sábado, 25 de dezembro de 2010

A Tríade Sagrada da ZL: Toco, Overnight & Contramão

Quando se fala sobre a Zona Leste, o que te lembra? Metrô lotado? Praxe! Parque São Jorge, Corinthians? Hum...novidade... Um amontoado de gente por todos os lados?
Bem, enfim...sem contar que os primeiros indícios de greve, enchente, problemas nas linhas da CPTM ou Metrô é quase uma rotina. Mas apesar de tudo isso, nada e ninguém consegue tirar o ar de festeiros que os moradores da famosa ZL têm.
Digo isso, porque aqui, estabeleceram-se três casas... três lugares que deixariam qualquer casa noturna da Vila Olímpia ou do Jardins com inveja. Não só pelo público, mas pelo clima, agitação e alegria. Três casas que quando são ditas, ainda hoje, despertam nostalgia, saudades e com certeza, respeito. São elas: Toco, Overnight e Contramão.
Agora, você vai conhecer a vida dessas três casa que fizeram a história e, sem dúvida, influenciaram gerações na região da Zona Leste.

Toco

Vila Matilde, 1972. Nascia uma Mega Danceteria, um sonho realizado de empresários que animavam bailes de formatura. O salão abrigava uma pista gigantesca, mezanino e lógico uma pirotecnia de luzes e sons que nunca se tinha visto na região da Zona Leste.
Localizada na frente de uma pracinha, era muito comum, a agitação começar já do lado de fora. Eram carros passando para lá e pra cá, pessoal comendo cachorro quente ou “esquentando os motores” com algumas doses de cuba-libre servidas em barraquinhas improvisadas.
Mesmo tendo capacidade para 4 mil pessoas, era comum a Toco ainda deixar gente de fora. Mas quem se importava? Afinal, a casa tinha um poder tão contagiante que mesmo assim a festa se estendia até na rua.
A casa presenciou o surgimento da Disco Music, nos anos 70 acolheu shows como Queen e KC & The Sunshine Band. Mais tarde, no final dos anos 80, recepcionou com honras o nascimento da House Music, e aí vieram apresentações de Information Society e Technotronic.
Eu mesma fui uma de suas assíduas frequentadoras, nas famosas matinês de domingo... Lá dancei ao som de Noel, S-Express e tantos outros... Como minha mãe não gostava muito que fosse nesses lugares, inventava a desculpa que iria estudar...sei, e que estudo de dança, hein?
Nos anos 90, a Toco foi pioneira em acolher um novo tipo de som, o Jungle. Pois é, o Jungle é percussor da tão famosa Drum´n´Bass. Foi lá que Dj Marky apareceu pela primeira vez e aí surgiu os primórdios da música eletrônica brasileira.
A casa fechou em 1997, deixando milhares de órfãos na região e uma saudade infinita.

Overnight

1988, Mooca, Rua Juvenal Parada. O empresário Carmo Crunfli e alguns sócios fundaram a casa que seria por excelência, berço de vários DJs do cenário da música eletrônica brasileira, a Overnight.
O forte da Over (para os íntimos) foi a House Music, apesar de tocar todos os estilos. Sua decoração era pra lá de requintada: chão carpetado (menos a pista), paredes espelhadas, jogo de luzes e um bar que deixava qualquer um de boca aberta. A tecnologia de som e iluminação da casa sempre foi de última geração.
Na casa passaram os DJs: Mau-Mau, o mestre Patife, Renato Lopes, Sasha, sem contar o maravilhoso Grace Kelly Dum e o mágico Andy.
O encerramento das atividades aconteceu em 2004, com uma festa pra lá de animada e comandada pelo DJ Andy. Apesar de ter sido alto astral, a tristeza pairava no ar e a Mooca ficou de luto.

Contramão

Tatuapé, Rua Coelho Lisboa, 1980. Nascia uma casa com conceito onde dançar era além de mexer o esqueleto. Estamos falando da Contramão.
Ela não era tão grande como a Toco, mas a energia, a vibração e o agito eram no mesmo nível.
O ponto de encontro era a Praça Silvio Romero, depois, o pessoal ia seguindo pela Coelho Lisboa rumo a uma das matinês mais animadas de São Paulo. Lá, o bicho pegava! Quem não se lembra dos passos “chicotinho”, “pula-vira” tão famosos no final dos anos 80? Foi na Contramão que eles foram criados.
O bacana da casa é que os DJs ficavam numa cabine como fosse um globo todo recortado bem no centro da pista. E que loucura eram aqueles luzes. E quando o DJ dava os primeiros acordes de “Silent Morning” do Noel durante “Blue Monday” do New Order? A casa quase vinha abaixo!
Mas infelizmente, em 1992, a Contramão diz adeus e fecha as suas portas.

A saudade era tanta que no meio dos anos 2000, uma turma de malucos reúnem-se para promover revivals recordando justamente o clima dessas três casas.
Uma vez por mês, os órfãos dessas três casas encontram-se para matar a saudades dos velhos tempos. Geralmente, o ponto de encontro é no Cabral, uma casa que fica entre a região do Tatuapé e Belenzinho.
Mas também já aconteceram festas nas próprias casas como na Toco e na Contramão. Aliás, a Toco reabriu com outro nome e para um público totalmente diferente. A Contramão, hoje é Aldeia do Taco. No revival que aconteceu lá, era gritante a comparação do público que veio ao revival do que atual pessoal que frequenta a casa: acostumados com o irritante Psy, que não faz dançar e pior, dá uma dor de cabeça horrível!
No Cabral, cada pista é dedicada a um tipo de música: anos 70 e 80, flash house e undergound. Aliás, a minha preferida é a Underground. Quando Grace Kelly Dum, Andy, Barney e Marky estão no comando, parece que você é transportado ao bom e velho tempo dos clubbers, cybermanos, Mercado Mundo Mix e todo movimento do paz, união e respeito.
Mas o revival mais inesquecível foi o que aconteceu no dia 15 de maio de 2010 na antiga Toco. Apesar de ter recebido uma pintura mais escura, o espaço ter diminuído, a Toco continua a mesma...Linda, leve, brincalhona e acolhedora. O mesmo clima de festa, paz e união estava lá!
Lembro-me que quando entrei na casa, estava tocando “Never Gonna Give You Up”, do Rick Astley. O pessoal fazendo passinho, o jogo de luzes, a energia, a vibração. Pensei: “É, Toco, você não morreu, vai viver para sempre em nossas memórias e corações”.
Sem contar, que no finalzinho da festa (para quem pôde ficar), quem discotecou foi o monstro DJ Ricardo Guedes, que nos deixou um mês depois...E ainda me lembro que ajoelhei e o reverenciei.
Pois é... quem as frequentou sabe que em nenhum região da capital paulistana acolhe (ou acolheu) três casas mágicas como essas. Por isso mesmo, chamo-as de tríade sagrada da ZL.
Para dar um gostinho aí vai um trecho do vídeo comemorativo das casas. E que a festa continue!

A Tríade Sagrada da ZL: Toco, Overnight & Contramão

Quando se fala sobre a Zona Leste, o que te lembra? Metrô lotado? Praxe! Parque São Jorge, Corinthians? Hum...novidade... Um amontoado de gente por todos os lados?
Bem, enfim...sem contar que os primeiros indícios de greve, enchente, problemas nas linhas da CPTM ou Metrô é quase uma rotina. Mas apesar de tudo isso, nada e ninguém consegue tirar o ar de festeiros que os moradores da famosa ZL têm.
Digo isso, porque aqui, estabeleceram-se três casas... três lugares que deixariam qualquer casa noturna da Vila Olímpia ou do Jardins com inveja. Não só pelo público, mas pelo clima, agitação e alegria. Três casas que quando são ditas, ainda hoje, despertam nostalgia, saudades e com certeza, respeito. São elas: Toco, Overnight e Contramão.
Agora, você vai conhecer a vida dessas três casa que fizeram a história e, sem dúvida, influenciaram gerações na região da Zona Leste.

Toco

Vila Matilde, 1972. Nascia uma Mega Danceteria, um sonho realizado de empresários que animavam bailes de formatura. O salão abrigava uma pista gigantesca, mezanino e lógico uma pirotecnia de luzes e sons que nunca se tinha visto na região da Zona Leste.
Localizada na frente de uma pracinha, era muito comum, a agitação começar já do lado de fora. Eram carros passando para lá e pra cá, pessoal comendo cachorro quente ou “esquentando os motores” com algumas doses de cuba-libre servidas em barraquinhas improvisadas.
Mesmo tendo capacidade para 4 mil pessoas, era comum a Toco ainda deixar gente de fora. Mas quem se importava? Afinal, a casa tinha um poder tão contagiante que mesmo assim a festa se estendia até na rua.
A casa presenciou o surgimento da Disco Music, nos anos 70 acolheu shows como Queen e KC & The Sunshine Band. Mais tarde, no final dos anos 80, recepcionou com honras o nascimento da House Music, e aí vieram apresentações de Information Society e Technotronic.
Eu mesma fui uma de suas assíduas frequentadoras, nas famosas matinês de domingo... Lá dancei ao som de Noel, S-Express e tantos outros... Como minha mãe não gostava muito que fosse nesses lugares, inventava a desculpa que iria estudar...sei, e que estudo de dança, hein?
Nos anos 90, a Toco foi pioneira em acolher um novo tipo de som, o Jungle. Pois é, o Jungle é percussor da tão famosa Drum´n´Bass. Foi lá que Dj Marky apareceu pela primeira vez e aí surgiu os primórdios da música eletrônica brasileira.
A casa fechou em 1997, deixando milhares de órfãos na região e uma saudade infinita.

Overnight

1988, Mooca, Rua Juvenal Parada. O empresário Carmo Crunfli e alguns sócios fundaram a casa que seria por excelência, berço de vários DJs do cenário da música eletrônica brasileira, a Overnight.
O forte da Over (para os íntimos) foi a House Music, apesar de tocar todos os estilos. Sua decoração era pra lá de requintada: chão carpetado (menos a pista), paredes espelhadas, jogo de luzes e um bar que deixava qualquer um de boca aberta. A tecnologia de som e iluminação da casa sempre foi de última geração.
Na casa passaram os DJs: Mau-Mau, o mestre Patife, Renato Lopes, Sasha, sem contar o maravilhoso Grace Kelly Dum e o mágico Andy.
O encerramento das atividades aconteceu em 2004, com uma festa pra lá de animada e comandada pelo DJ Andy. Apesar de ter sido alto astral, a tristeza pairava no ar e a Mooca ficou de luto.

Contramão

Tatuapé, Rua Coelho Lisboa, 1980. Nascia uma casa com conceito onde dançar era além de mexer o esqueleto. Estamos falando da Contramão.
Ela não era tão grande como a Toco, mas a energia, a vibração e o agito eram no mesmo nível.
O ponto de encontro era a Praça Silvio Romero, depois, o pessoal ia seguindo pela Coelho Lisboa rumo a uma das matinês mais animadas de São Paulo. Lá, o bicho pegava! Quem não se lembra dos passos “chicotinho”, “pula-vira” tão famosos no final dos anos 80? Foi na Contramão que eles foram criados.
O bacana da casa é que os DJs ficavam numa cabine como fosse um globo todo recortado bem no centro da pista. E que loucura eram aqueles luzes. E quando o DJ dava os primeiros acordes de “Silent Morning” do Noel durante “Blue Monday” do New Order? A casa quase vinha abaixo!
Mas infelizmente, em 1992, a Contramão diz adeus e fecha as suas portas.

A saudade era tanta que no meio dos anos 2000, uma turma de malucos reúnem-se para promover revivals recordando justamente o clima dessas três casas.
Uma vez por mês, os órfãos dessas três casas encontram-se para matar a saudades dos velhos tempos. Geralmente, o ponto de encontro é no Cabral, uma casa que fica entre a região do Tatuapé e Belenzinho.
Mas também já aconteceram festas nas próprias casas como na Toco e na Contramão. Aliás, a Toco reabriu com outro nome e para um público totalmente diferente. A Contramão, hoje é Aldeia do Taco. No revival que aconteceu lá, era gritante a comparação do público que veio ao revival do que atual pessoal que frequenta a casa: acostumados com o irritante Psy, que não faz dançar e pior, dá uma dor de cabeça horrível!
No Cabral, cada pista é dedicada a um tipo de música: anos 70 e 80, flash house e undergound. Aliás, a minha preferida é a Underground. Quando Grace Kelly Dum, Andy, Barney e Marky estão no comando, parece que você é transportado ao bom e velho tempo dos clubbers, cybermanos, Mercado Mundo Mix e todo movimento do paz, união e respeito.
Mas o revival mais inesquecível foi o que aconteceu no dia 15 de maio de 2010 na antiga Toco. Apesar de ter recebido uma pintura mais escura, o espaço ter diminuído, a Toco continua a mesma...Linda, leve, brincalhona e acolhedora. O mesmo clima de festa, paz e união estava lá!
Lembro-me que quando entrei na casa, estava tocando “Never Gonna Give You Up”, do Rick Astley. O pessoal fazendo passinho, o jogo de luzes, a energia, a vibração. Pensei: “É, Toco, você não morreu, vai viver para sempre em nossas memórias e corações”.
Sem contar, que no finalzinho da festa (para quem pôde ficar), quem discotecou foi o monstro DJ Ricardo Guedes, que nos deixou um mês depois...E ainda me lembro que ajoelhei e o reverenciei.
Pois é... quem as frequentou sabe que em nenhum região da capital paulistana acolhe (ou acolheu) três casas mágicas como essas. Por isso mesmo, chamo-as de tríade sagrada da ZL.
Para dar um gostinho aí vai um trecho do vídeo comemorativo das casas. E que a festa continue!