visita que se diz que é o
filho de mister Gossam.
― O quê?
O professor saiu correndo da sala e foi
recepcionar pessoalmente o visitante. O homem se apresentou como o terceiro
filho do doutor Gossam, e após se sentar no sofá da sala, contou:
― O senhor já ouviu que meu pai foi baleado
por um ladrão e está no hospital? De fato, vim lhe informar, professor, que
esse incidente está relacionado a algo muito importante para o senhor.
― É sobre a estrela dos sereianos?
O terceiro filho se mostrou surpreso, porém,
rapidamente, o seu semblante se modificou, assentindo.
― O bandido não estava atrás de dinheiro, mas
estava interessado na estrela dos sereianos. Nosso pai continuou a procura pela
joia com as informações que o senhor passou para ele. E, finalmente, isso o
induziu até o enigma misterioso inscrito na moeda de ouro do conde. Ele
acredita que aí foi apontado o seu esconderijo, mas isso também foi tomado pelo
ladrão. O enigma continha nomes de várias fadas, e ninguém sabia o significado
por trás deles. A partir daí, meu pai buscava alguém que conhecesse as fadas,
professor. Ele soube que sua falecida esposa era uma fairy doctor.
Oh, não!, pensou Carlton,
enquanto apertava seus punhos suados.
― Então, meu pai descobriu que sua filha
tinha se tornado uma fairy doctor e
estava prestes a pedir sua ajuda.
― Ah, me lembro! – interrompeu Langley. ―
Conheci senhor Gossam coincidentemente quando viajava, e fui questionado sobre
a filha do professor.
― E você disse a ele que Lydia era uma fairy doctor.
― Bem, sim. Mas, foi algo que surgiu durante
o bate-papo... Contudo, a última vez que conheci sua filha foi há alguns anos,
e, por isso, mesmo que me perguntassem a sua descrição só me lembrava da cor do
cabelo dela era enferrujado. – respondeu Langley, como pedisse desculpas.
Mesmo que seu aprendiz tenha dito isso, não
era como Carlton escondesse a sua filha, e não era o momento de culpá-lo.
― Não, Langley, não se sinta culpado. E,
então, o que você me diz é que o ladrão também descobriu sobre a minha filha?
― Infelizmente, sim. Portanto, há a
possibilidade de sua filha estar nas mãos desse criminoso.
― Ah, sim. Isso me foi dito pela polícia
também.
Dando um suspiro pesado, Carlton abaixou a
cabeça. Era a pior situação. O terceiro filho apertou as sobrancelhas.
― Entendo. Mas, você não pode confiar na
polícia. Atualmente, meu irmão mais velho tem publicado em jornais de todo o
país a descrição do ladrão. E ofereceu uma recompensa para obter qualquer
informação. E por esse motivo gostaríamos de pedir-lhe sua ajuda, professor.
― Farei o que puder.
― Há relatos de testemunhas de que sua filha
e o ladrão tenham entrado em um trem a vapor para Scarborough. Se ela foi
ameaçada pelo bastardo para encontrar a joia, então, é provável de que sua
filha esteja indo para essa direção?
― No entanto, não sou familiarizado com as
fadas como a minha filha.
― Você sabe muito mais do que nós. E o mais
importante, a segurança de sua filha está em jogo.
Como ele exatamente disse, o terceiro filho
lhe mostrou uma papel impresso com o enigma e um mapa. Ele informou que o mapa estava marcado com
lugares relacionados com o Conde Ashenbert de 300 anos atrás, e a estrela
Merrow. Para onde teria ido se fosse sua filha?
― Então, professor, gostaríamos de lhe pedir
que nos acompanhasse para salvar sua filha.
― Claro que vou! Você vai sair agora?
― Sim, imediatamente.
― Vamos! Discutiremos na carruagem.
Foi a primeira vez que seu aprendiz Langley
testemunhou Carlton tomando uma decisão tão rápida que não fosse seu trabalho.
Nota da tradutora: Ah, como
adoro essa cena! Tem coisa mais fofa a interação desses dois? Aposto e ganho
que você ficou derretido (a). Você pode comparar a riqueza de detalhes do
nascimento de um relacionamento entre os dois. O bacana aqui é que Lydia fica
balançada, mas não arreda o pé e não continua não confiando em Edgar. Agora,
caiu a ficha dele que não dá para manipulá-la com facilidade como outras
mulheres. Lydia parece ingênua... Mas só parece J
Na parte “(...) Ainda que
ela era encarada como um changeling
de uma fada (...)” cabe aqui explicar que na mitologia celta diz que havia
fadas que trocavam bebês humanos por sua prole. Ou seja, na verdade, os pais
acabavam criando fadas, em vez de crianças.
Bom, é isso! O próximo
capítulo 4 sai na primeira quinzena de maio. Ou antes... vamos ver!
Nos dê suporte! E divulgue!
Beijos e até mais!
3 comentários:
O passado do Edgar é tão misterioso! Espero descobrir mais sobre ele essa vez!
Seu trabalho tá um arraso, menina! Muito obrigada!
Olha... nem vou te adiantar para não estragar... Mas, a gente descobre coisas... Que caramba! Chega a ter mais dó dele do que o Ciel. Deixa chegar no livro 5! Tu vai ficar de boca aberta!!!
Bjs e obrigada por nos prestigiar!
OMG, você está me deixando curiosíssima!
O pouco que descobri no mangá já me deixou na fossa! hahaha
Mal posso esperar por esse livro 5!
Beijos, e muito obrigada por tudo!
Postar um comentário