domingo, 10 de fevereiro de 2013

Tarantino Livre


TarantinoQuem diria que aquele atendente de videolocadora em Manhattan Beach, L.A., nos anos 80 iria se tornar um dos roteiristas e diretores mais célebres do cinema e ser seguido por milhares de fãs? Estou falando de Quentin Tarantino.
A cada lançamento de seus filmes vira algo épico. Isso porque, mesmo com mais de 20 anos de “estrada”, Quentin está em seu 7o filme. Quem acompanhou a trajetória desse mestre (porque não tem outro adjetivo para defini-lo) viu que ele pode nos entregar pérolas como “Cães de Aluguel”, “Pulp Fiction”, “Kill Bil I e II”. Apesar de algumas derrapadas em sua estrada, como “Grande Hotel” e “Jackie Brown”, o moço faz bonito (e muito) em seu novo trabalho. O filme em questão é glorioso “Django Livre”. Aqui, Tarantino deita e rola na fonte do western spaghetti. Muitas câmeras indo e voltando, enquadramentos de cair queixo, figurinos, cenografia, vilões, mocinhas, heróis e anti-heróis. Você chega a pensar que a qualquer momento, o Giulianno Gemma irá aparecer por ali. Mas engano seu… você se esqueceu que está assistindo a um filme de Tarantino?
A trajetória de Django
A história é a seguinte: Em uma noite fria do sul dos EUA, em uma época próxima à Guerra da Secessão, o Dr. King Schultz se depara com Django, um escravo tímido, mas que se torna  passaporte para um dos seus “trabalhos”… afinal, Schultz é um caçado de recompensas e Django conhece duas de suas “vítimas”. De “trabalho” em “trabalho”, Django conta que seu objetivo é resgatar sua mulher, Broomhilda. Mais tarde, eles descobrem que ela está em Candyland, terras do maligno Calvin Candie. E daí, os dois partem para fazenda de Candie, a fim de resgatar Broomhilda. Porém, não vai ser nada fácil….Django-Livre-Christoph-Waltz-e-Jamie-Foxx-26abr2012-02
django em açãoEstamos em frente a um dos trabalhos mais corajosos e profundos de Tarantino. É um filme cheio de referências, algo que não é novidade nenhuma para quem é fã de Tarantino. Mas aqui, o cineasta encara o western do começo ao fim (ele só tinha flertado em Kill Bill I e II), basea-se na mitologia nórdica (no caso da personagem Broomhilda) e ainda homenageia um filme do mesmo nome, Django, produzido em 1966 com Franco Nero, que aliás, faz uma participação mais que especial.
DjangoO roteiro é mais linear que os outros trabalhos de Tarantino. O cineasta deixa a questão de “brincar” com tempo, e sim, concentra-se em trabalhar mais a evolução da personalidade de Django. Ele começa como um escravo tímido que aos poucos vai tomando confiança e autoestima para ir em busca de sua amada com a mesma coragem de Sigurðr, personagem da mitologia nórdica que resgata a valquíria, Brynhildr. Cito essa história porque a esposa de Django, Broomhilda (interpretada por Kerry Washington, muito bem por sinal) tem o seu nome oriundo da mitologia citada. Quem interpreta Django (com D mudo, por favor XD) é Jamie Foxx. Ele ficou conhecido mundialmente no filme Collateral, mas ganhou notoriedade em Ray, filme que conta a biografia de Ray Charles. Foxx nos dá uma interpretação que começa contida, mas conforme o filme flui, ele chega a ser visceral. Não tem como não torcer por Django.
Dr. SchultzQuem ajuda Django na busca de sua Broomhilda é o Dr. King Schultz, misto de mascate, dentista, mas sua real ocupação é ser um caçador de recompensas. Sabe aquele cara fora da lei, mas gente boa e com sempre tem uma fina ironia na ponta da língua? Esse é o Schultz! Ele é interpretado pelo sublime Christoph Waltz. Quem assistiu Bastardos Inglórios, sabe do que esse austríaco é capaz. Ele que interpretou o perverso e assustador Cel. Hans Landa e aposto que depois desse filme, você nunca mais encarou strudel da mesma maneira. Aqui Waltz é tão cínico quanto Landa, mas enquanto o coronel falava tudo que os outros deveriam fazer, Schultz dá o livre-arbítrio a cada personagem que cruza o seu caminho, menos Calvin Candie, que aí é outra história… Tem cenas gloriosas com Waltz como a da Saloom (não, não vou contar porque perde a graça), da forma que ele resolve uma emboscada de um grupo tão tiranico como a Ku Klux Klan, entre outras. Outro detalhe bacana é que toda vez que Schultz se apresenta a alguém, ele também menciona seu cavalo, que educamente faz uma referência. Já comentei com meus amigos que encaro Waltz como uma Audrey Hepburn austríaca, de calças, elegante e um humor fino e perverso. Sou muito fã desse cara.
Calvin candieAgora, imagina que você precisa resgatar alguém, em um lugar nada auspicioso e chamado ironicamente de Candyland (que traduzindo seria algo como Terra dos Doces Smiley surpreso). E “chefão” do lugar adora patrocinar lutas entre escravos com a mesma ingenuidade de uma rinha de galos (se é que dá para ser ingênuo assistir uma rinha de galos, né?). Pois é, e esse cara é Calvin Candie. A primeira cena que ele aparece, dá vontade de soltar um alto e bom fdp! Adivinha quem está por trás de Candie? Sim, ele mesmo… Leonardo di Caprio. Esqueça aquele Jackie chato de Titanic e dê uma chance para o rapaz. Afinal, di Caprio tem evoluído e mostrado um talento voraz nos últimos filmes (quem assistiu a A Origem sabe do que estou falando). Ele nos dá um dos personagens mais controversos de Tarantino. Enquanto que Bill (de Kill Bill) foi movido por ciúmes, Calvin é movido pela ganância, pelo preconceito tão arraigado em sua alma, assim como preservar tradições tão mesquinhas, que hoje em dia não tem cabimento.
Antes de terminar queria fazer uma menção honrosa a Samuel L. Jackson como o empregado de Calvin Candie, Stephen. Ele é extremamente irritante, lembrando muito um papagaio de pirata, mas com truques guardados na manga, como os bons vilões de anime (aliás, você sabia que o Samuel curte animes? XD Pois é, ele é otaku e nem sabe!). E seguindo os passos de Hitchcock, o próprio Tarantino dá o ar das graças no filme em uma aparição rápida, divertida e marcante.
Não esqueça ir descansado Anjo, alimentadoAnjo e ter ido no banheiro antes da exibição, porque o filme é longo, por volta de 2 horas e quarenta e cinco minutos. Agora, compre sua pipoca e refrigerante e esbalde! Ah, ressaltando, Django Livre concorre em 5 categorias no Oscar. Quem sabe a Academia se moderniza um pouco, né?
Deixo com vocês, o trailer de Django Livre:

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